16/02/19

Precisamos Falar Sobre Suicídio Na Adolescência – Com Clara Dawn


“Vou lhes contar a história de um jovem estudante de arquitetura, aspirante a piloto da aeronáutica e poeta. Cresceu dentro da normalidade de uma família de classe média baixa de pais separados. Era um bom filho. Dedicado aos estudos e muito amoroso com os familiares e também com seus amigos. Aos 14 anos começou a fazer o uso de substâncias psicoativas e como a sua vida parecia seguir dentro da ‘normalidade do uso recreativo da maconha’. Ele concluiu lindamente o ensino médio; ganhou 3 medalhas nacionais de matemática e física; foi tricampeão de Caratê; passou em todos os concursos que prestou, inclusive no vestibular de arquitetura da Universidade Estadual de Goiás, e se preparava para a prova de admissão para piloto da aeronáutica quando algo extraordinário aconteceu: Ele teve um surto psicótico.

Aos 19 anos, ele entrou em Franco Surto Psicótico. Sim, ele surtou literalmente: Ouvia vozes, via pessoas sem cabeças transitando pelas ruas, achava que tinha o poder curar pessoas e animais, arquitetou um plano extraordinário para salvar o planeta… As vozes eram insanas, agressivas, persuasivas e incessantes. Ele parou de dormir e de se alimentar… Perdeu mais de 10 quilos em poucos dias. A internação foi inevitável, pois o risco de suicídio era iminente.

O diagnóstico: Transtorno Psicótico Agudo, tipo Esquizofreniforme (Esquizofrenia Paranóide F20.0 – Cid 10) – com alteração grave da consciência, pensamento delirante, ideação suicida e alucinações visuais.

– Isso tem cura doutora?
– Não.
– Tem controle?
– Se ele nunca mais usar qualquer tipo de droga, pode ser que ele possa ter uma vida livre dos surtos, mas nunca mais poderá parar de tomar os remédios.  Mas se ele usar maconha mais uma única vez, nós não conseguiremos trazê-lo de volta a lucidez nunca mais.

Ele saiu da clínica livre do surto. Compreendeu a doença e aceitou o tratamento: visitas semanais à terapia e visitas diárias aos Narcóticos Anônimos. 5 meses depois ele decidiu que deveria tirar à prova o que a médica 
disse e fez aquele que seria o último back de sua vida.

No dia seguinte estava outra vez em surto. Desta vez mais grave. As ideações e tentativas de suicídio eram diárias. Precisou ser internado outra vez. Mas nenhum remédio foi bom o bastante para livrá-lo das malditas vozes. Nenhum tipo de tratamento severo foi autorizado: do tipo lobotomia ou eletroconvulsoterapia por sua família. E era desejo do próprio rapaz manter-se acordado a fim de escrever tudo o que estava lhe acontecendo. E ele escreveu a sua história como aqueles que sabem exatamente o fim que dará a ela.

Ele sabia o que não queria da  vida. Ele não queria viver daquele jeito. Para alguns a esperança não é a última que morre, mas é a última esperança. Ele não queria morrer, ele apenas não queria mais viver. É diferente. E no dia 17 de agosto de 2013, aos 20 anos, o jovem poeta optou pela automorte, se enforcando no quarto da clínica onde estava internado. O nome deste jovem é Arthur Miranda, e a sua mãe sou eu”.  Clara Dawn

Fonte:portalraizes.com

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