07/07/19

Estante da Joy - Vozes de Tchernóbil: a história oral do desastre nuclear - Joyce Sueely


Escrito por Svetlana Aleksiévitch, escritora e jornalista bielorussa, vencedora do prêmio nobel em 2015. A autora reuniu relatos de sobreviventes do maior desastre nuclear da história.

Sinopse da Editora:

Em 26 de abril de 1986, uma explosão seguida de incêndio na usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia - então parte da finada União Soviética -, provocou uma catástrofe sem precedentes em toda a era nuclear: uma quantidade imensa de partículas radioativas foi lançada na atmosfera da URSS e em boa parte da Europa. Em poucos dias, a cidade de Prípiat, fundada em 1970, teve que ser evacuada. Pessoas, animais e plantas, expostos à radiação liberada pelo vazamento da usina, padeceram imediatamente ou nas semanas seguintes. Tão grave quanto o acontecimento foi a postura dos governantes e gestores soviéticos (que nem desconfiavam estar às vésperas da queda do regime, ocorrida poucos anos depois). Esquivavam-se da verdade e expunham trabalhadores, cientistas e soldados à morte durante os serviços de reparo na usina. Pessoas comuns, que mantinham a fé no grande império comunista, recebiam poucas informações, numa luta inglória, em que pás eram usadas para combater o átomo. A morte chegava em poucos dias. Com sorte, podia-se ser sepultado como um patriota em jazigos lacrados. É por meio das múltiplas vozes - de viúvas, trabalhadores afetados, cientistas ainda debilitados pela experiência, soldados, gente do povo - que Svetlana Aleksiévitch constrói esse livro arrebatador, a um só tempo, relato e testemunho de uma tragédia quase indizível. Cenas terríveis, acontecimentos dramáticos, episódios patéticos, tudo na história de Tchernóbil aparece com a força das melhores reportagens jornalísticas e a potência dos maiores romances literários. Eis uma obra-prima do nosso tempo.

Após o desastre, vários filmes e livros foram produzidos relatando os fatos que levaram a explosão do reator, assim como as consequências para as pessoas e a região da usina. Nesse livro, Svetlana vai além, pois ela busca captar a experiência das pessoas sobreviventes, daqueles que perderam familiares e amigos, perderam seus lares e sua antiga vida. São pessoas com histórias diferentes, e que se propuseram a falar de sua dor. Tais relatos tornam a leitura dramática e difícil em muitos momentos, pois tentamos imaginar as emoções que essas pessoas vivenciaram.

Parte do relato abaixo inspirou a minissérie produzida pela HBO, que buscou representar a cadeia de acontecimentos que levaram a explosão, assim como o drama vivenciado pelas pessoas que viviam naquela região.

“Estávamos casados havia pouco tempo. Ainda andávamos na rua de mãos dadas, mesmo quando entrávamos nas lojas. Sempre juntos. Eu dizia a ele “eu te amo”. Mas ainda não sabia o quanto o amava. Nem imaginava… Vivíamos numa residência da unidade dos bombeiros, onde ele servia. No segundo andar. Ali viviam também três famílias jovens, e a cozinha era comunal. Embaixo, no primeiro andar, guardavam os carros, os carros vermelhos do corpo de bombeiros. Esse era o trabalho dele. Eu sempre sabia onde ele estava e o que se passava com ele. No meio da noite, ouvi um barulho. Gritos. Olhei pela janela. Ele me viu: “Feche a persiana e vá se deitar. Há um incêndio na central. Volto logo”. A explosão, propriamente, eu não vi. Apenas as chamas, que iluminavam tudo… O céu inteiro… Chamas altíssimas. Fuligem. Um calor terrível. E ele não voltava. A fuligem se devia à ardência do betume, o teto da central estava

coberto de asfalto. As pessoas andavam sobre o teto como se fosse resina, como depois ele me contou. Os colegas sufocavam as chamas, enquanto ele rastejava. Subia até o reator. Arrastavam o grafite ardente com os pés… Foram para lá sem roupa de lona, com a camisa que estavam usando. Não os preveniram, o aviso era de um incêndio comum…”

O diferencial desse livro está na narrativa, pois a autora conseguiu dar voz ao sofrimento e retirar as histórias dessas pessoas da omissão.

Editora: Companhia das Letras; Edição: 1ª (19 de abril de 2016)

384 páginas.

Joyce Sueely é estudante de psicologia e fotógrafa. Responsável pelo instagram literário @estantedajoy.


Nenhum comentário: