20/03/19

Em prosa e verso - Artesãos: mãos que dão forma ao Belo por Jénerson Alves


A palavra ‘artesão’ tem origem no latim (ars) - que deu origem a ‘arte’. Historiadores apontam que esta prática remete ao período neolítico, também conhecido como Idade da Pedra Polida, ocorrido entre 8000 e 5000 a.C. e marcado pela sedentarização do homem, com o desenvolvimento da agricultura, do pastoreio e também da confecção de peças de cerâmica e de tecelagem.

De acordo com a Bíblia, a origem do artesanato é ainda mais nobre. O livro de Êxodo relata que este dom é advindo do próprio Senhor Deus. No versículo 06 do capítulo 31, o Eterno diz: “Capacitei todos os artesãos para que executem tudo quanto tenho orientado para realizar”.

Após a Revolução Industrial, esta atividade passou a ser fortemente desvalorizada. Entretanto, após a segunda metade do século XIX, foi possível perceber um retorno à valorização deste tipo de obra.

Pernambuco tem uma vasta produção de artesanato. Cestaria, trançados, bordados, rendas, cerâmica, couro, tecelagem, madeira, metal e tapeçaria são alguns dos principais ramos dessa produção. Porém, sem dúvida, o Alto do Moura, em Caruaru, merece atenção especial em todo este universo.

Mais de 600 artesãos vivem da arte do barro no Alto do Moura. O início desta vasta produção é em 1948, com a introdução dos trabalhos do Mestre Vitalino. Os discípulos do Mestre ainda hoje seguem as pegadas de Vitalino, produzindo obras que representam o cotidiano popular.

O consultor cultural Walmiré Dimeron costuma relembrar que Vitalino é reverenciado no mundo todo como mentor do conceito de Arte Popular. Com essa ótica, as obras de Vitalino são apreciadas em pé de igualdade com a concepção de nomes como o artista plástico Cândido Portinari e o pintor espanhol Pablo Picasso.

É possível, contudo, perceber diversas estéticas imersas no Alto do Moura. A artesã Marliete Rodrigues, por exemplo, produz peças em miniaturas, de certa forma transformando os mais diversos personagens do imaginário popular em uma espécie de habitantes da fictícia ilha de Liliput, do romance As Viagens de Gulliver, de Jonatan Swift. Manoel Galdino produzia peças que entravam em consonância com as mais diversas linhas de vanguarda europeia do século XX. Há poucos anos, artesãos do Alto do Moura fizeram releituras da tela expressionista ‘O grito’, do norueguês Edvard Munch, misturando linguagens regionais e universais.

Este ‘caldeirão’ de cultura foi homenageado ontem (19), quando da passagem do Dia do Artesão, na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). O deputado estadual Delegado Lessa esteve na tribuna na Casa e contou um pouco da história do Alto do Moura, expondo a relevância do artesanato para a formação da identidade cultural da região.

Enaltecer os valores destes homens e mulheres que mantém viva a tradição do barro em nossa região é garantir a preservação identitária dos nossos valores culturais. É nos manter firmes enquanto nação, ou melhor, enquanto uma grande família, que partilha de um mesmo passado, de um mesmo presente e sonha com um futuro comum. Parabéns a todos os artesãos. Viva o Alto do Moura! Viva, Vitalino!

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