13/01/18

Debate sobre o evento "Ocupe a Estação" no Cultura Entrevista


Na sexta-feira, 12 de janeiro, a Rádio Cultura do Nordeste promoveu no Programa Cultura Entrevista, um debate sobre a Estação Ferroviária de Caruaru. Foram convidados Roberto Gercino, responsável pelo Centro Cultural Boi Tira-Teima Mestre Gercino, Anderson do Pife, responsável pela Casa do Pife e pelo Movimento de Cultura Popular e, representando a Prefeitura Municipal de Caruaru, pela Fundação de Cultura e Turismo, o músico e sambista Colibri Brasil, que responde como Coordenador de Patrimônio Cultural do Município. Programa intermediado pela competente jornalista Elaine Dias.

Vamos a alguns destaques desta entrevista: 

OCUPE A ESTAÇÃO

Anderson do Pife - O Ocupe a Estação é um movimento que surgiu no passado quando as manifestações de cultura popular começaram a se manifestarem ali. Entre elas, em 2010 houve uma manifestação forte com Nino do Rap, que chegou a ser vereador, e ocupava comum pessoal de Hip Hop, Skate. Depois, em 2012 já haviam discussões sobre a ocupação artística no local. E na III Conferência Municipal de Cultura realizada em 2013, teve várias propostas de ocupação do local que foram aprovadas. Na época, o prefeito José Queiroz já utilizava o espaço no período junino e teve a sensibilidade de destinar aquele espaço, passando a ser o maior centro de diversidade cultural do estado de Pernambuco.
Lá encontramos o mamulengo na Casa Mamusebá, a Casa do Boi Tira-Teima, a Casa do Pife, a Casa dos Artistas, a Casa do Cordel (Academia caruaruense de Cordel), o Centro de Prática e Pesquisa N'Golo Capoeira Angola.
Enquanto membro do Conselho Municipal de Política Cultural eu acompanhei a formação do Comitê para tratar da Estação, ainda no ano passado, e foi mostrado um projeto muito bacana, só que depois começou uma série de negativa em relação ao local, "a gente não pode dar mais segurança", "a gente não pode investir mais no local", "não pode isso", "não pode aquilo"... e uma polêmica em cima de quem respondia pelo local, se era o município, se era o IPHAN ou se era a Estação Ferroviária.
Então eu entendi que era o momento de convocar não só os artistas, mas toda sociedade de Caruaru para dialogar sobre o assunto e pedir uma audiência pública sobre o assunto, que vai realmente ser realizada, com a presença do pessoal, para saber como vai ser isso. Queremos celeridade no projeto, e que ele seja tratado com delicadeza pois não são apenas "casas" que temos ali, temos o legado histórico de Caruaru.
Outra coisa, eu não sou o idealizador do "Ocupe Estação", ele já vem existindo há muitos anos, eu apenas dando continuidade.

Colibri - É bem interessante essa história. Porque como o Anderson falou o espaço não pertence ao município. Quem administra é o DNIT (Linha Férrea) e o IPHAN (Galpões). O presidente da Fundação já entrou em contato com o IPHAN para ceder os dois prédios, e com o DNIT para utilizar a linha férrea. Estamos aguardando a resposta do Governo Federal.
O projeto para lá é perfeito. Vemos a precariedade daquelas construções que foram erguidas de forma irregular,pois não podia se construir em cima da linha férrea. Primeiro retiramos os restaurantes para descobrir a linha férrea. E vai retirar também as outras dos movimentos culturais. E um novo espaço será feito para acomodar com mais dignidade os segmentos. Onde funcionará também o Conselho de Cultura.

