Nas minhas idas à feira nos sábados de manhã
quando estou por Caruaru, tem vários lugares onde eu gosto de ir como visita
obrigatória. Tem o Museu do Cordel, almoçar no bar do repente
escutando uma cantoria de viola tomando uma cajuína, e por aí vai. Um lugar
essencial nessas andanças quando estou por lá, é a Casa de Cultura José Condé,
um dos lugares mais importantes da cidade, por preservar a história e com isso
fortalecer as identidades culturais de Caruaru.
Fonte:
http://liberdade.com.br/casa-de-cultura-jose-conde-prorroga-inscricoes-para-oficinas-de-artes/
Era meados de 1971, o então prefeito de
Caruaru Anastácio Rodrigues viaja para São josé do Rio Preto lá em SP pra
visitar uma usina hidrelétrica. Nessa ida à São josé do Rio Preto, Anastácio
viu por lá a Casa de Cultura de São José do Rio Preto, a primeira erguida no
país, em 1968. Na mesma hora, ele pensou em criar uma coisa parecida em
Caruaru, e foi atrás de recursos financeiros, mas não conseguiu nenhuma ajuda,
nem do âmbito federal nem estadual, o jeito era recorrer pelos recursos do
município mesmo.
Depois de muito sufoco, conseguiu levar uma
grana e aprovar um projeto para a construção da Casa de Cultura. Anastácio
sempre foi muito preocupado com as questões culturais de Caruaru (basta lembrar que na mesma época, início de 70, ele ajudou
a banda de pífano dos Bianos a ir pro RJ gravar seu 1º disco), e o
intuito dele era tentar suprir a necessidade de um espaço como esse em Caruaru,
principalmente depois da lacuna deixada na cidade após a demolição do Museu de
Arte Popular.
Um
parêntese para o Museu de Arte Popular.
Antes de continuar a história da Casa de
Cultura, vale lembrar sobre o Museu de Arte Popular que Caruaru já teve.
No início dos anos 50, João Condé filho (o
irmão do escritor José Condé) teve a idéia de construir em Caruaru um museu de
arte popular, e a partir disso começou uma campanha na imprensa e mobilizou
toda uma articulação em pró dessa causa, buscando auxílio financeiro em órgãos
governamentais e tudo mais.
A ideia acabou dando certo, o projeto de lei
que aprovou a construção do museu foi apresentado em 1954 na Câmara Municipal
pelo vereador José Carlos Florêncio (fundador do Jornal Vanguarda).
No mesmo ano de 54, o atual prefeito de
Caruaru Abel Menezes sancionou a lei, criando o Museu de Arte Popular de
Caruaru, que seria construído na Praça Juvêncio Mariz (atual Teotônio Vilela,
no centro de Caruaru).
O projeto se arrastou por 7 anos, e finalmente
Caruaru inaugurava o museu, no dia 16 de novembro de 1961. O acervo do museu
tinha peças dos artesãos do Alto do Moura, com destaque para mestre Vitalino,
no qual era amigo próximo dos irmãos Condé, já era famoso por suas artes, e que
estava presente na solenidade de inauguração do museu.
Dois meses depois de inaugurado, o museu
recebe o nome de “Museu de Arte Popular João Condé” através de uma lei
promulgado pelo atual prefeito João Lyra Filho. Condé não gostou, e pediu a
retirada do seu nome do museu, com o argumento que aquele museu não era dele,
ele tinha sido apenas o articulador, o veículo pelo qual arranjou meios de
construí-lo. A idéia original de Condé era homenagear mestre Vitalino com
aquele museu, e que o nome correto seria “Museu de Arte Popular Mestre
Vitalino”.
