O fotógrafo Eduardo Queiroga lançou a quinta-feira (3), seu mais novo livro, Cordão, no Armazém da Criatividade, em Caruaru. Fruto de 10 anos de uma imersão no universo das parteiras, o projeto, que conta com incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura, é uma obra que se coloca na passagem entre a simbologia de fluxos importantes, seu cessar e o início de novas possibilidades.
O que começou como um trabalho de documentação das práticas e dos saberes das parteiras em 2008, se desdobrou em uma série de ações. Fotógrafo há 28 anos, pesquisador e professor, Queiroga teve contato com mais de 220 parteiras em todo o estado, inicialmente como parte de um inventário realizado pelo Instituto Nômades. Ao longo deste trabalho, colecionou um vasto material sobre essas mulheres que permanecem à sombra de um maior reconhecimento no âmbito da cultura tradicional e popular.
“Cordão” parte da proposta de revisitar o acervo produzido, rico em novas possibilidades de narrativas poéticas. Deixando de lado o caráter de inventário da pesquisa inicial e explorando um recorte curatorial que privilegia a linguagem fotográfica e a estética das imagens, a obra é composta por 80 fotografias de Eduardo Queiroga e um texto da jornalista e professora Fabiana Moraes. O trabalho foi enriquecido pelo diálogo com a fotógrafa Ana Lira, convidada para a edição. Os textos foram traduzidos para inglês e espanhol, além de filmados em Libras. Roteiros de audiodescrição de todas as fotografias também estão disponíveis. A identidade visual e a diagramação do projeto foram realizadas pela Zoludesign.
“O título do trabalho remete ao universo fotografado. Para cortar o cordão umbilical, a parteira antes amarra dois pedaços de cordão de algodão, para interromper a comunicação entre bebê e placenta, permitindo o corte. O corte deste cordão simboliza uma vida que se inicia, um percurso a ser construído. Se o cordão é o fluxo vital, ele também é aquele que estanca esse fluxo para a criação de outros novos”, afirma Queiroga. O trabalho se propõe a dar visibilidade à atividade das parteiras tradicionais e traça um roteiro de lançamentos do projeto pelos locais visitados durante a captação das imagens. “A ideia é promover a interiorização do acesso aos produtos culturais, a formação de público para as artes e para a fotografia, bem como propiciar o retorno do que foi produzido a essas mulheres e às comunidades onde elas estão inseridas”, explica o autor.
O lançamento em Caruaru é o primeiro no roteiro do projeto e conta com a presença de Josefa Alves de Carvalho (Zefinha) e outras mulheres da Associação de Parteiras Tradicionais de Caruaru, além da antropóloga Júlia Morim, Fabiana Moraes e Eduardo Queiroga. Os próximos locais onde o livro será lançado são: aldeias Pankararu, Kapinawa e Xucuru, Igarassu, Ipojuca, Jaboatão dos Guararapes, Palmares, Trindade e Recife. O evento contou com roda de diálogo entre autor e público, com a participação de parteiras, professores, alunos de escolas públicas, universitários e ONGs.
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