05/05/18

Festa do Comercio


Estamos do mês de Maio, São João em Caruaru já vai batendo a porta e a cidade já fica naquele clima de expectativa igualzinho a Recife semanas antes do Carnaval. Além do São João, o Carnaval já foi uma grande festa de Caruaru considerado inclusive como um dos melhores. Mas a primeira grande festa da cidade foi a “Festa do Comércio”.



Antes de mais nada é válido dizer que essa denominação “Festa do Comércio” só veio na década de 30, antes a festa era religiosa e era em homenagem a padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição.

Caruaru se formou a partir da fazenda de José Rodrigues de Jesus (1756-1820) e tinha como um de seus pontos centrais e mais importantes a capela de Nossa Senhora da Conceição. A capela foi construída no ano de 1781 pelo casal Rodrigues de Jesus e tanto a fazenda quanto a capela tinham um importante papel social para a redondeza. Além das atividades da igreja como batizados, casamentos, novenas a fazenda ficava numa area de passagem do gado, então muitos comerciantes de regiões vizinhas transitavam por lá e lá faziam negociações. Um outro aspecto de socialização da fazenda era uma pequena feira semanal que rolava em frente a igreja, principalmente nos dias de missa.

Festa da Conceição

Devoto de Nossa Senhora da Conceição, José Rodrigues de Jesus organizava festas na igreja no final do ano, entre novembro e dezembro, pegando inclusive a época do natal e ano novo. Os atrativos da festa sempre contava com comidas, bebidas, reisados, bumba-meu-boi e zabumbas (“Zabumba” é uma das denominações de banda de pífano), e toldos armados na Rua da Frente (como se chamava a rua da igreja, hoje é a 15 de Novembro).
Os relatos mais antigos dessa festa segundo Nelson Barbalho através do historiador Daniel Silva datam de 1800.

Depois da morte de José Rodrigues em 1820, as festividades natalinas continuaram, mas agora com o nome de “Festa de Caruaru”. Com o tempo, a festa mudou para “Festa da Mãe de Deus”, se tornando depois a “Festa da Conceição”, já no ano de 1933 o Jornal Vanguarda criou a expressão “Festa do Comércio”. Bom, como o próprio nome já diz, a essa altura da história, a festa deixou de ser de cunho religioso organizada pela igreja e passou a ser mais de cunho “profano” organizado pelos comerciantes.
Apesar que a festa religiosa “Festa da Conceição” ainda rolava, mas em datas separadas até de juntarem num evento só na década de 50, se chamando apenas “Festa do Comércio”.

Anos 50

Nessa época, a organização da festa se dava com a escolha da Comissão Organizadora, que envolviam questões sociais, políticas, econômicas e religiosas até a chegada do momento mágico: A instalação da estrutura da festa que eram gambiarras de lâmpadas penduradas de um lado a outro da rua 15 de Novembro, Sete de Setembro e Praça Coronel João Guilherme, tudo isso pelo famoso eletricista Manoel Teixeira que iluminou desde as paredes da igreja até a festa do Comércio durante 40 anos. A Feira de Caruaru aumentava suas vendas nessa época e funcionava na mesma rua da festa, de frete pra igreja, e não era tão famosa ainda. A fama da feira se deu depois da gravação da música “A Feira de Caruaru” de Onildo Almeida por Luiz Gonzaga, que ele só gravou no ano de 1957.



Anos 60

Essa festa era natalina, acontecia 24-25 de Dezembro, com festividades no interior da igreja com novenas e missas e do lado de fora apresentações super concorridas das orquestras “Comercial” e “Euterpe”. Além dessas atrações, no ano de 1956 a festa começou a receber artistas famosos como Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto, Núbia Lafayete. Nessa época a festa era um dos maiores eventos da cidade junto com o carnaval.
No ano do centenário de Caruaru em 1957 e até mesmo no ano de 1958 a festa ainda foi empolgante, mas a partir da década de 60 a “Festa do Comércio” foi perdendo seu brilho.

No ano de 1963 resolveram fazer uma super festa, pra fazer jus a tradição da “Festa do Comércio”. Já fazia 30 anos que o Jornal Vanguarda denominou esse nome pra festa. Os preparativos começaram desde o mês de novembro, a já famosa Feira de Caruaru seria transferida nos dias da festa, jungles circulavam em rádios, matérias em jornais e a expectativa da população cada vez mais alta. Só que no dia tão aguardado da festa, uma forte chuva caiu sobre Caruaru, daquelas chuvas que não param nunca, e acabou com a festa, não teve festa!


O Declínio da “Festa do Comércio”

No ano de 1965 não teve artista de fora (com peso nacional), não teve iluminação por toda rua, apenas na capela, faltava dinheiro de novo. A festa não acabou aí, mas a cada ano que se passava ela diminuía mais sua importância e seu significado. Os antigos patrocinadores não tinham mais dinheiro, e os novos patrocinadores que apareciam eram empresas que queria algo em troca: fazer a festa para os interesses deles e aplicar dinheiro naquele evento significava ter retorno financeiro.
Inclusive, a Coca-Cola nessa época, que era um dos patrocinadores, acabou com a gengibirra que era um refresco caseiro da época feito com frutas e leves porções de gengibre (acredito eu, que tenha sido os avós da Cajuína do ponto de vista de costumes sociais)

Nos anos 70 e 80 essa decadência da festa ia fazendo com que os seus antigos organizadores fossem perdendo o interesse pela “Festa do Comércio”. A festa também não recebeia nenhum incentivo da EMPETUR mesmo sendo considerada uma fonte de turismo. Em 1980 os comerciantes da Associação Comercial de Caruaru abandonam a festa, no sentido de não se envolver mais. Nos anos de 82 até 84 a festa ocorreu cambaleando, já de forma bem sufocada.

A última edição da festa com esse nome foi em 1995, entretanto a “Festa da Conceição” ainda ocorre em dezembro. A festa que começou para celebrar a santa, voltou para santa.

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