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A feira de Caruaru existe desde o
início da vila que virou cidade, uma feirinha que rolava na frente da igreja da
Conceição. A cidade cresceu, a feira cresceu junto, ficou enorme, e tinha de
tudo pra vender, ainda por cima localizada numa cidade que era ponto
estratégico de passagem de gado. Ou seja, todo mundo se encontrava na feira de
Caruaru. A feira já grande, fica conhecida nacionalmente e depois mundialmente
por causa de uma música que Luiz Gonzaga gravou, e a composição todo mundo já
sabe de quem é.
Onildo Almeida, nasceu no dia 13
de Agosto de 1928, ou seja, completa 90 anos de idade agora. Sempre relacionado
com música, começou sua carreira com a banda dos “Cancioneiros Tropicais”,
depois chamado de “Vocalistas Caetés”. Em 1951 foi trabalhar na rádio Difusora
de Caruaru como operador de áudio e depois cresceu em outras funções.
Seu primeiro sucesso foi a
marchinha carnavalesca “Linda Espanhola”, que ganhou o concurso do carnaval
pernambucano de 1955. No ano seguinte, em 1956, ele observando a feira de
Caruaru começou a anotar as coisas que ele via por lá. Normalmente, feiras de
maneira geral vendia frutas e verduras, mas a de Caruaru era diferente, se
vendia de tudo. Não só as frutas e comidas em geral, como adereços de cozinha,
roupa como calça de alvorada (que era um tipo de Brim, sendo mais forte, pra
aguentar o roçado), boneco de barro de Vitalino e por aí vai. Onildo levou as
anotações pra rádio e entre um intervalo e outro de músicas, foi escrevendo
versos, e em 15 dias terminou tudo.
“Tem loiça, tem ferro véio,
Sorvete de raspa que faz jaú,
Gelada, cardo de cana,
Fruta de paima e mandacaru.
Bunecos de Vitalino,
Que são cunhecidos inté no Sul,
De tudo que há no mundo,
Tem na Feira de Caruaru.”
Luiz Gonzaga certo dia visitou a rádio,
se deparou com a música e gravou no ano seguinte, no disco “òia eu Aqui de
Novo” (1957). A música estourou até na Europa, foi sucesso nacional, e Gonzaga
vendeu 100 mil cópias do LP em poucos meses.
O ano de 1957 é o mesmo ano do centenário
de Caruaru, e Onildo procurou Nelson Barbalho
para saber de umas histórias de Caruaru e escrever uma música. A partir daí
saiu a parceria de “Capital do Agreste”, onde Gonzaga gravou no mesmo LP as
duas músicas, uma no lado A e outra no lado B.
“De fazenda Cururu
Povoado se tornou
Foi crescendo, foi crescendo
E à Vila, logo chegou
João Vieira de Melo
Coronel Cabra da Peste
Da vila fez a cidade
Hoje Capital do Agreste
Oh!Cidade encantadora
Terra do Major Dandinho
Neco Porto, João Guilherme”
(trecho de “Capital do Agreste” - Onildo
Almeida / Nelson Barbalho)
Já na década de 60, Gonzaga
dizendo que ia encerrar a carreira (fase ruim para o baião, principalmente
depois da chegada da Jovem Guarda, os “cabeludos” roubaram a cena na época) e
pediu a Onildo Almeida e Luiz Queiroga (o criador de Coronel Ludugero), e eles no Rio de Janeiro escreveram a letra “A Hora
do Adeus”, e segurou a carreira de Gonzaga por mais um tempo.
Ainda na década de 60, Onildo
escreve junto com Jacinto Silva, o coco “Gírias do Norte”.
“O zé do brejo quando se casariou
Ele me convidariou pr'uma
quadrilha eu marcaria
Marcariei uma quadrilha ritmada
Foi até de madrugada todo mundo
com seu parear”
(trecho de “Gírias do Norte” -
Onildo ALmeida / Jacinto Silva)
“Minha sanfona minha voz o meu
baião
Este meu chapéu de couro e também
o meu gibão
Vou juntar tudo, dar de presente
ao museu
É a hora do adeus
De Luiz rei do baião”
(trecho de “A Hora do Adeus)”
Já no início da década de 70, mais
precisamente em 1972, quando Gilberto acaba de voltar do exílio em Londres,
volta para o Brasil querendo fazer umas pesquisas em cultura popular, e lança
um disco chamado “Expresso 2222”. Foi nesse disco que Gil gravou “Pipoca
Moderna” da banda de Pífano de Caruaru, e uma outra música chamada “Sai do Sereno” de Onildo
Almeida.
Em 1973, Luiz Gonzaga gravou no LP
“O Fole Roncou” a música “Cidadão de Caruaru” de composição de Onildo Almeida e
Janduhy Finizola. No ano de 1985, Onildo Almeida hospedado na casa de Luiz
Gonzaga no RJ decidiu ir ver um tal de festival de rock n roll chamado “Rock in
Rio”, Gonzaga não aprovou. Onildo foi e voltou pra casa já com um verso pronto,
e gravou essa música 2 anos depois no LP “Forrock”.
“Eu conheço esse toque
Não é baião, não é forró e nem é
xote
Vou chamar cumpadre Roque
Pra ver se ele identifica esse
toque
É uma mistura de forró com rock.
Mas vi também, do meu nordeste
Três cabras da peste cantando pra
valer:
Moraes Moreira, Elba e Alceu,
O forró comeu, o rock se misturou
Forró com rock, e o rock
forrófiou.”
Onildo Almeida tem mais de 500
composições, gravadas e escritas por vários nomes do forró, e ganhou até um
filme-documentário em 2017 dedicado à sua obra, chamado “Onildo Almeida -
groove man”, dos diretores Hélder Lopes e Cláudio Bezerra.
https://vimeo.com/218276778
Onildo esse ano completa 90 anos e
com certeza é um personagem de extrema importância pra memória musical da
cidade Caruaru.
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