Perguntou-me uma mocinha:
“Quem é que foi Louro Branco?”
Respondi com olhar franco:
Repentista de alta linha,
Que a qualidade mantinha
Perante qualquer algoz.
Apesar da pouca voz,
No verso ganhou renome
E foi nascido com o nome
Francisco Maia Queiroz.
Antes de ter o roteiro
De poeta trovador,
Ele foi agricultor,
Pescador e muambeiro.
Porém, como violeiro
Ganhou grande dimensão,
No repente ou na canção
Sempre forte, nunca frágil,
Pois foi a mente mais ágil
Que já vi na profissão.
Além de um sujeito ético,
Que do bem trilhava a via,
No mundo da cantoria
Foi artista muito eclético,
Pois do jocoso ao poético
Há versos feitos por ele.
O ouro que Deus pôs nele
Virou frações de outros ouros.
Devia ganhar mil louros
Cada Louro dentro dele.
Máquina humana de improviso
Nos duelos e debates,
Trocadilhos, disparates
Provocando choro e riso.
Com Vila, cantou conciso
E com siso que ninguém tira,
Com Valdir provou da lira,
Junto a Miro colheu lírios,
Levou o público a delírios
Com Mocinha de Passira.
Compositor magistral
Pondo cor no seu mister;
Platônico em ‘Doce Mulher’,
Em ‘Quero’ foi sensual,
Fez a ‘Missiva Final’
Por estar desenganado,
Mas, como um grito engasgado
No ‘Último Adeus de um Vaqueiro’
Honrou a fé no Cordeiro
Em ‘Jesus Glorificado’.
Por ter tantos atributos,
Criou de forma inspirada
‘Comade Joana’ (embolada)
De humores absolutos.
Também poemas matutos
Escreveu com maestria,
Da moça que não queria
‘Os beijo dum home liso’,
E retratou seu prejuízo
Com saudade de ‘Bibia’.
Sua genialidade
Pr’o seu porte foi suporte,
Só não se tornou mais forte
Que a força da sua idade.
Na cela da enfermidade
Foi levado aos hospitais,
Com a boca gritando ‘ais’,
Em vez de cantar baião,
Talvez porque coração
De poeta sinta mais...
Triste trocadilho afoito
Marcou seu último roteiro:
Foi no 18 primeiro
D’ ano dois mil e dezoito.
Disse a dor: “Não mais lhe açoito!”,
Disse Deus: “Eu lhe aceito!”,
Mas dessa causa o efeito
Foi feito, que o cantador
Saiu do leito da dor,
Subiu pr’o Leito perfeito.
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