05/09/18

Heróis da cantoria por Jénerson Alves


Figuras heroicas são importantes para as sociedades. Basta olhar para a mitologia grega, ou até mesmo para a poesia romana – que, embora inferior à grega, retrata a grandeza da pátria. A tradição judaica também é marcada por figuras de destaque, guiadas por Deus, que cumprem grandes propósitos.

Oliveira de Panelas
Dando um salto histórico, vemos os heróis adquirindo novos contornos através da Histórias em Quadrinhos (HQs). Os gibis surgiram no ano de 1935, porém as tiras eram publicadas nos jornais desde 1895.  Nos anos 30, veio ao público o Superman. Forte, virtuoso e capaz de façanhas incríveis, o Homem de Aço é o mais icônico dos personagens de HQs. Um detalhe que pouca gente sabe: durante a infância, ele frequentava a Igreja Metodista. Em 1939, foi criado o Batman e, dois anos depois, a Mulher Maravilha passou a abrilhantar as páginas dos gibis.

Um dos aspectos mais interessantes dos super-heróis é que eles demonstram valores importantes para a sociedade. Esse conjunto de valores ou comportamentos consiste no conceito de “role model” – expressão inglesa sem correspondente direto em português, mas que significa algo como “modelo de conduta”. Esses personagens exercem influência, sobretudo nas crianças, nos adolescentes e nos jovens. E não existem apenas no plano ficcional, mas também no mundo real. Personalidades da música, dos esportes ou da política assumem esse papel.

A despeito disso, há uma grandeza no homem comum. O escritor britânico G. K. Chesterton já descreveu: “Todos os homens podem ser criminosos, se tentados, todos os homens podem ser heróis, se inspirados”. Aliás, o próprio Chesterton afirmou que não existe nada mais extraordinário do que um “homem comum, com sua esposa comum e seus filhos comuns”.


Entre esses homens extraordinariamente comuns, há os poetas repentistas nordestinos. Pessoas simples, mas com uma capacidade de raciocínio gigantesca. Vates que improvisam estrofes complexas em frações de segundos.
No próximo sábado, dia 08, duplas importantes da cantoria de viola se reunirão em Caruaru, em um festival inteligentemente intitulado ‘Heróis da Cantoria’. Ivanildo Vilanova, Oliveira de Panelas, Hipólito Moura, Severino Feitosa, Raimundo Caetano, Edvaldo Zuzu e Severino Dionísio estão entre os cantadores, que serão apresentados por Felizardo Moura. Jefferson Moisés e Sérgio Ricardo declamarão poesias. A organização está por conta de Luciano Leonel e Bionor Gonçalves. O evento será na Churrascaria Sabor do Nordeste (Avenida Brasil, 19, Bairro Universitário). O acesso será de apenas 20 reais.

É uma grande oportunidade para a população em geral aproximar-se desses grandes poetas, que podem se constituir como “role models” nos padrões culturais. A sensibilidade para com a língua e o senso crítico exposto nos versos dos cantadores nordestinos é capaz de expandir a cosmovisão da plateia, atenta e sedenta por bons conteúdos.

Para concluir, transcrevo uma opinião do filósofo Olavo de Carvalho, em um hangout na internet, que serve de alerta principalmente para pais e mestres: “Qualquer repentista nordestino tem uma riqueza verbal infinitamente superior à de qualquer professor universitário brasileiro! Eles têm que ir aprender com os cantadores nordestinos, que eles, sim, sabem e conhecem a língua. A capacidade dos repentistas de aprender métrica e rima é quase instintiva. Agora, se a criança cresce ouvindo funk, nunca vai pegar nada disso".

Nenhum comentário: