23/10/17

Dois solos de atrizes negras baianas chegam a Pernambuco pela primeira vez

Foto: Andrea Magnoni

Nesta quarta e quinta-feira dois solos produzidos na Bahia, com duas intérpretes negras, são destaque na programação do 27º FETEAG (Festival de Teatro do Agreste), em Caruaru. “Rosário”, com a atriz baiana Felícia de Castro, revela o que representou o encontro de culturas diversas e a religiosidade como estratégia de resistência numa realidade hostil para mulheres negras, em sessão gratuita nesta quarta-feira, às 20h, no Teatro Rui Limeira Rosal (Sesc Caruaru). Já a atriz baiana Mônica Santana questiona as formas de representação da mulher negra no espetáculo “Isto Não é Uma Mulata”, atração desta quinta-feira, também às 20h, no mesmo palco. Entrada franca para maiores de 18 anos nos dois trabalhos.

Inspirada na simbologia da Coroação de Reis Negros – sempre viva nos Congados mineiros e em outros folguedos nacionais –, o solo “Rosário” nos oferece uma experiência cênica baseada na formação da identidade brasileira sob o aspecto do feminino. Através de canções e explosões de textos, a atriz e pesquisadora baiana Felícia de Castro traz à cena um rosário de mulheres, como que reunidas em uma única prece. O repertório textual é pautado em poemas autorais e em textos sobre a invasão ao Caldeirão da Santa Cruz do Deserto (CE), em canções do Reisado de Congo (CE), em corridos de Capoeira, em orações do catolicismo popular, e no livro “Viva o Povo Brasileiro!”, de João Ubaldo Ribeiro. Direção de Demian Reis.

Já “Isto Não é Uma Mulata”, solo da também baiana Mônica Santana, parte da famosa frase proferida por Gilberto Freyre, “Branca para casar. Mulata para fornicar. Negra para trabalhar” e tece uma obra que questiona as formas de representação da mulher negra: seja a mestiça hipersexualizada, de formas exuberantes e sempre disponível para o sexo, seja a negra escura para o serviço braçal, tendo como ponto de partida a ironia da imagem canonizada da mulher negra nas artes e na mídia, visitando diferentes referências e criando novos discursos. Trata-se de um projeto crítico de multilinguagens, com direção, dramaturgia e atuação da própria Mônica Santana.

 Foto: Thiago Zimmerle
Na Mostra Estudantil do 27º FETEAG, mais voltada ao público infantojuvenil e infantil, ainda é possível conferir dois diferentes trabalhos nesta quarta e quinta-feira, sempre às 10h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru), com entrada franca.

Nesta quarta-feira, às 10h, a opção é “Isadora, Um Espetáculo de Plagiocombinação”, com alunos do Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Pernambuco. Este é um divertido experimento cênico, com criação coletiva e direção de Marianne Consentino, resultante da disciplina “Consciência Corporal e Expressão Artística”. Descaradamente inspirado no espetáculo “Gala”, de Jerome Bel, a proposta mistura referências diversas da dança, do teatro e da cultura popular na busca pela expressão da singularidade de cada corpo. Haverá debate após a sessão.

Já na quinta-feira, também às 10h, o clima pesa com “Jogos na Hora da Sesta”, com alunos do Curso Livre de Teatro e Teatro Experimental de Arte (TEA), da própria Caruaru. Indicada para maiores de 14 anos, a obra é uma estranha brincadeira de crianças, sem risos, sem graça e revela jogos que nos alertam para o quanto os adultos e a sociedade influenciam decisivamente na formação das crianças. É este universo violento e adultamente deturpado que a autora Roma Mathieu aborda nesta peça dirigida por Pedro Henrique e Rosbergg Alexander. Ditadura, bullying, preconceito, sexualidade e intolerância são fomentados como brincadeiras banais nesta montagem. A sociedade e a televisão assumem as rédeas de nosso futuro, e então, desde cedo, criamos alguns pequenos monstros, mas até onde?  Até quando? Haverá debate após a sessão.

O 27º FETEAG segue com programação até o domingo. Mais informações: www.feteag.com.br

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