A preservação das nossas raízes culturais e das produções de nossos ancestrais está garantida. Pelo menos no que diz respeito à cantoria de viola. Isso ficou constatado no II Festival de Repentistas da Nova Geração (Fenoger), que lotou o Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande-PB, no último sábado, dia 14. O evento foi organizado pelo declamador Iponax Vila Nova e contou com a participação de dez dos mais proeminentes cantadores jovens que estão despontando no cenário da cantoria popular.
A programação começou com a participação dos repentistas Rogério Meneses e Severino Feitosa. A dupla veterana abriu o evento como um símbolo de todos os outros cantadores, das gerações anteriores, que abriram espaços para a valorização da cantoria de viola. Na apresentação, os artistas improvisaram estrofes incentivando os mais jovens a persistirem os seus objetivos, apesar das eventuais dificuldades que encontrem pelo caminho.
Em seguida, os cantadores jovens entraram em duelo. As duplas foram as seguintes: André Rodrigues e Evaldo Filho; Jairo Silva e Adailton Moura; Felipe Pereira e José Albino; João Lídio e Djair Olímpio; e Marlon Torres e Cícero Romário. Em uma disputa acirradíssima, os mancebos revelaram que a cantoria de viola tem ainda muito espaço a desbravar, mantendo a tradição e, simultaneamente, incrementando de modernidade as modalidades referentes ao segmento.
A beleza da ornamentação do palco pode ser considerada um aspecto particular, pois os elementos cenográficos deram ao ambiente uma característica campestre, com singeleza e estética. Assim, a plateia teve oportunidade de prestigiar múltiplas linguagens artísticas que bailavam entre si, mediante a harmonia dos acordes e as figuras literárias empregradas nas estrofes dos repentistas.
Aliás, a plateia merece uma atenção especial. Assim como a maior parte dos artistas em cena estavam na casa dos 20 anos de idade, o público jovem foi marcante durante o evento. Foi possível ver uma grande quantidade de universitários prestigiando os novos repentistas, trazendo mais dinamismo e alegria, aplaudindo efusivamente as produções dos poetas.
Assim, mais do que uma manifestação "folclórica", a cantoria de viola vem se consolidando como um elemento de prestígio, que integra cultura, entretenimento e educação. A Paraíba tem se destacado na promoção de grandes eventos, com um público cada vez mais amplo e participativo.
Ademais, a plateia ganha em cultura e também conhecimento. As estrofes do repentismo têm aspectos clássicos, como rima, métrica, oração e estrutura, que em nada devem aos maiores escritores, como Luís Vaz de Camões, Manuel Maria Du Bocage, Álvares de Azevedo e Gonçalves Dias. Vale lembrar o que já declarou o professor Olavo de Carvalho, em um hangout na Internet: "Qualquer repentista nordestino tem uma riqueza verbal infinitamente superior à de qualquer professor universitário brasileiro! Eles têm que ir aprender com os cantadores nordestinos, que eles, sim, sabem e conhecem a língua. A capacidade dos repentistas de aprender métrica e rima é quase instintiva. Agora, se a criança cresce ouvindo funk, nunca vai pegar nada disso".
Que os governos, os professores e os pais atentem para esta realidade e entendam o valor da cantoria para a construção da sociedade, para tanto valorizando os novos nomes que estão surgindo neste cenário.
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