Sê verão
Sê o sol
Sê quente
Sê os picolés
Tomados às três da tarde
Pelos casais acalorados
Sê as brisas leves
As roupas de banho
Sê a alegria sem fim
Sê outono também
Sê a necessidade
De se desfolhar
Sê o amarelo queimado
Das folhas
No chão das praças
Sê o vento
Que começa a tomar força
Sê o chá das cinco
O desnudar das árvores
Sê o preparar calmo
Do que vem por aí
Sê o que vem por aí
Sê inverno
Sê as noites frias
Os anjos de neve
Sê o cristal
Na língua de uma criança
Abobalhada por tanto branco
Sê o congelar da vida
A tempestade pesada demais
Sê vento avassalador
Que quebra e destrói também
Mas, principalmente,
Sê primavera
Sê o crescer do verde
Depois do descongelar da neve
Sê o colorir das flores
Sê os vestidos esvoaçantes
Sê ar de encantamento
Sê o desabrochar da vida
Depois de uma dificuldade
Sê o desabrochar da beleza
Apesar da dificuldade que virá
Sê o desabrochar do amor
Que não desiste de ser flor
E florir
A cada turbilhão desse ciclo.
Marília Rodrigues
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