23/12/19

“A participação popular é uma das marcas do nosso trabalho”

Foto: Roberto Soares

Após ter ficado em terceiro lugar nas eleições para prefeito de Caruaru em 2016, o Delegado Erick Lessa chegou à Assembleia Legislativa no ano passado. Por não fazer parte de nenhuma ‘linhagem’ política tradicional da Capital do Agreste, ele foi alvo de holofotes durante o ano inteiro. Para alguns analistas políticos, Lessa seria uma “incógnita”. O deputado respondeu com uma postura baseada em poucas palavras e muitas ações, desenvolvendo um trabalho marcado pela participação popular, mobilizando os cidadãos e articulando medidas com o Poder Executivo Estadual. Nesta entrevista ao nosso blog, o deputado aponta as principais características do mandato, demonstra preocupação com o extremismo ideológico na política nacional e sinaliza os rumos para as eleições do próximo ano. Confira:

Já estamos em dezembro. Quais pontos o senhor destacaria como mais relevantes neste primeiro ano de mandato?

Deputado Erick Lessa – Tem sido um ano de muito trabalho. Faço parte de mais de 10 colegiados da Assembleia Legislativa – inclusive na condição de presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico e Turismo, além de coordenador-geral da Frente Parlamentar de Segurança Pública. Apesar de trabalhar na capital, continuo vivendo em Caruaru, conversando com as pessoas e sentindo na pele a realidade do município.
Posso dizer que um dos pontos distintivos do nosso trabalho é a interiorização, com estímulo à participação popular. Promovemos audiências públicas em cidades como Caruaru, Garanhuns, Santa Cruz do Capibaribe e Canhotinho, aproximando a estrutura da Assembleia Legislativa da população. Essas audiências geraram resultados. Por exemplo, a audiência que fizemos em Caruaru sobre a Feira da Sulanca resultou na elaboração de um relatório do Corpo de Bombeiros alertando para a falta de estrutura do local. Em Santa Cruz, realizamos uma audiência com mais de mil pessoas para debater a Lei Federal nº 13.855/2019, que dificultaria a vida dos loteiros. Após a audiência pública, o governador assinou um decreto-lei regulamentando o transporte alternativo no estado, oferecendo tranquilidade e dignidade para mais de 30 mil famílias que dependem deste tipo de atividade.

No projeto Deputado Presente, há um diálogo com a comunidade onde se realiza, já aconteceram ações assim no Inocoop, Cidade Alta, Agamenon e Adalgisa Nunes.
A participação das pessoas também tem sido uma das tônicas de nossa atuação. Exemplo claro é o Residencial Luiz Bezerra Torres. No dia 26 de setembro, realizamos no local o projeto Deputado Presente. As principais demandas apresentadas pelos cidadãos foram falta de segurança pública e água. Em menos de um mês, articulamos a estrutura móvel das polícias Militar e Civil, e levamos uma comitiva de moradores para conversar com o gerente executivo da Compesa, no sentido de buscar soluções para o abastecimento de água no residencial. Entendo que, no momento atual, as pessoas não querem exercer a cidadania apenas no momento do voto, mas também atuar efetivamente nas decisões.
Para finalizar esta resposta à sua pergunta, permita-me apresentar mais um exemplo: no dia 15 de outubro, realizamos uma audiência pública para debater o aumento da população em situação de rua em Pernambuco. As pessoas que vivem em situação de rua deram seus testemunhos e contribuições, ao lado de secretários de Governo e representantes da Defensoria Pública do Estado e da União. Como uma proposta de minorar a questão, nós apresentamos uma Proposta de Emenda à Constituição de Pernambuco, para que a Carta Magna do estado passe a ter um olhar específico a esta parcela da população, e também elaboramos um projeto de lei que estabelece que os municípios realizem levantamentos periódicos acerca das pessoas em situação de rua, para que sejam implementadas políticas públicas de proteção a estes cidadãos, muitas vezes tratados como invisíveis por uma sociedade injusta e excludente.

Quais as principais dificuldades encontradas, que foi necessário superar?

EL – Não costumo olhar para as dificuldades, embora reconheço que existem desafios a serem superados em todas as atividades que a gente se propõe a executar. O risco de ser atingido por pedradas acontece quando a pessoa se propõe a ‘ser vidraça’, mas eu nunca me omiti no cumprimento do dever. O líder negro cristão Martin Luther King dizia: “Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito”. É pensando desta forma que desvio das pedras no caminho e continuo a jornada. Percebo que, cada vez mais, as pessoas estão entendendo nossa forma diferente de fazer política: olhando nos olhos e, com sinceridade, buscando encontrar soluções para os problemas da comunidade.

Percebemos que o senhor tem um bom alinhamento com o governador Paulo Câmara, que se coloca em um campo de centro-esquerda e oposição ao atual Governo Federal. Ao mesmo tempo, o senhor também se identifica com a ala mais conservadora no campo da direita na política nacional. Como o deputado se define politicamente?

EL – O cientista político Norberto Bobbio diferencia que enquanto a esquerda é baseada na linha teórica da igualdade social, a direita defende a liberdade individual. Porém, o extremismo no enquadramento ideológico que assola o Brasil atualmente está promovendo muitos danos. Há vícios de ambos os lados, dificultando a dialética e o diálogo sadio, maduro e não-maniqueísta. Quatro séculos antes de Cristo, Aristóteles já afirmava que “a virtude está no meio”. Parece-me que, ainda hoje, precisamos entender melhor este pensamento, que não tem a ver com ‘mediocridade’, mas com equilíbrio.

"Fé em Ação" mobiliza dezenas de voluntários para levar solidariedade e cidadania a várias comunidades, na zona rural e urbana.
Convém ressaltar que a Constituição Federal define o Brasil como um “Estado Democrático de Direito”. Este conceito implica na soberania popular, no respeito à vontade da maioria (democracia), mas também no respeito às minorias (direito). Assim, defendo o Estado Democrático de Direito. Apoio o trabalho, a geração de riquezas aliada ao desenvolvimento social, à valorização da família, ao respeito à propriedade, e a um Estado que preste serviços públicos com eficiência, respeitando os limites da democracia.

Os bons indicativos da prefeita nas pesquisas que têm sido divulgadas pela imprensa apontam que ela venceria no primeiro turno das eleições do próximo ano. Porém, quando somamos os índices dos possíveis candidatos opositores, que possivelmente estariam juntos num eventual segundo turno, ela perderia. Nesta ótica, a pergunta é: qual sua real projeção diante destes números e, como se auto avalia neste processo em relação a 2020?

EL – Muitas lideranças políticas e pretensos candidatos a vereador têm me procurado. Eu venho conversando com eles, procurando construir pontes, alinhando filiações. Se o povo quiser e houver permissão do partido, serei candidato a prefeito no próximo ano. Porém, a preocupação excessiva com as eleições, por vezes, desconecta os agentes políticos das reais necessidades das pessoas. A minha prioridade agora é trabalhar, sem interferência das questões de coloração partidária. Meu compromisso é com o povo de Caruaru e da região, que quer ser atendido com serviços públicos que realmente funcionem. O que me motiva a trabalhar é o amor por Caruaru. Esta foi a cidade que escolhi para viver e criar minha família. Meu desejo é contribuir ainda mais para que tenhamos a cidade que merecemos, onde as pessoas possam viver com mais justiça, segurança, educação, saúde, infraestrutura e dignidade.

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