Caruaru é conhecida como a terra do barro e a
terra de mestre Vitalino.
Vitalino foi o grande mestre que transformou barro - que antes era brinquedo e
ferramenta doméstica - em arte.
O Alto do Moura em Caruaru é o maior centro de
Artes Figurativas da América, e um dos filhos do Alto do Moura, discípulo de
Vitalino e mestre da cerâmica era mestre Galdino.
Manuel Galdino de Freitas, conhecido como
Mestre Galdino, nasceu em 19/Agosto/1924,
em São Caetano da Raposa. Chegou em Caruaru em
1937, onde encontra Marcionila Maria de Freitas (mais
conhecida como Maria Rendeira) com quem veio a se casar no ano de 1940, e teve
3 filhos: Antônio, Jocial e Joel, todos ceramistas.
Galdino trabalhou como pedreiro em Caruaru
e conheceu a arte do barro na década de
70, vendo as obras de mestre Vitalino, Zé Caboclo e Zé Rodrigues.
“Galdino é bonequeiro
e sou poeta também
tem boneco em minha casa
que bonequeiro não tem
na arte só devo a Deus
lição não devo a ninguém.”
Já na década de 80, Galdino participa da obra
teatral de Vital Santos “O Auto das 7 Luas de Barro” que conta a vida e a obra
de Vitalino. Na peça, os monstros de Galdino se transformam nos sonhos de
Vitalino (Babau, Jericó, e Lobisomem). Essa peça recebe vários prêmios e ajuda
a divulgar as peças de Galdino, mas só em 1986 que Galdino se auto intitula
poeta e ceramista.
“Manda bater o sino
Babau, Jericó, Lobisomem
Para acordar esse homem
Que dorme feito um menino”
(“Acalanto” - música de Jadilson Lourenço, que faz parte da peça de Vital de
Santos)
Galdino é considerado mestre por ter inovado ,
criado um estilo diferente de se fazer arte na cerâmica. A obra de Galdino se
caracteriza basicamente por suas peças retratando cangaceiros e as figuras
fantásticas-surrealistas, muito particular da cultura popular nordestina.
Em 1990, morre Maria Rendeira, e Galdino faz
um verso:
“Em sonho fui até o céu
Lá conversei com Maria
Quem não sonha como Galdino
Morre danado e não cria”
A cada peça, Galdino fazia um verso atrelado, e uma
das peças mais famosas de Galdino é o “Mané Pãozeiro”, inspirado em um primo
dele que era padeiro (conhecido como “Mané Padeiro”).
Mané Pãozeiro |
O verso atrelado essa obra é o texto mais
famoso de Galdino que se chama “Se Cria Assim”
“Quem cria tem que dormir
Pensar bem no passado
De tudo ser bem lembrado
Girar o juízo como louco
Ter a voz como um pipoco
Ter o corpo com energia
Ler o escudo do dia
Conservar uma oração
Fazer sua oração
Ao deus da puizia.
Deve dormir muito cedo
Muito mais cedo acordar
Muito mais tarde sonhar
Muito afoito e menos medo
Muito honesto com segredo
Muito menos guardar
Muito mais revelar
Pra ter mais soberania
Muito poucas covardia
Não dormir para sonhar”
Esse texto inclusive foi musicado pelo Sangue
de Barro, banda caruaruense do final da década de 90, numa música do 1º disco
que se chama “Se Cria Assim”.
Galdino tinha várias outras peças como o Lampião-sereia,
Carranca, cangaceiros, e outros.
Em 25/Maio/1996 falece Galdino por
complicações cardíacas e deixa para o Alto do Moura e Caruaru sua contribuição
para a arte e a história cultural da cidade, como um dos mais importantes
escultores atuantes no país.
Em sua homenagem, se construiu o Memorial
Mestre Galdino, lá no Alto do Moura (fica quase na frente do bar de Juscelino),
no qual tem obras, textos e histórias sobre o mestre Galdino.
Mestre Galdino é um dos maiores mestres da
cultura popular do país e da história das artes em cerâmica do país. É um nome
que jamais deve ser esquecido da história de Caruaru.
“Sou um velho ceramista
Faço repente também
A minha dignidade
Eu não dou por dez vintém
No mundo eu tenho um valorzinho
Que nem todo careta tem.”
Referências:
VITORINO, Rosângela Ferreira de Oliveira.
Mestre Galdino: O Ceramista poeta de caruaru.
Nenhum comentário:
Postar um comentário