01/08/18

Teatro Pernambucano perde Antônio Cedengue


G1

Morreu nesta quarta-feira (1º), aos 64 anos, o diretor pernambucano de teatro Antonio Cadengue. Ele estava internado no Hospital Hapvida no Derby, no Centro do Recife, depois de ter sofrido uma queda no domingo (29), na praia de Porto de Galinhas, em Ipojuca, no Grande Recife.
Segundo o ex-aluno e amigo de Cadengue, Igor de Almeida, o diretor retornou ao Recife se queixando de dores e, por isso, foi internado no mesmo dia na unidade de saúde. O laudo definitivo com a causa da morte ainda não foi divulgado.
Nascido em 1954 em Lajedo, no Agreste de Pernambuco, Antonio Cadengue teve o primeiro contato com o teatro através de uma tia e de uma prima, que integravam um grupo amador no município.
A reportagem entrou em contato com o hospital em que Cadengue estava internado e aguarda retorno. O velório está previsto para a manhã de quinta-feira (2).

Trajetória
Entre as peças recentemente dirigidas por Cadengue estão “Dorotéia”, de Nelson Rodrigues, e “Puro Lixo, o Espetáculo Mais Vibrante da Cidade”, de Luís Augusto Reis.
Anos depois, ao estudar psicologia, a preparação de uma peça para os alunos da Academia Santa Gertrudes foi o que lhe concedeu uma bolsa de estudos numa faculdade particular do Recife e lhe permitiu uma aproximação maior com o teatro.
Cadengue foi ainda professor concursado de direção teatral do Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde trabalhou até se aposentar. Lá, dirigiu o curso de formação do ator, de 1986 a 1988, e realizando montagens que transformaram a condução pedagógica da formação de intérpretes no Recife.

Cadengue deixa um vazio imenso no teatro



Satisfeita Yolanda

Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
o maior bem é tristonho
uma sombra, uma ficção;
e os sonhos, sonhos são.
porque toda a vida é sonho

Calderón de La Barca

Antonio Edson Cadengue, um dos mais intensos encenadores brasileiros, morreu na madrugada desta quarta-feira. De forma súbita. Assim, de repente, como a morte chega e arrebata quem está muito ocupado com sua arte. O diretor, escritor e professor Cadengue preparava a nova montagem de Em Nome do Desejo, a partir da obra de João Silvério Trevisan. No fim de semana exibiu o primeiro ensaio aberto para o dramaturgo e passearam pelas praias de Pernambuco. Parecia feliz em levar de volta aos palcos seu maior sucesso, da década de 1990. O que é a vida?, pergunta Calderón. Sabemos pouco. Antonio Edson deixa um vazio imenso e isso não é força de expressão. É real. A paixão pelo teatro exalava por seus poros; os olhos brilhavam. E como todo amante defendia sua arte com toda a força. Discordava, brigava. Nunca foi uma unanimidade. Colecionou afetos e alguns desafetos. Viveu profundamente as emoções, que articulava para os palcos.
Cadengue faleceu às 3h30, aos 64 anos. Levou uma queda em casa. Coisa que pode acontecer a qualquer um. Um acidente doméstico. Foi internado na unidade médica do Hospital Hapvida, no Recife. Complicou e chegou a óbito. Infarto agudo secundário a uma arteriosclerose coronariana, que levou a um edema agudo do pulmão é o que diz o laudo oficial como causa da morte. O Teatro Valdemar de Oliveira será o palco para as despedidas, a partir das 8h de quinta (02). É uma merecida homenagem já que o pesquisador escreveu sua tese de doutorado sobre o Teatro de Amadores de Pernambuco- TAP, do qual o Teatro Valdemar de Oliveira é sede. No livro ele avalia cinco décadas da história do longevo grupo teatral recifense. O trabalho foi publicado em dois volumes pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).
O sepultamento será no Cemitério de Santo Amaro, às 15 desta quinta-feira. Antônio Cadengue nasceu em Lajedo, no Agreste de Pernambuco. Foi um dos fundadores da Companhia Práxis Dramática, nos anos 1970, e criou no início da década de 1990 a Companhia Teatro de Seraphim. Montou clássicos, como Sonho de uma Noite de Verão, de Shakespeare, muitas peças de Nelson Rodrigues – Toda Nudez Será Castigada, Senhora dos Afogados, Viúva, Porém Honesta e Doroteia e textos contemporâneos como os de Luís Reis: A filha do teatro, A morte do artista popular e Puro lixo, o espetáculo mais vibrante da cidade e de Aimar Labaki: Vestígios. Mas qualquer palavra, essas palavras, tudo isso é muito pouco para falar de um artista tão brilhante, quer se goste ou não da arte que ele fazia. Ele deixa um vazio imenso. O teatro pernambucano está de luto.
Abaixo, um vídeo com um trecho da peça A Morte do Artista Popular, o merengue do Cadengue. Siga na luz.

Nenhum comentário: