José Rodrigues de Jesus vinha de uma família religiosa, católica e tinha por Nossa Senhora da Conceição uma devoção especial. Por sua vez, os assentamentos dos livros de batismos e casamentos da igreja de São José dos Bezerros, mostram que as primeiras atividades religiosas em Caruaru, começaram ainda 10 (dez) anos antes da construção da primitiva capela de Nossa Senhora da Conceição de sua propriedade. Esses eventos - contando apenas os batismos foram mais de 100 (cem) - aconteceram quase todos na residência do casal João Fernandes de Souza e Josefa Maria, moradores da Fazenda Caruru, onde provavelmente deveria existir um pequeno oratório.
Este senhor, João Fernandes de Sousa, deveria ser uma pessoa da mais alta confi- ança de José Rodrigues de Jesus, pois além de morador na fazenda, onde provavelmente exercia alguma função de chefia, era também seu cunhado. Sua esposa, Josefa Maria, era filha do primeiro casamento de Eugênia de Almeida Pereira, mãe de Maria do Rosário, a esposa de José Rodrigues de Jesus.
Por outro lado, também 10 (dez) anos antes da construção da capela de José Ro- drigues de Jesus, comprovando a religiosidade da família, no dia 22/05/1772, foi lavrada uma escritura de doação, por sua irmã Maria do Valle Pereira, moradora e proprietária da Fazenda Santa Rosa localizada nas imediações da Fazenda Caruru, de 200 (duzentas) braças em quadra de terras de sua fazenda, mais 10 (dez) novilhas e 01 (um) touro para servir de patrimônio para garantir a manutenção de uma capela que pretendia construir nas suas terras, em honra de Santa Rosa e de Nossa Senhora da Conceição.
Na verdade, a construção dessa primitiva capela nunca saiu do papel, por motivos ainda desconhecidos. Porém, é bem provável essa intenção e o oratório de seu cunhado, tenham influenciado na decisão. Assim José Rodrigues de Jesus e sua esposa, no ano de 1781, resolveram construir sua capela, sob invocação de Nossa Senhora da Conceição.
Na época, para se erigir uma capela, era necessário atender algumas exigências da Igreja. A primeira delas, encaminhada ao representante eclesiástico da região, constava de uma solicitação para a construção propriamente dita, e a segunda um detalhamento de como seriam gerados os recursos para a sua manutenção.
Dentro dessa linha, o casal José Rodrigues de Jesus encaminhou em 21 de fevereiro de 1781, petição ao bispo de Olinda - bispo de Pernambuco - solicitando licença para erigir a capela e que fosse ele nomeado seu administrador.
A seguir, Auto de Justificação do Patrimônio da Capela:
O Beneficiado Clemente Fernandes de Moraes, Presbytero Secular, Escrivão da Câ- mara Episcopal neste Estado de Pernambuco, por Sua Excia. Revma. que Deos Guarde etc. Certifico que revendo os Autos do Patrimônio de que trata a petição su- pra, nelles achei proferida a sentença do theor seguinte: Visto estes Autos de Justifi- cação do Patrimônio da Capella de Nossa Senhora da Conceiçam, consta das diligen- cias feitas etc. que José Rodrigues de Jesus e sua mulher Maria do Rosário fizerão doação de húa sorte de terras de criar gado, no chamado Caruru, no Curato de São José dos Bezerros, para patrimônio de sua Capella com o título de Nossa Senhora da Conceição, e como pelo dito dos avaliadores se prova valeram huns duzentos mil reis e poderem render seis mil reis annualmente (grifo nosso)e pelas testemunhas que dão livres de foro, penhora, hipoteca ou outro algum encargo, e que os doadores o podem fazer, sem prejuízo de terceiros, portanto o julgo por título para patrimônio da dita Capella e nelle interponho minha autoridade e decreto judicial.
Pague as custas. Olinda 21 de fevereiro de 1781. Eu Clemente Fernandes de Moraes o escrevi e assignei.
Por sua vez, o Bispo concedendo a devida licença, baixou a seguinte PROVISÃO EPIS- COPAL, a seguir transcrita e anexada:
Dom Thomaz da Encarnação Costa Lima por mercê de Deos e da Santa Sé Apostólica, Bispo de Pernambuco, e do Conselho de Sua Majestade Fidelíssima etc. Fazemos saber que por sua petição nos enviou a dizer José Rodrigues de Jesus e sua mulher Maria do Rosário de Jesus morador na Freguesia de S. José de Bezerros, que elle queria erigir huma Capella por invocação a N. Sra da Conçam em sua Fazda Caruru dessa frega em lugar decente para que já havia constituido sufficiente Patrimônio, pedindonos por fim de sua supplica lhe concedessemos licença para se erigir a dita Capella, e benzer a primeira pedra, e lançar, e no lugar costumado. E attendendo nós a sua justa supplica, visto ser obra tão pia do serviço de Deus, e bem das almas, e por nos acharmos legitimamente impedidos para fazermos pessoal essa função, que só a nós pertence de Direito, commettemos nossas vezes ao Reverendo Pároco da dita Freguesia, para que possa benzer a primeira pedra, sendo afeiçoada por oficial de pedreiro, com as cruzes necessárias, e lançar-se no lugar que lhe compete, segundo as dispoziçõens do Ritual Romano, e depois de erecta se requererá a bênção della. Dada em Olinda sob sello de nossa Chancelaria e nosso signal aos 24 de fevereiro de 1781. Eu Clemente Fernandes de Moraes, Escrivão da Camera Episcopal, a Sobescrevi.
No sentido do Direito Eclesiástico a capela mesmo de propriedade privada, era su- bordinada ao curato de Bezerros como se daquela fosse uma filial e incorporada à paróquia de Vitória de Santo Antão, a qual Bezerros era ligada.
Posteriormente, com a elevação do curato de Bezerros à condição de paróquia, a capela de Nossa Senhora da Conceição ficou subordinada diretamente à igreja de São José dos Bezerros e após a criação da paróquia de São Caetano da Raposa, a esta subordinada.
Cumpridas as formalidades e atendendo a determinação da Provisão Episcopal, José Rodrigues de Jesus solicitou a bênção da primeira pedra, conforme petição reproduzida por Souto Maior (2005, p.65/66) do livro do curato de Bezerros:
Aos 11 de junho de 1781 em virtude da provisão atrás, no lugar do Caruru, deste Curato de São José dos Bezerros, benzi a primeira pedra para a capela de Nossa Senhora da Conceição, a qual também assistiu o Reverendo Padre Reis Leitão. Para constar passei esta minha letra e sinal. Manoel da Ascenção, Cura dos Bezerros.
Concedida a devida licença para construção da Capela, mediante a provisão ante- rior, José Rodrigues de Jesus, por meio de seu procurador Souza Vitor, redigiu petição ao curato de São José dos Bezerros a fim de benzê-la, datada de 20 de maio de 1782, a seguir transcrita:
Dizem José Rodrigues de Jesus e sua mulher, Maria do Rosário, moradores na Fa- zenda Caruru, senhores e possuidores da mesma, que eles por ordem desse Juizo alcançaram a Provisão junta para erigirem a Capela com a invocação de Nossa Se- nhora da Conceição a qual deram principio e se acha com a capela-mor erecta e parte do corpo da mesma, e porque depois de finda a obra e paramentada do necessario pretendem faze-la benzer para nella se celebrarem os oficios divinos, húa vez fica muy distante de Olinda, requerem húa Provisão para o Revdo. Paroco a poder ben- zer, depois de estar finda e paramentada.
Pede a Provisão para o Revdo. Paroco com as clausulas alegadas. São José dos Bezerros 20 de Mayo de 1782. Souza Vitor.
Deferida a essa petição pelo Bispo de Olinda, Dom Thomaz da Encarnação Costa Lima, e após a capela de Nossa Senhora da Conceição ter sua construção concluída e devidamente paramentada, o padre Félix Xavier de Lima e Mello, o novo cura da Igreja de São José dos Bezerros, devidamente comissionado, procedeu em 05 de outubro de 1782 sua bênção solene, conforme transcrição da certidão.
Felix Xavier de Lima e Mello, Presbytero Secular e Cura de São José dos Bezerros, por S. Excia. Revma. que Deos Guarde, certifico que em vista de sua provisão, aos cinco dias de outubro do procedente anno de mil setecentos e oitenta e dois annos, benzi a Capela de Nossa Senhora da Conceição na Ribeira do Ipojuca, no lugar Caruru, de que eh fundador e administrador José Rodrigues de Jesus na forma em que depõe o Ritual Romano e, para constar, lavrei o presente de minha lettra e signal.
Hoje 5 de outubro de 1782. Félix Xavier de Lima e Mello.
De início, segundo o livro FATOS HISTÓRICOS E PITORESCOS DE CARUARU de 1957, de Rosalino da Costa Lima e Zacarias Campelo:
A igreja de Nossa Senhora da Conceição era uma simples capela de linhas simples, de aspecto modesto e sem motivos decorativos, contando apenas duas portas. O corpo central e o altar-mor eram separados por um arco baixo e não com a altura que atualmente apresenta. Os dois corredores laterais que se interligam com a parte central, por meio de dois pequenos arcos em cada lado, não existiam, foram levantados somente quando da construção da primeira torre.
Por sua vez, o Auto de Justificação, ao mencionar a capacidade da “doação de uma sorte de terras poder render dividendos”, comprova que Caruaru em 1781 (ano da licença de sua construção), já era um lugar crescido e bem habitado. Outro acontecimento que também contribui para essa afirmação ocorreu no dia 11 de maio de 1782, com a crisma simultânea de 372 (trezentos e setenta e duas) pessoas, conforme consta nos livros da igreja de São José dos Bezerros, ocasião que além do cura de Bezerros também se fez presente o padre visitador Custódio Martins.
Desde os tempos de sua construção, a capela era o centro do arruado, ponto de referência para os habitantes, para os mascates e vaqueiros em trânsito e centro da vida social da comunidade. Porém, indicando também, desde que já éramos um lugar crescido e bem habitado, que a igreja de Nossa Senhora da Conceição não foi o nosso ponto de partida, o marco zero da transformação de Fazenda em um lugar.
As festas religiosas foram importantes fatores impulsionadores do desenvolvimen- to do lugar, a exemplo das festas realizadas em homenagem a Nossa Senhora da Conceição que se expandiu, até se tornar também na comemoração do Natal e da entrada do Ano Novo, que viraria, por sua grandeza e beleza, referência em toda região.
Por outro lado, a construção da primeira torre da igreja, a do lado oposto ao rio Ipojuca, foi erguida entre os anos de 1886 e 1887, juntamente com o cruzeiro situado a sua frente.
Já a segunda torre, a do lado do rio, foi construída em 1907 pelo mestre pedreiro José Pereira Ramos, numa iniciativa do prefeito e devoto da virgem, coronel Neco Porto.
Aliás, o coronel já tinha sido um dos principais responsáveis pela construção da primeira torre quando, na condição de deputado provincial, incluiu verba específica no orça- mento provincial de 1886
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