Estamos do mês de Maio, São João em Caruaru já
vai batendo a porta e a cidade já fica naquele clima de expectativa igualzinho
a Recife semanas antes do Carnaval. Além do São João, o Carnaval já foi uma
grande festa de Caruaru considerado inclusive como um dos melhores.
Mas a primeira grande festa da cidade foi a “Festa do Comércio”.
Antes de mais nada é válido dizer que essa
denominação “Festa do Comércio” só veio na década de 30, antes a festa era
religiosa e era em homenagem a padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição.
Caruaru se formou a partir da fazenda de José
Rodrigues de Jesus (1756-1820) e tinha como um de seus pontos centrais e mais
importantes a capela de Nossa Senhora da Conceição. A capela foi construída no
ano de 1781 pelo casal Rodrigues de Jesus e tanto a fazenda quanto a capela
tinham um importante papel social para a redondeza. Além das atividades da
igreja como batizados, casamentos, novenas a fazenda ficava numa area de
passagem do gado, então muitos comerciantes de regiões vizinhas transitavam por
lá e lá faziam negociações. Um outro aspecto de socialização da fazenda era uma
pequena feira semanal que rolava em frente a igreja, principalmente nos dias de
missa.
Festa
da Conceição
Devoto de Nossa Senhora da Conceição, José
Rodrigues de Jesus organizava festas na igreja no final do ano, entre novembro
e dezembro, pegando inclusive a época do natal e ano novo. Os atrativos da
festa sempre contava com comidas, bebidas, reisados, bumba-meu-boi e zabumbas
(“Zabumba” é uma das denominações de banda de pífano), e toldos armados na Rua
da Frente (como se chamava a rua da igreja, hoje é a 15 de Novembro).
Os relatos mais antigos dessa festa segundo
Nelson Barbalho através do historiador Daniel Silva datam de 1800.
Depois da morte de José Rodrigues em 1820, as
festividades natalinas continuaram, mas agora com o nome de “Festa de Caruaru”.
Com o tempo, a festa mudou para “Festa da Mãe de Deus”, se tornando depois a
“Festa da Conceição”, já no ano de 1933 o Jornal Vanguarda criou a expressão
“Festa do Comércio”. Bom, como o próprio nome já diz, a essa altura da
história, a festa deixou de ser de cunho religioso organizada pela igreja e
passou a ser mais de cunho “profano” organizado pelos comerciantes.
Apesar que a festa religiosa “Festa da
Conceição” ainda rolava, mas em datas separadas até de juntarem num evento só
na década de 50, se chamando apenas “Festa do Comércio”.
Anos 50
Nessa época, a organização da festa se dava
com a escolha da Comissão Organizadora, que envolviam questões sociais,
políticas, econômicas e religiosas até a chegada do momento mágico: A
instalação da estrutura da festa que eram gambiarras de lâmpadas penduradas de
um lado a outro da rua 15 de Novembro, Sete de Setembro e Praça Coronel João
Guilherme, tudo isso pelo famoso eletricista Manoel Teixeira que iluminou desde
as paredes da igreja até a festa do Comércio durante 40 anos. A Feira de
Caruaru aumentava suas vendas nessa época e funcionava na mesma rua da festa,
de frete pra igreja, e não era tão famosa ainda. A fama da feira se deu depois
da gravação da música “A Feira de Caruaru” de Onildo Almeida por Luiz Gonzaga,
que ele só gravou no ano de 1957.
Anos 60
Essa festa era natalina, acontecia 24-25 de
Dezembro, com festividades no interior da igreja com novenas e missas e do lado
de fora apresentações super concorridas das orquestras “Comercial” e “Euterpe”.
Além dessas atrações, no ano de 1956 a festa começou a receber artistas famosos
como Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto, Núbia Lafayete. Nessa época a festa era um
dos maiores eventos da cidade junto com o carnaval.
No ano do centenário de Caruaru em 1957 e até
mesmo no ano de 1958 a festa ainda foi empolgante, mas a partir da década de 60
a “Festa do Comércio” foi perdendo seu brilho.
No ano de 1963 resolveram fazer uma super
festa, pra fazer jus a tradição da “Festa do Comércio”. Já fazia 30 anos que o
Jornal Vanguarda denominou esse nome pra festa. Os preparativos começaram desde
o mês de novembro, a já famosa Feira de Caruaru seria transferida nos dias da
festa, jungles circulavam em rádios, matérias em jornais e a expectativa da
população cada vez mais alta. Só que no dia tão aguardado da festa, uma forte
chuva caiu sobre Caruaru, daquelas chuvas que não param nunca, e acabou com a festa,
não teve festa!
O
Declínio da “Festa do Comércio”
No ano de 1965 não teve artista de fora (com
peso nacional), não teve iluminação por toda rua, apenas na capela, faltava
dinheiro de novo. A festa não acabou aí, mas a cada ano que se passava ela
diminuía mais sua importância e seu significado. Os antigos patrocinadores não
tinham mais dinheiro, e os novos patrocinadores que apareciam eram empresas que
queria algo em troca: fazer a festa para os interesses deles e aplicar dinheiro
naquele evento significava ter retorno financeiro.
Inclusive, a Coca-Cola nessa época, que era um
dos patrocinadores, acabou com a gengibirra que era um refresco caseiro da
época feito com frutas e leves porções de gengibre (acredito eu, que tenha sido
os avós da Cajuína do ponto de vista de costumes sociais)
Nos anos 70 e 80 essa decadência da festa ia
fazendo com que os seus antigos organizadores fossem perdendo o interesse pela
“Festa do Comércio”. A festa também não recebeia nenhum incentivo da EMPETUR
mesmo sendo considerada uma fonte de turismo. Em 1980 os comerciantes da
Associação Comercial de Caruaru abandonam a festa, no sentido de não se
envolver mais. Nos anos de 82 até 84 a festa ocorreu cambaleando, já de forma
bem sufocada.
A última edição da festa com esse nome foi em
1995, entretanto a “Festa da Conceição” ainda ocorre em dezembro. A festa que
começou para celebrar a santa, voltou para santa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário