Eu particularmente considero o polo Azulão no
São João como um dos principais festivais de música da cidade. O pólo tem lá
seus pontos de melhoria, mas é o momento do ano pra se assistir bandas
estabelecidas de alcance nacional, ver um pedaço das produções musicais que
rolaram durante o ano, e com isso, conhecer bandas novas. Era meados de 2016,
quando assisti o 1º show da Rasga Mortalha, no polo Azulão do São João de
Caruaru, na época em que o palco já estava do lado de fora do
galpão. Nesse ano, foi uma das bandas que mais me chamou atenção.
Apresentação na 1º edição do festival RecBeat em Caruaru. 2018 (fonte: facebook) |
O
Inicio
Por coincidência, esse show do Rasga Mortalha
foi praticamente o show de estréia deles, por ter sido o primeiro grande show
da banda, que surgiu um ano antes, em 2015.
A banda começou num formato de trio, experimentando instrumentos de corda (violão, bandolim, cavaquinho, viola caipira...) fazendo um som mais ligado ao samba e ao choro, passando por influências do Udigrudi recifense como Ave Sangria, Alceu Valença e Geraldo Azevedo.
A banda começou num formato de trio, experimentando instrumentos de corda (violão, bandolim, cavaquinho, viola caipira...) fazendo um som mais ligado ao samba e ao choro, passando por influências do Udigrudi recifense como Ave Sangria, Alceu Valença e Geraldo Azevedo.
A partir da mudança de formação, e esse fluxo
maior de entrada e saída de integrantes, cada um com suas influências musicais
particulares incorporando isso na sonoridade, a banda foi experimentando outros
ritmos. Tem integrante que vem da “escola” do samba/choro, tem outros que vem
do metal, e assim por diante. Depois dessas movimentações internas na
configuração da banda, o Rasga Mortalha se estabeleceu mais na fonte do jazz do
Lounge Lizards, Pink Floyd, Cidadão Instigado, Metá Metá e Passo Torto como
suas principais influências.
A proposta do Rasga Mortalha é de música autoral
desde o início, fazendo uma ou duas releituras em uma apresentação ao vivo,
como “Menina Jesus” (do disco “Correio da Estação do Brás”, de
1978, de Tom zé). As sonoridades das músicas sobrevoam vários
ritmos, e de forma proposital, como forma de um projeto livre, sem amarras
musicais, onde bebe de várias fontes, mas sempre com sua identidade fincada no
mesmo lugar que é a cultura sertaneja e nordestina.
O próprio Tom Zé fala um pouco sobre esse
processo de hibridismo sonoro no documentário “Alquimistas do Som”:
“Ser influenciado pelo rock, pelo jazz, não
tem nada demais. Agora você tem que pegar um lastro de coisa sua para fazer a
melange e a metamorfose com aquilo, pra quando chegar, chegar uma coisa nova,
que é surpresa.” (Tom Zé).
O que me lembra também do “tropicalismo
pernambucano” da década de 70 em Recife, do “Laboratório de Sons Estranhos”
(LSE) de Aristides Guimarães, Geraldo Amaral e Robertinho do Recife. Espetáculo
sonoro anárquico, no qual fez um show clássico no teatro Santa Isabel em Recife
na década de 70 chamado “2001: O Tempo e o Som”.
Foi nesse show que Robertinho do Recife e o
pessoal da banda conheceu o músico Arto Lindsay que veio a se tornar famoso
depois. Inclusive, Arto Lindsay fez parte bem depois da banda de jazz Lounge
Lizards, uma das principais influências do Rasga Mortalha. Ou seja, as
influências estão todas conectadas nesse som experimental da banda.
Disco e
produções
A banda está em processo de gravação do seu 1º
disco, com previsão de lançamento em 2019. Logo em breve, ainda esse ano, deve
sair um EP com algumas músicas próprias e um videoclipe.
Mas dá pra conferir algumas músicas no
youtube, como exemplo de “Blues Literário”, uma música com referências a nomes
da literatura pernambucana e nacional como Marcelino Freire e Raimundo Carrero.
E mais algumas outras:
Rasga
Mortalha
O nome da banda vem de uma coruja chamada
“rasga mortalha”, muito comum no norte e no nordeste do país, no qual simboliza
para a banda as referências tanto nordestinas quanto noctívagas da cidade (por
ser um animal de hábito noturno).
No qual foi simbolizado muito bem por Bruno Oliveira da Nuvem Design, no projeto gráfico e identidade visual da banda, que inclusive vai virar também rótulo de cachaça artesanal.
No qual foi simbolizado muito bem por Bruno Oliveira da Nuvem Design, no projeto gráfico e identidade visual da banda, que inclusive vai virar também rótulo de cachaça artesanal.
Identidade visual desenvolvida pela Nuvem Design. |
O Rasga Mortalha faz parte desse novo cenário
musical de Caruaru e vale a pena demais acompanhar esse vôo deles.
Formação atual (fonte: facebook) |
Formação atual:
Luiz Ribeiro - Voz
Victor Rossano - Bateria
Carlinhos Aril - Percussão
Igor Santos - Baixo
Cássio Torres - Violão e Sanfona
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