O fato é que quando João Lyra Filho foi eleito
em 1959, teve o apoio do então deputado Drayton Nejaim. Na eleição seguinte,
Drayton quis o apoio de João Lyra pra se tornar prefeito pela 1º vez em Caruaru
e João Lyra negou, e romperam parcerias políticas depois disso. Com isso,
Drayton (já eleito como prefeito) não teve o devido cuidado com o Museu de Arte
Popular (afinal de contas, ele havia sido construído no governo de João Lyra),
e as estruturas do prédio ficaram comprometidas.
Utilizando esse argumento de que as
instalações estavam comprometidas, Drayton tratou de demolir o prédio, causando
indignação da sociedade.
Estava acabado o sonho de João Condé, 4 anos
depois de construído, foi demolido, o Museu de Arte Popular Mestre Vitalino, o
único no Brasil com sede própria. Nesse descuido com a cultura de Caruaru,
várias peças de Vitalino se perderam, foram destruídas e tudo mais. Houve todo
um alarde por parte dos jornais e da mídias, mas não adiantou, o prefeito
Drayton Nejaim demoliu pra construir a nova sede do Palácio Municipal.
Ou seja, a demolição deu lugar ao que é a
prefeitura até hoje em Caruaru (que oficialmente se chama “Palácio Municipal
Jaime Nejaim”).
Pois é, o Museu de Arte Popular Mestre
Vitalino, erguido em 1961 foi demolido por pura politicagem.
Mas
voltando à Casa de Cultura…
Interior
da Casa de Cultura (Fonte: Tripadvisor)
|
O projeto de construção é iniciado a partir
dos recursos que Anastácio conseguiu. Mas no mesmo ano que Anastácio tem a
idéia de construir a Casa de Cultura, em 1971, é também o ano de morte do
grande escritor caruaruense José Condé que era amigo pessoal de Anastácio. E
como forma de homenagem Anastácio deu o nome de José Condé para a Casa de
Cultura.
O projeto era composto por museu, biblioteca,
auditório, e a arquitetura foi considerada futurista pra época.
Na manhã do dia 31 de janeiro de 1973, no
último dia do mandato de Anastácio como prefeito, foi inaugurado a Casa de
Cultura José Condé. Na ocasião estavam o jornalista Souza Pepeu, Elysio Condé,
João Condé, Maria Luísa Condé (viúva de José Condé), os 3 filhos do casal,
Heloísa Lins (viúva do escritor Álvaro Lins), Cacho de Coco (carnavalesco famoso de Caruaru) e mais um
monte de gente. E todo mundo foi recepcionado ao som da banda de Pífanos de
Caruaru e pelos bacamarteiros, e a Casa foi inaugurada tendo como sua primeira
diretora a pintora Luísa Maciel.
Depois de um tempo, a Casa de Cultura ainda
passou 7 anos fechada, até ser reinaugurada no ano de 2012. Dessa vez, Elysio,
João e Maria Luísa Condé não estavam mais vivos, nem tinha a presença dos
bacamarteiros e da banda de Pífano de Caruaru, mas Anastácio tava lá na
reabertura e foi o último a sair de lá nesse dia, afinal de contas aquele
espaço tem a alma dele.
Obra do
artista plástico Ed Bernardo (fonte: Tripadvisor)
Hoje em
dia
A Casa de Cultura hoje está lá no mesmo lugar
de sempre, por dentro da feira de Caruaru e tem obra de vários artistas
plásticos de Caruaru, tem uma sala lá com vários livros que foram de José
Condé, tem um acervo lindo e grandioso, além de contar com aulas de música,
workshops e oficinas pontuais.
É uma visita certa da minha parte quando estou pela
feira, e recomendo a todo mundo que frequente a Casa de Cultura. Esse tipo de
lugar precisa e depende das nossas visitas, e isso é uma forma de militância,
de ajudar a manter a chama da história e a cultura de Caruaru sempre acesa.
Essa chama não pode se apagar nunca, nem muito menos demolida.
Referências:
NETO, Fernandido. Anastácio Rodrigues, O eterno prefeito. CEPE. Vol 1. 2018
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