Libras: mãos que falam, corações que ouvem por Jénerson Alves

No dia 24 de abril, comemora-se o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras). A data serve para chamar a atenção para um grupo costumeiramente esquecido no debate público – os surdos. Segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o Brasil tem 9,7 milhões de cidadãos com alguma deficiência auditiva.

Convém salientar que, do ponto de vista clínico, “deficiência auditiva” consiste na diferença entre a performance do indivíduo e a habilidade normal para a detecção sonora. De acordo com padrões estabelecidos pela American National Standards Institute, o ser humano normalmente capta sons de 0 até 24 decibéis.

Álvaro Ferreira

A história da Libras é interessante e permeia a história do País. Entre 1500 e meandros do século XIX, não se tem notícia de algum tipo de assistência específica aos não-ouvintes no Brasil. A educação era precária. Em 1855, registra-se a vinda ao Brasil de um conde francês surdo, Ernest Huet, atendendo a um convite de Sua Majestade, o Imperador Dom Pedro II. Huet veio fundar a primeira escola para meninos surdos do país, que recebeu o nome de Imperial Instituto de Surdos Mudos. Atualmente ainda em funcionamento, denomina-se Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), e é mantido pelo governo federal.

Reconhecida como uma língua oficial do país somente em 2002, a Libras é a principal forma de comunicação dos cidadãos brasileiros surdos. Ela utiliza a modalidade visual-espacial, por meio da qual o surdo associa imagens ao gestual, semelhantemente um falante associa imagens a sons.

Em Caruaru, é possível perceber nos últimos anos um desenvolvimento no que concerne ao estudo de Libras. O professor e intérprete Álvaro Ferreira atua nesta área há mais de dez anos. Segundo ele, em apenas 04 meses de estudo é possível desenvolver uma boa comunicação em Libras. Ainda de acordo com Ferreira, a inclusão dos surdos tem tido avanços significativos no Brasil, fato que ele atribui, principalmente ao empoderamento adquirido pela própria comunidade. “A cobrança da garantia dos direitos comunicacionais e sociais tem se transformado em uma bandeira de luta diária de surdos e ouvintes. Entretanto, é preciso garantir novas políticas públicas efusivas e específicas para a inclusão destas pessoas no contexto atual”, comenta.

O assunto também é abordado no cinema, através de filmes como 'Querido Frankie' (2004), 'O país dos surdos' (1992) e 'Black' (2005) levantam a discussão sobre o universo dos surdos. No mundo globalizado, em que tanto se fala de inclusão e partilha de conhecimentos entre as pessoas, vale a pena procurar conhecer mais este mundo tão rico em que mãos falam, corações escutam e pessoas se conectam.