Roberto Gercino - É a construção de uma cidade cenográfica, que eu creio que a falha foi desde o início, não retirar tudo após o São João. Aí despertou nos artistas a vontade de ocupar e a nós foi cedido o espaço.
Na época do presidente André Alexey só havia lá o Mamusebá, eu solicitei conversando com Dja (na época Diretor de Cultura) e em seguida colocamos o Boi Tira-Teima. Eu já não tinha a intenção de ficar lá permanentemente, pois a nossa sede nós já temos, mas uma forma de mostrar mais nosso trabalho.
Precisamos nos manter no local, porém de forma formalizada. Estamos ansiosos aguardando que IPHAN, Prefeitura, Fundação formalize para que tenhamos condição de manter ali nosso acervo. 

ENQUANTO A DELIBERAÇÃO OFICIAL NÃO SAI 
O QUE A PREFEITURA PODERIA FAZER...

Colibri - A gente vai ter que esperar. Agora a manifestação (Ocupe a Estação feita pelos artistas) é livre e é bonita, ... clamar, gritar!. Eu espero que os órgãos atenda. Não dá para ficar com as casas daquele jeito. É preciso melhorar e não deixar do jeito que está.

MOVIMENTO DE CULTURA POPULAR

Anderson do Pife - Existe desde 2014 e mobiliza segmento de toda sociedade, como estudantes, movimentos sociais, universitários, etc. Atualmente acontece um mapeamento das atividades culturais e musicais de transmissão oral aqui em Caruaru. Muitos trabalhos de doutorado e de pós-doutorado saíram de lá. Os professores da Universidade Federal de Pernambuco também estão engajados e envolvidos.
Creio que a partir do momento que a gente começa a entender a identidade cultural de uma região como parte do que é responsável, não só pelo fator cultural, mas também como fator econômico, a gente começa a transpor isso para população.
Antes do período junino, nós cuidamos do local para deixá-lo bonito e aconchegante. O artista Nadnelson fez uma obra de arte em toda fachada central da Casa do Pife. as outras casas também. Em junho de 2017 tudo foi restaurado e renovado,inclusive para ficar pronto no São João. então os espaços estavam: iluminação pública, a segurança, etc.

A cultura popular vem d povo e o povo precisa ocupar esses espaços.
A cultura está fadada a morrer. isso é fato. Então precisamos estar em evidência. a partir do momento em que você tem as manifestações culturais no coração da cidade, dando ênfase a todo movimento que existiu durante séculos então deve-se dar condição para que aquele espaço, enquanto esteja respirando, se mantenha vivo.

Se existe a possibilidade de ir para outro lugar, beleza, mas enquanto não nos mudamos deveria ser dado as condições dignas de se manter.
A exemplo disso está a Feira da sulanca, onde foi investido mais de 7 milhões para manutenção e ao mesmo tempo que se prepara para retirar do local.   

REPRESENTAÇÕES NO DIA DO "OCUPE"

Anderson do Pife - Outra coisa, lá no dia tivemos 112 pessoas que assinaram a ata, tivemos representantes das casas sim, Valdez da casa dos Artistas havia viajado para Gravatá e não chegou à tempo, mas teve representante do Mamusebá, da o presidente da Academia Caruaruense de Cordel (casa do Cordel), da Capoeira Angola, professores universitários do Campus Caruaru, alunos do curso de Extensão da Universidade Federal, com sua professora Elisabeth lá presente, o poeta Raudênio Lima, o representante da Associação dos Trios Pé-de-Serra de Caruaru, Didi, o representante de Audio Visual do Conselho de Cultura, Edvaldo, dezenas de artistas da cultura popular e de grupos (Bois, bandas de Pife), atores, artistas plásticos e cantores, um representante da Câmara Municipal de Vereadores, Edjailson CaruForró, professor e pesquisador José Urbano, a imprensa, etc.
O documento será entregue ao Poder Legislativo para que chame todos os envolvidos para uma Audiência Pública.
Eu não tenho nada contra nenhuma gestão, eu apenas quero que o espaço seja mantido de forma digna e não precise fechar.
      
