A palavra veio-me como um cálice cheio de vinho.
Vinho tinto, vindo das adegas do tempo.
Uvas pisadas no lagar de uma melodia triste e distante.
Aroma levado ventania afora adocicando o mundo.
É do vento que transporta aromas que vêm as folhas que me tocam a face envelhecida.
Ventos cálidos, gélidos, filhos de brisas leves, suaves e sem rumos.
É feito de amor o jardim por onde percorre o afeto de borboletas, abelhas e louva-deuses.
Eriça-me a pele a beleza da orquídea que nasceu ali no quintal da minha fotografia na parede.
Flores de porta-retratos feitos a pincéis e lantejoulas.
Mas, das flores, a mais bela, a mais tenra e a mais flor de desertos arenosos, feita de silêncios.
É flores de deserto têm gemidos contidos de tanto sorverem o sol, os ventos e as tempestades de areia.
Vem das montanhas o perfume agridoce da esperança que renasce e aflora.
É filha das ventanias de manhãs sedentas de neblinas calmas e acinzentadas tal esperança.
É bela a aurora, à voz meiga e nebulosa de um rouxinol cantante e só.
É forte a ternura dos seus olhos ali em qualquer galho em qualquer lugar selva adentro.
É fonte onde o amor descamba pela rua, feito tampa de panela rolando ao léu ladeira abaixo.
É belo o sorriso flor de tardezinhas felizes de pessoas passando.
Filhos de pores-de-sóis de eternos e declinados versos.
Sim, em mim brotou uma poesia cheia de palavras contidas.
Escondidas nas entrelinhas.
Palavras medrosas.
Palavras caladas que dizem sem dizer.
Palavras que nada dizem, mesmo dizendo.
Quando como o amor é gesto somente e mais nada.
À minha eterna manhã mais bela, uma doce e calma ventania que espalhe as pétalas, o perfume e seu mel que atrai abelhas, pirilampos, beija-flores e um Sol todo dourado feliz, partindo para o ocaso.
Luciana Macêdo
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