19/09/18

Cordel e outros cinco bens podem se tornar patrimônio cultural do Brasil


O Brasil pode ganhar, hoje (19) e amanhã (20), seis novos patrimônios culturais. Em reunião no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural vai avaliar os registros da literatura de cordel, da Procissão do Senhor dos Passos, em Florianópolis (SC), e do Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira (SP) e os tombamentos do Acervo Arthur Bispo do Rosário e dos terreiros de candomblé Ilê Obá Ogunté Sítio Pai Adão, em Recife (PE), e Tumba Junsara, em Salvador (BA).
 
Apesar de ter começado no Norte e no Nordeste do país, o cordel hoje é disseminado por todo o Brasil, principalmente por causa do processo de migração de populações. Em todo o país, é possível encontrar esta expressão cultural, que revela o imaginário coletivo, a memória social e o ponto de vista dos poetas sobre acontecimentos vividos ou imaginados. A Literatura de Cordel no Brasil é o resultado de uma série de práticas culturais em que os cantos e os contos constituem as matrizes para uma série de formas de expressão. Na formação da cultura brasileira, da qual a literatura de cordel faz parte, tanto indígenas quanto africanos e portugueses adicionaram práticas de transmissão oral de suas cosmologias, de seus contos e de suas canções. A avaliação do cordel será nesta quarta-feira.  
O tombamento do acervo do sergipano Arthur Bispo do Rosário também será avaliado nesta quarta-feira. Com uma vida repleta de mistérios, o artista ganhou destaque no universo da arte contemporânea sem querer. Seguindo as vozes que o ordenavam a reconstruir o mundo, deu início a suas obras, produzidas sem o propósito de serem consideradas culturais e que geraram debates sobre os limites entre a arte e a loucura. A coleção principal é formada por 805 peças, entre elas estandartes, indumentárias, vitrines, fichários, móveis, objetos (recobertos com fio azul ou não) e vagões de espera. O acervo é composto por peças elaboradas em diversos materiais, como vidro, madeira, plástico, tecidos, linhas, botões, gesso, e diversos itens recolhidos do lixo e da sucata. 
A Procissão do Senhor dos Passos, da Igreja Católica, é realizada em Florianópolis (SC) há 250 anos e reúne em média 60 mil fiéis. Com duração de uma semana, sempre 15 dias antes da Páscoa, a celebração é marcada por momentos simbólicos, entre eles a Procissão do Encontro, o ápice ritual que encena a Paixão de Cristo e tem como momento máximo o sermão que marca o encontro entre o Cristo e sua mãe, na quarta estação da Via Crucis. A história da Procissão tem início com a chegada da imagem à cidade, então vila de Nossa Senhora do Desterro, em 1764. O registro será avaliado nesta quinta-feira.
Desde o período colonial, o rio Ribeira do Iguape, no estado de São Paulo, viu o cultivo de mandioca, milho, feijão e arroz tornar-se o eixo estruturante do modo de vida de comunidades quilombolas que se instalaram nas suas margens. Esse modo de fazer roça e os bens culturais a ele associados integram o Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira, cujo registro como patrimônio imaterial será avaliado nesta quinta-feira. Entre o apogeu e a decadência da exploração do ouro, foi a agricultura de subsistência que permitiu a permanência dos grupos afrodescendentes nos vales e montanhas da região. Muito além de uma atividade econômica, o plantar e colher estabeleceu as trocas com a natureza, os laços de parentesco e compadrio, a fabricação de materiais para o uso diário, a expressão do divino e as manifestações religiosas, de música e dança, transmitidos entre as sucessivas gerações que ali moraram.  
 
Um dos primeiros terreiros de Xangô em Pernambuco foi o Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão. A casa possui uma relevância histórica para compreensão das religiões de matrizes africanas no Brasil. O nome é homenagem a um de seus sacerdotes: Pai Adão, um dos maiores propagadores do nagô pelo Recife, que ajudou a fundar outros terreiros e tornou-se referência na cidade. Em função disso, Pai Adão gozava de grande estima e respeito da parte dos intelectuais que pesquisavam sobre os Xangôs de Pernambuco.  
Legado, resistência e religiosidade compõem a essência do Terreiro Tumba Junsara, em Salvador (BA), que está entre os mais antigos de tradição Angola no Brasil. Fundado em 1919 pelos irmãos Manoel Rodrigues e Ciriaco, o Terreiro de candomblé faz da milonga (mistura) um caminho para manter suas referências culturais. Uma característica da Nação Angola, por exemplo, é a presença de um culto específico em reverência aos ancestrais indígenas. O tombamento dos dois terreiros será avaliado na quinta-feira.

Sobre o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural  

O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural é o órgão colegiado de decisão máxima do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), instituição vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), para as questões relativas ao patrimônio material e imaterial. São 26 conselheiros que representam os ministérios da Educação, das Cidades, do Turismo e do Meio Ambiente, o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.

Serviço:

Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Data: 19 e 20 de setembro de 2018, a partir das 9h
Local: Forte de Copacabana
            Praça Coronel Eugênio Franco, 1 - Posto 6
            Copacabana, Rio de Janeiro - RJ

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