10/11/18

Conexão Cultural Um Passeio por Caruaru à partir dos Museus por Frank Junior

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Um dos programas que eu mais gosto de fazer em Caruaru é dar uma volta no centro aos sábados pela manhã. Observar e aprender mais sobre a cidade, escutar banda de pífano na feira, depois almoçar um pirão com cajuína. Essas coisas fazem parte da história e identidade cultural de Caruaru, e existem lugares que contam um pedaço dessa história: Os Museus.

Antes de almoçar, experimente ir lá atrás, depois da feira de ervas, você irá encontrar “A Casa de Cultura José Condé”.

Esse museu foi construído por iniciativa do então prefeito da época, Anastácio Rodrigues que teve essa idéia no ano de 1971, mesmo ano de morte do escritor José Condé. O museu foi inaugurado no último dia de mandato de Anastácio, 31 de Janeiro de 1973, e recebeu o nome de Casa de Cultura José Condé, como forma de homenagem ao escritor.


O museu conta com salas para realização de oficinas e aulas, e outras de exposição com acervos e histórias de personagens importantes de Caruaru, como Ludugero & Otrope, Tavares da Gaita e por aí vai. O museu também conta com uma sala toda destinada a brinquedos da feira e uma outra exclusiva para José Condé, com quadros, fotografias, livros, e materiais de uso próprio do escritor.



Volte para o interior da feira, passe pelo aroma da feira de ervas, escute a cantoria pé-de-parede dos poetas repentistas no bar do repente e vá seguindo o rastro dos córdeis. Em algum momento à direita, vai estar lá o Museu do Cordel Olegário Fernandes.

O museu foi inaugurado em 2002, mas idealizado por mestre Olegário desde 1999, e leva esse nome em homenagem a esse grande poeta cordelista de Caruaru. O lugar conta com mais de 10 mil títulos de cordéis entre clássicos e novos. Inclusive, já comprei lá clássicos de José Pacheco e Sales Arêda, até córdeis mais recentes como o de Dorges Tabosa, que homenageia o centenário de José Condé.





Saindo da feira e seguindo pela rua do Colégio das Freiras, ali na Baixinha do Gregorinho, pegue à direita na Rua da Frente e siga sentido o beco de Major Sinval, mas vire a esquerda no beco anterior: o beco do mercado de farinha.

O colégio das freiras foi inaugurado na década de 20, e é o atual Colégio Sagrado Coração. A Baixinha do Gregorinho era como aquele setor era chamado, porque antes de ser o Colégio das Freiras, era o Chalé do Gregorinho naquela esquina. Rua da Frente é a atual 15 de Novembro. Beco de Major Sinval é o atual beco da Estudantil.

Essa é a cidade de quando o Mercado de Farinha foi inaugurado, em 1924 (além de ser a mesma cidade dos romances de Condé) durante a administração do prefeito Celso Galvão (1922-1925). O prédio funcionou como mercado de farinha até 1992, abrigando feirantes que comercializavam cereais e farinha de mandioca na feira de Caruaru. 1992 foi o mesmo ano que a feira foi transferida para o parque 18 de Maio, e o Mercado de Farinha foi transformado no Memorial da Feira pelo então prefeito João Lyra Neto, passando a se chamar de Espaço Celso Galvão. Funcionou como memorial da feira até 2001 onde foi desativado. Em 2009, foi reaberto e reinaugurado como o Museu Memorial da Cidade, servindo de guardião da memória e história de Caruaru.
Lá no museu Memorial tem várias informações sobre a história da cidade, como as fotos de todos os prefeitos, a exposição de vários livros lançados sobre Caruaru e informações sobre o Carnaval e a Festa do Comércio. Além de várias fotografias, muito provavelmente é lá que você irá descobrir um pouco mais sobre essa cidade que eu descrevi, com citações à “Rua da Frente”, “Baixinha do Gregorinho”, “Colégio das Freiras” e a Caruaru na década de 20.


No centro de Caruaru, seguindo por um dos lados da linha do trem, um Luiz Gonzaga bem grande estará olhando pra você em forma de estátua. Não é à toa, o atual nome daquele espaço é o Pátio de Eventos Luiz Gonzaga (onde fica um dos palcos do São João), que abriga no lado esquerdo o Museu do Forró Luiz Gonzaga. O Museu é dividido em três salas: 1) Sala do Centenário Luiz Gonzaga; 2)  Festejos Juninos de Caruaru; 3) Sala Elba Ramalho. Mas esse museu em específico vale por dois, porque no 1º andar dele funciona o Museu do Barro “Espaço Zé Caboclo”.

Esse espaço  é formado por cinco salas: 1)  Mestre Vitalino; 2) Artesãos do Alto do Moura; 3) O hall com a Pinacoteca Luisa Maciel (um dos principais nome da arte e da pintura de Caruaru), com quadros que retratam a cultura popular; 4) Sala de exposições temporárias e 5) Sala Cine Cultural, destinada a encontros e reuniões.

Do outro lado do pátio de eventos, o galpão onde funciona a Fundação de Cultura, também abriga o Museu da Fábrica Caroá. Não é por acaso esse museu existir, esses galpões e todo esse terreno do atual Pátio de Eventos era antigamente a Fábrica Caroá (que funcionou entre o período de 1935 à 1978). O museu se destina a contar a história dessa fábrica que foi extremamente importante para a cidade. O acervo é composto por painéis que contam a trajetória da fábrica, da vida do Cel. José de Vasconcellos, seu fundador, e informações sobre a retirada da fibra do caroá até boa parte do maquinário e muitas fotografias.


Entrando no Alto Moura, seguindo pela rua principal, lá na frente, do lado esquerdo, tem uma casinha de taipa que foi construída em 1959. Foi lá que morou mestre Vitalino, na época que tudo ali era mato. Hoje essa casinha é a “Casa Museu Mestre Vitalino”. A casa é administrada pelo filho do mestre, Severino Vitalino que também é artesão e lá estão expostos fotos da família, instrumentos musicais tocado pelo mestre Vitalino (Vitalino também tocava pife), além de peças de barro feitas na hora pelo mestre Severino.

Nessa mesma rua do Alto do Moura, virando à esquerda, vá até o final, tome uma cerveja no bar de Juscelino e logo de frente estará o Museu Memorial Mestre Galdino. O local abriga vários painéis informativos, peças feitas por Galdino (que também era poeta) como Mané Pãozeiro e Catrevage, além de textos como “Se Cria Assim”, um dos mais famosos do mestre (foi até musicada pelo Sangue de Barro).


Se estivéssemos no início da década de 60, eu diria pra dar uma passada na praça Juvêncio Mariz pra visitar o Museu de Arte Popular Mestre Vitalino. Por iniciativa e articulação de João Condé (irmão de José Condé), foi construído esse museu em homenagem aos mestres do Alto do Moura, com destaque pra mestre Vitalino. Pra uma cidade que tem o barro como identidade cultural forte, esse museu seria importantíssimo pra Caruaru. O fato é que o museu foi demolido 4 anos depois de construído, pra dá lugar ao atual prédio da prefeitura. Detalhe que nesse meio tempo, a praça - que abriga hoje a prefeitura - não se chama mais Juvêncio Mariz (que foi o 1º prefeito de Caruaru, lá pelo início do século 20), ela hoje se chama Teotônio Vilela.


Um outro espaço que oficialmente não é um museu, mas é uma exposição permanente, é o Memorial Nelson Barbalho, que fica localizado lá dentro do Polo Comercial. O memorial é uma exposição toda focada em Nelson Barbalho, com displays em vidro exibindo os livros publicados, fotografias, histórias, músicas e objetos pessoais. Vale a pena ir lá e sentar numa sala onde fica passando um documentário sobre Nelson Barbalho.


Museu não é feito só pra turista, é um equipamento cultural pra cidade toda, que merece ser ocupado e visitado frequentemente por seus habitantes. Visitar museus com calma, não só transmite aquela paz pelo silêncio, mas causa também o sentimento no visitante de sair maior do que entrou, por ter absorvido aquela quantidade de conhecimento. Essa avalanche de informação não se digere na primeira visita, e o retorno é necessário.

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