02/06/18

Tributo a Nelson Barbalho por Agildo Galdino Ferreira


Quis começar este texto parafraseando bela canção. Quem bem conhece a literatura brasileira certamente há de saber quem foi Nelson Barbalho, que há cem anos veio a nascer no “País de Caruaru”. Era 2 de junho de 1918. Daí porque suspiro e aplico a ele esta versão: “Ah, se todos nós fôssemos iguais a você!” É querer demais, mas me contentaria se pudesse um pouquinho, mas um pouquinho mesmo de seu legado deixar aqui na terrinha. Ah, Seu Nelson, eu mesmo embarcaria direto daqui de baixo para essa tua morada, aí em cima, feliz da vida, certo de que deixaria grandiosa e imensurável contribuição histórica e literária à vida nordestina.

Discorrer sobre este ilustre filho da terrinha não é nada fácil. Sua história já falada e escrita, torna essa intenção uma ousadia de minha parte, mas garanto que tenho minhas razões. Assim, como disse a escritora Valéria Barbalho, “resolvi garimpar” – de tantos nobres escritores, historiadores e jornalistas que escreveram a seu respeito – pedaços de sua história para concisamente expressar minha admiração e prestar esta humilde homenagem, uma vez que nunca é demais rememorar o brilhantismo literário de nossa Caruaru.

Seu Nelson, sem mais delongas, eu mesmo embarcaria ai para cima levando comigo aquela Remington, para o senhor compor novas canções como aquele baião, que mais parece um hino, à “Capital do Agreste”, tão estupendo que orgulhosamente o caruaruense lhe agradece por essa homenagem musical, sua e de seu parceiro Onildo Almeida. Sei que escreveria novamente mais de uma centena de livros, dos quais dedicaria novamente a sua amada e grandiosa Caruaru, escreveria mais uns vinte volumes abordando aspectos político, histórico e sociológico da vida desta cidade a qual o ilustre filho batizou de “País de Caruaru”.

É, Seu Nelson Barbalho, ao chegar aí em cima lhe confessaria o quanto o senhor foi enigmático, predizendo: "No dia de minha morte, é que começo a viver". É verdade, Seu Nelson, a história já o consagrou como notável escritor. E quão infinito é o reconhecimento sobre sua memorável obra historiográfica e precioso seu legado de estudioso da história e costumes do povo nordestino, retratado de maneira precisa, por vezes registrada em crônicas no jornal local Vanguarda e no Diário de Pernambuco.

É fato, hoje, quem busca conhecer a história social da vida de nossa Caruaru de outrora vem se deleitar nos seus escritos de características tão próprias, a exemplo de livros tais como “Caruaru do Cel. Neco Porto, “Caruaru do Cel. João Guilherme e de “Caruaru do Major Sinval”. Reproduzir diálogos de seus personagens fazia parte de sua arte de escrever. Vejamos aqui dois exemplos, travados entre o major Sinval e amigos lá na Pharmácia Franceza aquela voltada para a rua do Comércio, a direita da esquina do "Beco da Pequena de Ouro ou quem desejar da Estudantil, certo dia perguntaram ao major Sinval: – O Major é formado? – Não! Sou deformado e reformado! Outra vez: – Major, quem sustenta a minha casa é.... – A “cumieira” não é, meu amigo?

Ah, Seu Nelson, ia esquecendo de dar notícias daqui de baixo. As coisas por aqui mudaram sim, mas nem tanto. O apoio à cultura, à literatura, ao teatro continua sofrível, até parece aquela sua época de tantas agruras e dificuldades financeiras para desbravar as entranhas da cultura popular nordestina e especialmente pernambucana para a qual sua contribuição, em especial, à história do Agreste e do Sertão, é vasta e fecunda. Lembra, Seu Nelson, do Delgado, de braços atados, por falta de verba? E a revista do CEHM? Com “quase dois anos de atraso”? E ainda sua luta para publicar seus livros, reuniões ali e acola, conversa e mais conversa e tudo se resumia na busca de verbas para instituições que não dispunham de “um tostão para publicar coisa alguma”.

Eita! Seu Nelson, o Gonzagão está aí com o senhor! Então, quem sabe, não iria presenciar uma nova parceria, como aquela que suscitou um dos maiores sucessos musicais do cancioneiro nordestino, e que teve como mote o assassinato daquele vaqueiro lá no Sertão, Raimundo Jacó, primo do Gonzagão. Ao som da inseparável sanfona branca, o vaqueiro das caatingas nordestinas não parou mais de aboiar e lá em Serrita, a cada ano, cresce mais o afã de turistas de todo o Brasil para assistir à missa do vaqueiro. E assim, a toada A morte do vaqueiro se eterniza e seu Nelson Barbalho imortal.

Agildo Galdino Ferreira
Membro da Academia Caruaruense de Cultura, Ciências e Letras, e doutor pela UFSCar.

Um comentário:

Nelson Lima disse...

Belo e apreciável texto. Parabéns.