Casa da Capoeira celebra 21 anos de organização e luta

O Centro de Prática e Pesquisa N'Golo Capoeira Angola está comemorando 21 anos de atividades essa semana (5 de junho), e hoje à noite, à partir das 18 horas, com uma roda de capoeira. Todos estão convidados a participar da celebração com os angoleiros e simpatizantes de Caruaru e região.

Um pouco de história

O grupo N’golo Capoeira Angola teve inicio em Caruaru, com o professor Alexandre Ferro, onde após conhecer a capoeira angola na Bahia resolveu migrar da capoeira regional afro-brasileira para a capoeira angola afrodescendente iniciando o trabalho no SESC Caruaru e em seguida na Kolping também em Caruaru localizado na Cohab II fazendo um trabalho de resistência.

Os dois Alexandres

Com o passar do tempo teve a necessidade de migrar para outro estado por motivos pessoais onde mora atualmente na cidade de Pipa (RN) que lá criou o grupo de capoeira da praia de Pipa. Na sua saída de Pernambuco deixo a frente do trabalho Alexandre Angoleiro que coincidentemente também veio da capoeira regional e após conhecer a capoeira angola através de Alexandre ferro migrou para capoeira angola, o mesmo ao saber que ficaria a frente do trabalho se jugou não saber ser professor, mal sabia ele que foi instruído a ensinar desde o primeiro momento que resolveu seguir praticando e propagando essa arte. Foi ai então que Alexandre Angoleiro continuou esse belo trabalho mudando apenas de bairro, onde continua atualmente no bairro das rendeiras antiga cohab III.

Grupo quando ainda se reunia no bairro das Rendeiras

Durante a caminhada muitas coisas acontecerão, os treinos tiveram uma pausa, mas Alexandre Angoleiro não parou continuou estudando, pesquisando, praticando e buscando a ancestralidade. E em 02 de setembro de 2014 o trabalho reiniciou com toda força no casarão das rendeiras onde o professor Alexandre Angoleiro com toda sua experiência e conhecimento adquirido e que vem adquirindo a cada dia, começou a ensinar essa bela arte, e não só a formar lutadores de roda, mas lutadores da vida que luta por uma resistência, que irão propagar essa arte que foi preservada por Mestre Pastinha que vem crescendo e sendo entendida a cada dia com base na ancestralidade, musicalidade e movimentação. Sendo ensinada também filosofia, ética, disciplina, senso crítico, respeito ao próximo, capoeira angola, e a buscarmos a humildade.

Nova Fachada da Casa

Alexandre Ferro fala sobre o início:

"Quando eu conheci Alexandre, na feira, ele já era capoeirista regional, mas tinha uma curiosidade grande pela Capoeira de Angola, hoje é um orgulho pra mim ver o Alexandre contramestre de responsabilidade que consegue se garantir. tenho certeza que esse espaço está em boas mãos e está sendo bem liderado."

Total engajamento do Grupo na Política Cultural

Depois de sair como delegado na III Conferência Municipal e Estadual de Cultura, Alexandre N'golo foi na delegação pernambucana para III Conferência Nacional de Cultura (Brasília, nov.2013). 

O grupo passou a ser organizar e se fortalecer não só internamente, mas aos poucos foi sendo protagonista com outros segmentos do processo de adesão do município ao Sistema Nacional de Cultura (SNC). Sendo assim, desde as primeiras reuniões de Grupo de Trabalho no início de 2013 até todo processo ser criado eles não só estão presentes, mas se mobilizam continuamente em fóruns de discussão e nos processos eletivos e conferências. Com participação ativa na formulação do Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC) e no seu Regimento Interno, na Lei do Sistema Municipal de Cultura (SMC) e nos demais acontecimentos somando esforço coletivo com demais setoriais. 

Conferência Livre de Capoeira - Casa da Cultura José Condé - 2015

Mas chegar a 'maior idade' não é fácil. O crescimento, o momento de decidir se é melhor parar ou continuar, o cansaço natural que vem com o processo de Dificuldades podem nos ensinar a mudar e a ser melhores. Os angoleiros não recuaram diante das limitações diversas vezes impostas, mas usaram as circunstâncias contrárias como um meio e uma oportunidade para superar e saírem vitoriosos. 

Alexandre Soares (N'Golo)

Alexandre Soares nos fala, em tom de desabafo, sobre essas dificuldades e superações:

"Todos os dias eu enfrento meus monstros do meu universo interior, e ninguém sabe como é essa batalha a não ser eu. Tem dias em que o cansaço da batalha me arranca lágrimas que lava meu rosto. Tem dias que a esperança me acolhe com riso estampado no semblante e de braços abertos e ainda mais, falando que amanhã a batalha será menos árdua. Busco forças em tudo que eu acredito pois a energia suficiente para repor meu cansaço, respeito tudo o que passei pra que eu pudesse chegar até aqui, e mesmo que não consiga entender por que foi preciso eu passar por essas batalhas, eu buscarei entendimento para que no mínimo eu saiba do tamanho da batalha que enfrento todo o dia!"

No ano passado, o Fórum de Políticas Culturais para Estação Ferroviária de Caruaru foi outro marco importante.

Sobre o atual momento, 21 anos, ele expressa gratidão aos que antecederam e os que permanecem construindo essa história:

"Possa ser que vocês esperem aquela velha frase "parece que foi ontem que tudo começou", mas não vou dizer essa, pois 21 anos não são 21 meses e nem 21 dias, 21 anos são mesmo 21 anos, com um peso a mais se você se dedica a fazer um trabalho de luta e resistência neste mundo, em sua parte corrompido pelo um sistema falido. Graças que temos pilares fortes ligados a nossa ancestralidade e temos Malungos e Malungas disposto a esta nesta luta."

O 18 de maio passou a ser comemorado como Dia Municipal da capoeira, uma conquista do grupo

"Primeiramente agradeço a N'ZAMBI que nos ilumina para estamos firme e forte em nossa jornada, agradeço a Alexandre Ferro por mim mostra os primeiros passos na capoeira Angola, agradeço ao meu mestre Raimundo Dias pela orientação de caminhos mas distantes, agradeço a todos e todas que fazem parte de nosso Centro de Prática e Pesquisa N'Golo Capoeira Angola desde o mais antigo até ao mais recente, agradeço aos amigos e amigas que confiam e acredita em nosso trabalho e esses são muitos, agradeço aos que nos atiram pedras pois esses são os que nos ensina o caminho que não devemos trilha. E que cada um desses que eu pronunciei tem sua enorme contribuição em nossa luta."

Confira também no vídeo abaixo, um pouco dessa trajetória: