Foto: Roberto Soares |
Após
ter ficado em terceiro lugar nas eleições para prefeito de Caruaru em 2016, o
Delegado Erick Lessa chegou à Assembleia Legislativa no ano passado. Por não
fazer parte de nenhuma ‘linhagem’ política tradicional da Capital do Agreste,
ele foi alvo de holofotes durante o ano inteiro. Para alguns analistas
políticos, Lessa seria uma “incógnita”. O deputado respondeu com uma postura
baseada em poucas palavras e muitas ações, desenvolvendo um trabalho marcado pela
participação popular, mobilizando os cidadãos e articulando medidas com o Poder
Executivo Estadual. Nesta entrevista ao nosso blog, o deputado aponta as principais características do
mandato, demonstra preocupação com o extremismo ideológico na política nacional
e sinaliza os rumos para as eleições do próximo ano. Confira:
Já
estamos em dezembro. Quais pontos o senhor destacaria como mais
relevantes neste primeiro ano de mandato?
Deputado Erick Lessa –
Tem sido um ano de muito trabalho. Faço parte de mais de 10 colegiados da
Assembleia Legislativa – inclusive na condição de presidente da Comissão de
Desenvolvimento Econômico e Turismo, além de coordenador-geral da Frente
Parlamentar de Segurança Pública. Apesar de trabalhar na capital, continuo
vivendo em Caruaru, conversando com as pessoas e sentindo na pele a realidade
do município.
Posso
dizer que um dos pontos distintivos do nosso trabalho é a interiorização, com
estímulo à participação popular. Promovemos audiências públicas em cidades como
Caruaru, Garanhuns, Santa Cruz do Capibaribe e Canhotinho, aproximando a
estrutura da Assembleia Legislativa da população. Essas audiências geraram
resultados. Por exemplo, a audiência que fizemos em Caruaru sobre a Feira da
Sulanca resultou na elaboração de um relatório do Corpo de Bombeiros alertando
para a falta de estrutura do local. Em Santa Cruz, realizamos uma audiência com
mais de mil pessoas para debater a Lei Federal nº 13.855/2019, que dificultaria
a vida dos loteiros. Após a audiência pública, o governador assinou um
decreto-lei regulamentando o transporte alternativo no estado, oferecendo
tranquilidade e dignidade para mais de 30 mil famílias que dependem deste tipo
de atividade.
No projeto Deputado Presente, há um diálogo com a comunidade onde se realiza, já aconteceram ações assim no Inocoop, Cidade Alta, Agamenon e Adalgisa Nunes. |
A
participação das pessoas também tem sido uma das tônicas de nossa atuação.
Exemplo claro é o Residencial Luiz Bezerra Torres. No dia 26 de setembro,
realizamos no local o projeto Deputado Presente. As principais demandas
apresentadas pelos cidadãos foram falta de segurança pública e água. Em menos
de um mês, articulamos a estrutura móvel das polícias Militar e Civil, e
levamos uma comitiva de moradores para conversar com o gerente executivo da
Compesa, no sentido de buscar soluções para o abastecimento de água no
residencial. Entendo que, no momento atual, as pessoas não querem exercer a
cidadania apenas no momento do voto, mas também atuar efetivamente nas
decisões.
Para
finalizar esta resposta à sua pergunta, permita-me apresentar mais um exemplo:
no dia 15 de outubro, realizamos uma audiência pública para debater o aumento
da população em situação de rua em Pernambuco. As pessoas que vivem em situação
de rua deram seus testemunhos e contribuições, ao lado de secretários de
Governo e representantes da Defensoria Pública do Estado e da União. Como uma
proposta de minorar a questão, nós apresentamos uma Proposta de Emenda à
Constituição de Pernambuco, para que a Carta Magna do estado passe a ter um
olhar específico a esta parcela da população, e também elaboramos um projeto de
lei que estabelece que os municípios realizem levantamentos periódicos acerca
das pessoas em situação de rua, para que sejam implementadas políticas públicas
de proteção a estes cidadãos, muitas vezes tratados como invisíveis por uma
sociedade injusta e excludente.
Quais as principais
dificuldades encontradas, que foi necessário superar?
EL –
Não costumo olhar para as dificuldades, embora reconheço que existem desafios a
serem superados em todas as atividades que a gente se propõe a executar. O
risco de ser atingido por pedradas acontece quando a pessoa se propõe a ‘ser
vidraça’, mas eu nunca me omiti no cumprimento do dever. O líder negro cristão
Martin Luther King dizia: “Se não
puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder
andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito”. É pensando desta
forma que desvio das pedras no caminho e continuo a jornada. Percebo que, cada
vez mais, as pessoas estão entendendo nossa forma diferente de fazer política:
olhando nos olhos e, com sinceridade, buscando encontrar soluções para os
problemas da comunidade.
Percebemos que o senhor tem um
bom alinhamento com o governador Paulo Câmara, que se coloca em um campo de centro-esquerda
e oposição ao atual Governo Federal. Ao mesmo tempo, o senhor também se
identifica com a ala mais conservadora no campo da direita na política nacional.
Como o deputado se define politicamente?
EL –
O cientista político Norberto Bobbio diferencia que enquanto a esquerda é
baseada na linha teórica da igualdade social, a direita defende a liberdade
individual. Porém, o extremismo no enquadramento ideológico que assola o Brasil
atualmente está promovendo muitos danos. Há vícios de ambos os lados,
dificultando a dialética e o diálogo sadio, maduro e não-maniqueísta. Quatro
séculos antes de Cristo, Aristóteles já afirmava que “a virtude está no meio”. Parece-me
que, ainda hoje, precisamos entender melhor este pensamento, que não tem a ver
com ‘mediocridade’, mas com equilíbrio.
"Fé em Ação" mobiliza dezenas de voluntários para levar solidariedade e cidadania a várias comunidades, na zona rural e urbana. |
Convém
ressaltar que a Constituição Federal define o Brasil como um “Estado Democrático
de Direito”. Este conceito implica na soberania popular, no respeito à vontade
da maioria (democracia), mas também no respeito às minorias (direito). Assim,
defendo o Estado Democrático de Direito. Apoio o trabalho, a geração de
riquezas aliada ao desenvolvimento social, à valorização da família, ao respeito
à propriedade, e a um Estado que preste serviços públicos com eficiência,
respeitando os limites da democracia.
Os bons indicativos da
prefeita nas pesquisas que têm sido divulgadas pela imprensa apontam que ela
venceria no primeiro turno das eleições do próximo ano. Porém, quando somamos
os índices dos possíveis candidatos opositores, que possivelmente estariam
juntos num eventual segundo turno, ela perderia. Nesta ótica, a pergunta é:
qual sua real projeção diante destes números e, como se auto avalia neste
processo em relação a 2020?
EL – Muitas
lideranças políticas e pretensos candidatos a vereador têm me procurado. Eu venho
conversando com eles, procurando construir pontes, alinhando filiações. Se o
povo quiser e houver permissão do partido, serei candidato a prefeito no
próximo ano. Porém, a preocupação excessiva com as eleições, por vezes,
desconecta os agentes políticos das reais necessidades das pessoas. A minha
prioridade agora é trabalhar, sem interferência das questões de coloração
partidária. Meu compromisso é com o povo de Caruaru e da região, que quer ser
atendido com serviços públicos que realmente funcionem. O que me motiva a
trabalhar é o amor por Caruaru. Esta foi a cidade que escolhi para viver e
criar minha família. Meu desejo é contribuir ainda mais para que tenhamos a
cidade que merecemos, onde as pessoas possam viver com mais justiça, segurança,
educação, saúde, infraestrutura e dignidade.
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