Roberto Gercino - É necessário que melhore. O Tira-Teima caminha para cem anos de existência, mas a cada ano avançamos para conquistar novos espaços. 
Eu tenho conhecimento que em outros municípios quem administra a Estação Ferroviária é o município. Quando as autoridades entenderem que o povo é que tem que merecer as coisas boas isso vai acabando. Tem cidades que administra muito bem as estações ferroviárias. Nossos representantes políticos devem se unir em prol do povo.
Artistas como Luiza Maciel, Tavares da Gaita, e tantos outros de saudosa memória, lutaram muito pela cultura popular. Eu estou aqui hoje e estou novo ainda, estamos batalhando para ver se ao menos nossos netos conquistam. temos que lutar e não desistir.

Precisamos lutar pelos nossos espaços e não ficar mendigando. espero que eles possam vir (para a Audiência Pública) com posições concretas. 
Como disse o outro, não devemos arrumar inimizade nem jogo político. A política temo seu lugar e deve ser unida pela cultura e pelo social, e trabalhar pela sociedade e não por política partidária. 

QUEM FEZ MAIS PELA CULTURA NA ESTAÇÃO: 
QUEIROZ OU RAQUEL?

Roberto Gercino - Tá do mesmo jeito. naturalmente a tendência não é melhorar. Vou tentar novamente ver como eu trago o meu pessoal de volta para que possa ocupar novamente aquilo ali. Para que possamos ter uma visibilidade das coisas como estão acontecendo.

Anderson do Pife - Quero pontuar algumas problemáticas bem evidentes:
A iluminação não tem comparação com a anterior. Mesmo nessas férias, estamos lá todas as noites, e a Casa de Capoeira também, com grupos que ensaiam e tem movimentos sociais que se reúnem lá. Os refletores do Mamusebá, por trás, estão queimados desde  ano passado. falei diretamente com Fúlvio e com Salazar solicitando;
Há questões de segurança, mas é com a Polícia Militar;
Esse ano perdemos três alunos que estavam com a gente lá, para a marginalidade, estávamos tentando recuperar e morreram.
Temos aula de quadrilha lá que chega a juntar mais de cem pessoas participando, que não cabe dentro, então saíamos para fora, mas está paralisado por falta de iluminação.
Fiquei muito triste porque um dia eu vi Walmiré usando máscara por não suportar a catinga, e outra cisa, já houve roubo quando funcionava um bar dentro daquele galpão. Então não significa dizer que levando as coisas prá lá vai estar totalmente seguro.

Colibri - A gente sabe que as coisas estão bem perto de acontecer. A gente sabe também que esse problema de iluminação também é da gestão passada. Eu vim da gestão passada. Quando passa o São João a iluminação já não é mais a mesma. Mas sempre teve problema.
A questão é saber a quem foi o caminho para se resolver a bronca. A partir daí dialogar e encaminhar até para Secretaria de Serviços Públicos.

E outra coisa, eu tava lá naquela noite e vi muita gente que não sabia o que tava fazendo lá, nem o que ia acontecer. Anderson precisa ter cuidado com isso, explicar melhor a quem ele convida e ter cuidado para não deixar pessoas tirar vantagem política. Se não perde a legitimidade. Para mim eu nunca entraria num movimento político que tivesse "A" ou "B" de partido político lá.

Anderson do Pife - Primeiro aquele espaço não é dos artistas e sim da população de Caruaru. A partir do momento em que se encontra mais de cem cidadãos caruaruenses e uma pessoa diz que não existia legitimidade, é um equívoco tremendo. A partir do momento em que tinha ata, as pessoas chegaram lá e estavam desenvolvendo suas falas e estavam contribuindo com um documento para ser entregue em uma audiência pública. Eu acho difícil aquele público presente ali não saber do que se trata o movimento.
Eu acredito que ficou desagradável as falas que foram soltas por lá direcionadas a mim.
As pessoas foram convidadas sim, conscientes do que ia acontecer lá. Foram entregues na prefeitura e na fundação, com carimbo de entrega.

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