10/05/18

Redução de preços nos ingressos teatrais é proposto no Rio

Ricardo Martins e Patrícia Selonk em cena de ‘Hamlet’, espetáculo da Armazém Companhia de Teatro que está indicado a sete categorias
De olho na crise de público que afeta as peças em cartaz na cidade, o produtor Eduardo Barata anunciou ontem, durante a entrega do 12º Prêmio APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro), a campanha de popularização de ingressos para formação de plateia. A cerimônia de premiação foi realizada no Theatro Net Rio, em Copacabana.
Conjuntamente, Barata revelou uma estratégia para driblar a dificuldade que muitos espectadores, sobretudo da Terceira Idade, sentem em lidar com a internet para comprar ingressos, depois que a publicação de roteiros da mídia impressa foi reduzida drasticamente nos últimos anos, prejudicando o acesso à informação sobre os espetáculos em temporada.
Os contemplados levaram para casa uma estátua simbolizando o reconhecimento. Nada de dinheiro. “Tanto a Prefeitura quanto a Rede Globo retiraram o patrocínio, mantido apenas pelo Itaú Cultural”, conta o produtor carioca, que há 30 anos trabalha no setor. Concorrem espetáculos, artistas, produtores e técnicos em 13 categorias. A estrela da noite vai além da crise. Decano do teatro brasileiro, o mineiro Amir Haddad, de 80 anos, participante dos principais momentos do teatro nacional, fundador do grupo Tá Na Rua, será o homenageado. Os apresentadores são os atores Renata Sorrah e Jonathan Azevedo. 
A comissão julgadora é formada por Bia Radunsky, Daniel Schenker, Lionel Fischer, Luiz Felipe Reis, Macksen Luiz, Maria Siman, Rafael Teixeira, Rodrigo Fonseca, Tânia Brandão e Wagner Correa, todos com atuação de excelência no território das artes cênicas. Este ano, os recordistas de indicações são os espetáculos “Suassuna - O auto do Reino do Sol” (oito categorias), “Hamlet”, da Armazém Companhia de Teatro (sete categorias) e “Tom na fazenda” (sete categorias). 
Em sentido horário:Guida Vianna está indicada como melhor atriz por “Agosto”, Armando Babaioff melhor ator por “Tomna fazenda”
Jornal do Brasil
“Na noite de hoje, também estamos comemorando os 15 anos da APTR, fundada quando o Rio havia perdido o Prêmio Moliére e havia uma crise similar à atual. A criação do prêmio APTR foi para que a classe se visse refletida”, afirma Barata. Antes de Amir Haddad, outros medalhões foram homenageados, como o saudoso Sergio Britto e as damas Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg e Bibi Ferreira.
Segundo ele, a crise é cíclica. “Só que há 12 anos, a bilheteria era o principal sustentáculo econômico de manutenção de uma peça. Hoje, não. Apenas fenômenos como os monólogos do ator Paulo Gustavo e da atriz Monica Martelli, que está indicada como melhor autora, conseguem isso”. Daí a iniciativa de se investir em formação de plateia numa campanha. “Estou sempre viajando na ponte-aérea Rio-São Paulo, com espetáculos aqui e lá. No Rio, durante um ano em cartaz a peça ‘Os vilões de Shakespeare’, de Marcelo Serrado, penou com público. Em São Paulo, a lotação estava sempre esgotada nas duas sessões de sábado e uma no domingo. Lá há leis muito ativas, unidades do Sesc por todos os bairros, um baita Sesi na Avenida Paulista com entrada franca. No Rio, alguma coisa precisa acontecer para mudar o quadro”, adverte. 
Barata é contra a ação de Organizações Não-Governamentais (ONGs) e grupos que levam público por valores populares ao teatro. Diz que presenciou pessoalmente a chegada de duas mulheres de classe média alta a um espetáculo de sua produção, com credenciamento de uma entidade do gênero com atuação na Rocinha. “Esses grupos surgiram no lastro da contrapartida obrigatória das leis de incentivo, que prevê 10% da plateia para menos favorecidos. Ocorre que há ONGs que se profissionalizaram nisso, o que é ruim. Na Rocinha, há cinco que disputam entre si. Sou contra. Estamos longe de conseguir uma alternativa para melhorar a questão de formação de plateia”, destaca.
Ao longo desses 30 anos de experiência no setor teatral, o produtor ressalta que, nas décadas de 1990/2000, o fenômeno das “Velhinhas das vans” alcançavam o grande público e lotavam as salas. Pessimista, pensa lá na frente, para onde vão os que estão chegando. “Vejo acontecer uma grande renovação na cena teatral carioca, de grupos, de novos autores, de novos elencos, companhias que estão se reunindo, muitos profissionais se formando pela Escola Martins Pena, a Casa de Artes de Laranjeiras e a Unirio, não sei que mercado há para comportar essa massa que está chegando”, pondera.
Uma tentativa para alterar este quadro é o lançamento da campanha de popularização de ingressos e também de informação no cenário teatral carioca. “Tem muita gente da Terceira Idade que ainda não se adaptou à internet. Há quem ficou órfão do tijolinho no jornal. O público se habituou a procurar este serviço”, completa. 
A APTR está fora da reunião de grupos que vêm se reunindo para mudar o estado de coisas que paralisa equipamentos culturais e a cadeia produtiva das artes cênicas na cidade. “Acho que o setor teatral se politizou de forma partidária, a APTR está fora disso. Somos uma associação representativa, o teatro em nosso entender precisa conversar com o Estado, independente de quem esteja lá. Se não houver diálogo com representante do setor cultural no Poder Executivo, alguém que propicie avanços na Lei Rouanet, no sistema fiscal ou tributário, fica inviável”.

Nenhum comentário: