“Nasceu no brejo de madre de deus
Lá no sítio trapiá,
tomando leite de cabra
Comendo jirimun com jabá
Mexendo no fole do seu pai
Aprendeu logo a tocar
Montado no jumento Medalha
Ia lá pras feiras de lá
Fazenda Nova, Tacaimbó e São Caetano
Ouvir o som de Gonzaga no ar
Mas seu hobby predileto
Era ver as Marias Fumaça passar
Tocou muito samba de latada
No intervalo muito café com batata e preá
Esse foi o seu começo
Depois disso, veio embora pra cá”
Esse são os dizeres de abertura do DVD
do mestre Camarão, um dos principais mestres da sanfona depois da geração de
Gonzaga e um dos principais nomes de Caruaru.
Reginaldo Alves Ferreira, nasceu no distrito
de Fazenda Velha, situado no município de Brejo da Madre de Deus no dia 23 de
Junho de 1940. Aprendeu a tocar sozinho aos 7 anos, com a sanfona de 8 baixos
do pai que era sanfoneiro. A primeira música que Reginaldo aprendeu foi a toada
“Acorda Maria Bonita” (Acorda maria bonita / levanta vai fazer o café / que o
dia já vem raiando / e a polícia já tá de pé (...) composição de “Volta Seca”,
cangaceiro e músico, do bando de Lampião), e logo cedo foi morar em Caruaru.
Camarão
A grande inovação de Camarão foi ter
introduzido metais em banda de forró além de ser considerado como pioneiro na
criação do primeiro grupo de forró do país, que se chamava “A Bandinha do
Camarão”. Logo depois, montou um trio chamado de “Trio Nortista”.
Certo dia lá pela década de 60, ele saiu da
Rua Preta em Caruaru para rádio Difusora onde ia tocar, e assim que entrou na
rádio o locutor tava chamando o trio dele para tocar e pediu pra ele fazer a
introdução de uma música. Ele fez, mas ficou meio errada e ficou todo vermelho
envergonhado, daí Jacinto Silva tava por lá e disse: “de novo Camarão!”.
Pronto, a partir desse dia o apelido pegou.
Camarão é um dos grandes nomes da geração após
Gonzaga, ajudou a consolidar a sanfona como instrumento de forró, e numa
entrevista ao JC em 2003, ele falou da música nordestina antes de Luiz Gonzaga:
“O forró como a
gente chama hoje era conhecido por samba. Os sanfoneiros tocavam valsas,
polcas, vi muitas vezes Zé Tatu tocando estes estilos. Estas músicas
nordestinas, a não ser nos sítios, só tocavam no período junino. Só depois é
que vieram as músicas de Luiz Gonzaga”
Carreira
Camarão começou a
carreira tocando em cabarés de Caruaru e Serra Talhada, até arrumar o primeiro
emprego fixo, na rádio Difusora de Caruaru, substituindo Zé Vaqueiro, e foi lá
onde conheceu nomes como Sivuca e Hermeto Pascoal:
“Na vaga do
sanfoneiro Zé Vaqueiro. Quem tocava antes de Zé Vaqueiro era Hermeto Pascoal,
que o pessoal chamava de Sivuquinha”.
Em 1962 foi contratado pela
gravadora Mocambo e gravou seu 1º LP, contando com o xote “Choradêra” em
parceria com Onildo Almeida:
1º disco. 1962.
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A partir daí não
parou mais, gravou vários discos, foi parceiro de Dominguinhos, de Genaro, fez
música com Walmir Silva, com Genésio Guedes (eu chamo carinhosamente de “seu
Genésio da Farmácia”). Também gravou uma música em homenagem a Cacho de Coco, personagem icônico dos
carnavais caruaruenses chamada de
“Relembrando Cacho de Coco” (do disco “Forró no Palhoção - Camarão e seu
Acordeon”, de 1976). Em 1969 e 1970 teve 2 discos produzidos por Luiz Gonzaga,
inclusive, o disco de 1969: “A Bandinha do Camarão” teve um texto na
contra-capa escrito por Luiz Queiroga à pedidos de Gonzaga:
Texto de Luiz Queiroga do disco: “A Bandinha de
Camarão” (1969)
Disco “A Bandinha do Camarão” (1969)
Boa parte das
músicas são instrumentais, a especialidade de Camarão na sanfona eram o solos.
Ao todo, gravou 23 LPs e 1 DVD.
Na década de 80 foi
morar em Recife onde deu aula de sanfona e formou mais de 150 sanfoneiros,
dentre eles Cezinha, Targino Gondim, Beto Hortis e Dudu do acordeon.
Foi homenageado no
São João de Caruaru em 1999, no de Recife no ano de 2007, e ganhou o título de
Patrimônio Vivo de Pernambuco no ano de 2003. Faleceu no dia 21 de Abril de
2015, aos 74 anos com uma infecção intestinal. O corpo foi velado na Câmara
Municipal de Caruaru e enterrado no cemitério Dom Bosco.
O mestre Camarão é um
desses grandes nomes da cultura popular, do forró, da sanfona e sobretudo de
Caruaru.
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