16/05/18

Caruaru: um berço de personalidades


Seja nas letras, na história ou na política, Caruaru é um berço de personalidades. Impossível seria detalhar todos os caruaruenses que abrilhantaram o Brasil com trajetórias marcadas por sonhos e realizações. No entanto, pode-se destacar figuras relevantes que imprimiram suas marcas como exemplos de profissionais.

Um ícone da história caruaruense chama-se Álvaro Lins. Nascido em 14 de dezembro de 1913, cursou o primário em Caruaru, mas concluiu os estudos no Recife, mais precisamente no Ginásio do Recife e no Colégio Salesiano. Em seguida, ingressou na Faculdade de direito do Recife, onde formou-se, em 1935. Inserido nos mais distintos contextos sociais, no ambiente político foi secretário do Governo Lima Cavalcanti (1930-1937). Ele chegou a apoiar a candidatura de José Américo à presidência da República, pouco antes do golpe de Getúlio Vargas, em 1937.

No ambiente literário, Álvaro Lins publicou, em 1939, um livro contendo análise da obra do escritor realista português Eça de Queiroz, autor de obras polêmicas como ‘O primo Basílio’. Posteriormente, foi morar no Rio de Janeiro e tornou-se crítico literário do suplemento cultural do jornal Correio da Manhã. Em 1954, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Mesmo assim, não deixou de lado a atuação política, combatendo o Estado Novo, lutando pela redemocratização e opondo-se ao getulismo. Após a redemocratização, já em 1956, foi nomeado embaixador do Brasil em Portugal, no governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira. Entre outras ações, concedeu asilo político ao general Humberto Delgado, que foi opositor do ditador português Oliveira Salazar. As memórias de suas atuações naquele país foram registradas no livro ‘Missão em Portugal’. Álvaro Lins faleceu em 4 de junho de 1970.

Os irmãos Condé – João, José e Elysio – também configuram-se como personalidades do ambiente cultural caruaruense. Destes, Elysio ganha notoriedade por ter sido o fundador do ‘Jornal das Letras’, veículo de comunicação que circulou por mais de quatro décadas, João por ser um importante colecionador de documentos e José como um dos maiores escritores brasileiros. Por ter uma produção literária iniciada na década de 1940, Condé pode ser enquadrado, na historiografia literária brasileira, como pertencente à terceira fase modernista. Entretanto, pesquisadores discordam dessa classificação. “Estudando a obra de Condé, a gente percebe que fica difícil localizá-lo através dos rótulos existentes. Ele é um escritor 'sui generis', completamente diferente dos outros. Ele próprio não gostava desses rótulos, preferia ser chamado apenas de escritor”, explica o professor universitário Edson Tavares, autor de uma tese de doutorado sobre José Condé.

Do ponto de vista literário, o autor de ‘Terra de Caruaru’ aprofunda-se no perfil psicológico das personagens. “Condé transpôs angústias. Em sua obra, como em outros regionalistas, há personagens de cunho social, como Cravo Branco, Jorge e os outros revoltosos, em 'Terra de Caruaru'. Contudo, eles são seres perdidos tentando se encontrar. Ele passa pelo lado social, mas o primordial dele, na verdade, é o íntimo dos personagens”, analisa o editor Walmiré Dimeron. Em 2017, comemora-se o centenário de José Condé, escritor que, embora não faça parte do cânon literário brasileiro, sem dúvida, é um dos mais profícuos autores da língua portuguesa.

Ainda nesta relação, cita-se Austregésilo de Ataíde, nascido por acaso em Caruaru em 1896. Era filho do desembargador José Feliciano Augusto de Ataíde e cursou Direito em Fortaleza. Em sua carreira coleciona passagens pelos principais meios de comunicação da época, a exemplo dos Diarios Associados e da revista O Cruzeiro, chegando à Academia Brasileira de Letras.

A importância de Austregésilo ganha contornos mundiais. Para se ter uma ideia, em 1968, quando do 20º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o jurista e filósofo René Cassin foi congraçado com o Prêmio Nobel da Paz. Porém, ao tomar conhecimento da homenagem, declarou aos jornalistas na época: "Quero dividir a honra desse prêmio com o grande pensador brasileiro Austregésilo de Athayde, que ao meu lado, durante três meses, contribuiu para o êxito da obra que estávamos realizando por incumbência da Organização das Nações Unidas." Dez anos depois, na passagem do 30º aniversário desse documento, o presidente norte-americano Jimmy Carter, por intermédio de uma carta emitida a Austregésilo de Athayde, reconheceu universalmente, a "vital liderança" por ele exercida na elaboração da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Na política, entre os diversos nomes que marcaram a história de Caruaru, pode-se citar o ex-ministro Fernando Soares Lyra. Nascido em Recife no ano de 1938, foi um dos protagonistas em prol da redemocratização do Brasil. Formado em Ciências Jurídicas e Socais em Caruaru, Fernando Lyra iniciou sua vida política como deputado estadual pelo MDB, entre os anos de 1967 e 1971. Em Brasília, passou 28 anos atuando na Câmara dos Deputados.

Ao longo de sua vida pública, aproximou-se de Tancredo Neves, tendo sido coordenador da histórica campanha de 1985, na qual o mineiro conquistou a vitória, mas foi impossibilitado de assumir o cargo devido à morte decorrente de problemas de saúde. Com o falecimento de Tancredo, o vice, José Sarney, foi empossado e nomeou Fernando Lyra como ministro da Justiça. Em 1989, foi candidato a vice-presidente na chapa de Leonel Brizola, mas não alcançou o segundo turno, cuja disputa ficou entre Fernando Collor de Melo e Luís Inácio. De 2003 a 2011, foi presidente da Fundação Joaquim Nabuco. Fernando Lyra morreu no dia 14 de fevereiro de 2013, devido a problemas no coração.

Cada um em sua função, esses ícones são personagens indeléveis e inolvidáveis na história brasileira e revestem de grandiosidade os 161 anos do município de Caruaru.

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