Certa vez em uma entrevista, lembro-me que me foi perguntado de onde vinha inspiração para escrever poesia de cordel e declamar para o povo, logo me veio à lembrança dos tempos de infância aonde eu ia com os meus pais para alguns sítios de amigos, sítios esses que relatava com toda clareza o sertão nordestino e ali me encantava com a tranquilidade do lugar, com os animais raquíticos, com o solo seco e rachado, com a simplicidade, bondade e humildade dos amigos dos meus pais. O almoço era preparado em um simples fogão de lenha, a carne de sol pendurada em um varal, muitos pés de mandacaru e com toda essa imagem eu escrevi:
DO SERTÃO VEM INSPIRAÇÃO
Perguntaram ao poeta
Donde vem inspiração
Para escrever poesia
Fazer a declamação
Ele com o olhar maneiro
Respondeu muito ligeiro
“Vem do meu grande sertão”.
Vem dos sonhos bem sonhados
Da lua cheia bonita
Da moça interiorana
Com um vestido de chita
Que acorda logo cedo
Pra colher folha de bredo
E da chá para a visita.
Vem da seca do sertão
Onde o chão fica rachado
Ou vem da grande chuva
Que deixa o solo molhado
Enquanto o homem com pranto
Reza e agradece ao santo
Bastante emocionado.
Vem do fogão de lenha
Onde prepara o feijão
E na tarde dum domingo
Se come com um pirão
E a família com alegria
Demonstra muita harmonia
Respeito e animação.
Do fole de uma sanfona
Da música de Gonzagão
Do triangulo e da zabumba
Tocando muito baião.
Das belas festas de cunho
Quando todo mês de junho
Tem a festa de são João.
Das boas carnes de sol
Penduradas no varal
Das noites de poesia
Que tem o fenomenal
Desafios do repente
Que usa a força da mente
Tocando na área rural.
Da bodega pequenina
Onde se compra fiado
Todo quartinho vendido
No caderno está anotado
Mas quando na grana pega
Se dana lá pra bodega
Paga e diz muito obrigado.
Vem das grandes passeadas
Do calango no lajedo
Das criancinhas pequenas
Que ainda chupando dedo
Perderam sua infância
Caminha grande distancia
E Vão pra roça bem cedo.
Do velho pote de barro
Do grande rádio de pilha
Do novo pinto de granja
E Da pequena novilha
De um destemido galo
E de um belo cavalo
Sem nenhum pingo de milha.
Das curas misteriosas
Pelas mão da benzedeira
Meninos La no terrero
Brincando de baladeira
Que vai Subindo em jumento
E quando cai no cimento
Se dana na choradeira.
Das festas de vaquejada
De Padre Ciço Romão
Das flor de mandacaru
Do macho vei lampião
Da fêmea Maria bonita
Mãe de dona expedita
É donde vem inspiração.
Quem escreve poesia
E faz a declamação
Com certeza é bem feliz
Por ter como inspiração
Esse vei cabra da peste
Um pedaço do Nordeste
É o nosso lindo sertão
*Jefferson Moisés é poeta e declamador.
3 comentários:
Mais um ótimo cunista, parabéns a todos.
Parabéns ao grande poeta, muito bonito o relato e em prosa bem rimado e representado, nosso nordeste precisa de mais poetas como este.
Muito bom!
Grandeza na simplicidade!!!
Postar um comentário