07/04/19

Casebre pequeno abandonado por Mariana Véras


Um lençol estendido desbotando 
Num arame amarrado assim na telha 
E do lado uma casa de abelha 
Que de tanto ter mel tava pingando... 
Na parede, um retrato se rasgando 
Onde a traça do tempo se encostou
E a janela da sala que quebrou
Tinha marca da tinta do passado
E o casebre pequeno abandonado
Durou tempo demais, mas acabou

E era como se eu visse a sala cheia
Um sofá encostado na parede
A cadeira no canto e uma rede
Um cachorro melado de areia
Um retrato fiel da santa ceia
E a estante de livro bagunçada
Uma cama no quarto, desforrada
E a cortina na porta balançando
Uma vela num copo se apagando
E a fumaça subindo prateada

Dei adeus ao lugar que foi abrigo
Num pedaço da minha mocidade
E essa falta que sinto é na verdade
A lembrança que levo aqui comigo
Acho até que o destino é meu amigo
Quando bate na porta no passado
E uma cena que havia sepultado
Visitou o meu peito e foi embora
E uma parte de mim ainda mora 
No casebre pequeno abandonado

Um comentário:

Unknown disse...

Vigi maria