29/10/18

Cândido - final - por Nelson Lima


Ainda no sonho, Núbia recebe a visita de uma amiga, Isabel, já bem de idade, viúva há dois anos e que passou por três casamentos. Conta ela, que casou cedo, tinha 17 anos. Aos 16 começou a namorar sem os pais saberem, pois o rapaz era desse tipo “avançadinho”, “moderninho”, “patricinho”, e ela sabia que os pais iam se obstar. E namoro escondido se sabe né, fica mais fácil dar oportunidade para a libido aflorar, e a gravidez ocorreu com cinco meses de namoro e com mais cinco casaram. Disse ela: Rompi com meus pais e acreditei nas promessas do namorado, não há nada melhor do que pra sempre estar nos braços do bem amado.

Com o primeiro filho e tudo começou a mudar. Carinho, afeto, ternura e presença, sumiram do relacionamento. O “provedor”, passou a descumprir as promessas de namoro e com quatro anos de casados, tudo acabou. Um amigo dele, que já vinha de olho nela, ofereceu as mesmas promessas e acrescentou outras. Ela resolveu acreditar e se atirou nos braços desse novo provedor. Ele não se importava com o filho que vinha a reboque. No sonho ele dizia: Forte é aquele que não desiste dos seus sonhos, mesmo com tantas dificuldades no caminho. Vamos mudar nossa situação, juntos. Percebeu? No sonho ele fala de sonho! E continuou dizendo: Querida Isabel, lembro-me de uma parte de um livro que li sobre sonhos. O pai da psicanálise define o conteúdo do sonho como a realização de um desejo. Para Freud, o enredo do sonho teria um sentido explícito, manifesto, e que importaria menos, e outro mais simbólico, ligado ao desejo de quem sonha, menos explícito, latente, e cujo significado importa muito para a terapia de quem sonha. Isabel ficou como quem estava sonhando, quer dizer, no sonho de Núbia, ela ficou encantada com o palavreado dele.

No dia a dia nada correspondia, e pasmem, com quatro anos também a deixou. Mas veio o terceiro casamento, com situações semelhantes, exceto no quesito tempo, ele faleceu com mais ou menos dois anos de casados.

Durante o sono, mesmo deitados em nossas camas, podemos voar, nos transformar, e viajar por mundos imaginários inimagináveis. Por vezes, são sonhos tão positivos que quando acordamos, tentamos até dormir de novo. De acordo com a psicanálise, os nossos desejos reprimidos podem, de certa forma, ser realizados durante o sonho. Outras vezes, temos pesadelos, às vezes recorrentes, dos quais temos muito medo, e despertamos assustados.

E foi assim que Núbia despertou: Assustada!

Tomou um copo d’água, pensou... E resolveu, por enquanto, deixar pra depois...

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