16/09/18

A M. FROMENT MEURICE - Victor Hugo

Nós somos irmãos: a flor
No papel como na pedra.
O poeta é escultor;
O escultor é poeta.
Poetas ou escultores,
A musa a nós se revela.
Tornamos os bons melhores,
Tu, a beleza mais bela.
Sobre o braço ou o pescoço,
Crias tuas fantasias,
Cristal preciso e precioso,
De paços de pedrarias!
Não digas “Minha arte é nada…”,
Artesão do encantamento,
Foge da rota traçada,
Funde ao ouro o pensamento.
Sem buscar nem o que brota
Nem o que finda, quem pensa
Sempre esculpe a mesma rocha.
Essa rocha é a arte imensa.
Michelangelo, arguto,
Faz jorrar em grandes blocos
A arte que Benvenuto
Talha em minúsculos flocos.
E, ante a arte infinita,
Cuja lei não vê mudança,
Vale a gema de Cellini
O bloco de Michelangelo.
Tudo é grande; rubra ou negra,
Toda alma engendra um drama.
O sol equivale à estrela;
O cintilar vale a chama.
Paris, outubro 1841.
(Victor Hugo, Les Contemplations. Paris: 1858. Tradução: Erick Monteiro Moraes)

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