01/09/19

Arte e Devoção - A voz de João Batista por Jénerson Alves*


A obra ‘Salomé com a cabeça de João Batista’, do pintor italiano Caravaggio (Michelangelo Merisi, 1571–1610), é um conhecido exemplo da pintura barroca. Características como o chiaroscuro e o feísmo estão presentes na tela, transmitindo uma certa sensação de luta entre o bem e o mal, por meio dos contrastes de cores.

Primo de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, João Batista foi chamado pelo Cristo de “maior entre os nascidos de mulher”. Precursor do Messias, o ministério do Batista foi no deserto, pregando a necessidade de arrependimento (mudança de direção) a uma sociedade corrompida. Distante do formalismo religioso, João Batista trajava-se de pele de camelo e alimentava-se de gafanhotos (provavelmente uma espécie de vegetal com este nome) e mel silvestre.

Comprometido com a urgência da mensagem divina – como é do caráter dos profetas –, João Batista não sucumbiu ao “politicamente correto” quando denunciou a imoralidade sexual de Herodes, que havia tomado a esposa de seu irmão. Detalhes desta união reprovável estão presentes em escritos históricos, sobretudo de Flávio Josefo, demonstrando que Herodes Antipas havia abandonado Fasélia, filha de um rei árabe chamado Aretas, para casar com Herodias; e ela, por sua vez, deixara o casamento com o meio-irmão de Antipas, Filipe.

A narrativa da morte de João Batista está no capítulo 06 do Evangelho de S. Marcos, mais precisamente entre os versículos 14 e 29.  Durante um banquete oferecido por Herodias aos magnatas da Galileia, o rei decide cumprir os caprichos de Salomé, filha de Herodias. Esta pede a cabeça de João.

Recentemente, a fanpage ‘A Formação do Imaginário’ publicou um post sobre o tema, chamando atenção ao “poder natural que as mulheres têm sob a humanidade toda, desde sempre”. Este poder não se refere apenas à capacidade de gerar vida, mas também à persuasão. O maior entre os nascidos de mulher foi morto devido à ação de uma mulher de conduta duvidosa. “Pobre rei! (...) Desprovido de sabedoria, caiu na sedução de uma mulher perversa. Pobres homens em todos os tempos, que, desunidos a Cristo, trocam a vida da realidade pela vida sensual, e se atrelam em dívidas, morte, separação”, complementa o post.

Para a Igreja Católica, o dia da memória do martírio de São João Batista é 29 de agosto. A celebração tem origem nos séculos V (França) e VI (Roma), vinculada à dedicação da Igreja de Sebaste, na Samaria, supostamente construída sobre o túmulo do Precursor.

A espada de Herodias não pôde calar a voz do que clamava no deserto. Nos dias de hoje, os ecos da mensagem de João Batista ainda gritam aos ouvidos de uma sociedade corrompida, imoral, perversa e decadente. “Chegou a hora e o Reino de Deus está perto. Arrependam-se dos seus pecados e creiam no evangelho” (Mc 1:15, NTLH).

*Jénerson Alves - jornalista, professor, assessor parlamentar, poeta e escritor.


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