Alagoa Grande, sertão paraibano, dia 31 de agosto de 1919, local e data do primeiro berro de um negro, pobre, franzino, nordestino, que décadas depois seria conhecido no Brasil como o Rei do Ritmo: Jackson do Pandeiro.
Em entrevista à Grande Otelo, na TVE, o músico lembrou sua trajetória.
“Desde moleque, de 13, 14, 15 anos, tocando pandeiro e cantando samba por todo canto, cantando ‘mais’ cego na feira, tudo eu fazia. Meu negócio era gostar de ritmo, eu queria fazer ritmo, não tinha conversa. Depois de 35 anos, eu consegui, acharam que eu devia gravar. E eu gravei”.
Jackson nasceu José Gomes Filho. Em 1980, durante entrevista à Arakem Távora, o músico contou como o José se transformou em nome de personagem de filme.
“Eu era fã de filme de faroeste, naquela época do cinema mudo. E procurei um nome de artista americano, Jackson, Jack. Tinha um indivíduo que eu achava que devia ser aquele cara. Moleque, com 10 anos de idade. Então coloquei meu nome de Jack. Jack Perrin. E brinquei de artista muito tempo”.
Anos depois, o Jack viraria Jackson por causa da sonoridade e por sugestão do chefe da locução de Pernambuco.
Apesar de gostar do cinema norte-americano, foi a falta de interesse na música que vinha de fora que o fez trocar a bateria pelo pandeiro.
“Eu não gostava de tocar música estrangeira. Só gostava de tocar o que era brasileiro. Samba, frevo, choro, aquele povo todo. Na época tinha folk. O blues eu ainda saía bem. Mas tinha um folk que era metido a rápido, que já veio com um twist, um rock, um iê iê iê... eu não me adaptava bem com aquele negócio. Eu gostava era do coco, das minhas ‘bandas’. Minha mãe era cantadeira de coco, então eu estava bem por dentro das coisas. E achava que tinha mais balanço, sei lá, eu achava diferente. E comecei a tocar pandeiro. E cheguei até aqui, somente com um pandeiro”.
Gravou seu primeiro disco aos 35 anos, com sucessos como Sebastiana. Chapéu na cabeça, e pandeiro na mão, tocou e cantou coco, samba e forró.
O forró do pandeiro de Jackson imprimia um ritmo diferente do que era tocado pela sanfona do Rei do Baião. Era uma mais música ligeira, aquele forró que dança de pulinho.
Não é por acaso que as estatuas de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro estão lado a lado, em Campina Grande, na Paraíba: os dois levaram a música nordestina para mundo.
Jackson descansou no dia 10 de julho de 1982, vítima de embolia pulmonar, em Brasília. Seu corpo está enterrado no cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.
De barba e cabelos compridos, o músico pernambucano Silvério Pessoa percorre o Brasil cantando Jackson do Pandeiro. Longe de ser um cover, sem pandeiro, nem chapéu, Silvério quer manter viva a música do paraibano. Ele fala sobre a importância de Jackson para sua formação e para a cultura brasileira.
“Valorizar o que eu sou como história, relembrar meus avós, minha mãe, mas ao mesmo tempo me projetar pro futuro, levando essa tradição, sem interpretá-la como careta, saudosa, triste, nostálgica. A obra de Jackson é ultra atual. As novas gerações devem visitar, ouvir a obra de Jackson do Pandeiro. Então isso é fortalecer um povo, um espaço de pensamento, de memória, de tradição”.
100 anos depois de seu nascimento, Jackson do Pandeiro ainda é considerado um dos maiores ritmistas da história da música brasileira.
*Entrevistas catalogadas do Acervo da EBC – Empresa Brasil de Comunicação
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