A data 30 de janeiro representa o nascimento de um dos mais importantes pajadores brasileiros. Trata-se de Jayme Caetano Braun. Nascido em 1924 na Fazenda Santa Catarina (atual município de Bossoroca), no Rio Grande do Sul, Jayme cresceu em um ambiente de muita verve poética – sua mãe, seu tio e sua avó materna eram acostumados a declamar versos. Já adulto, seus poemas ganharam notoriedade nacional, inclusive na propaganda política de Getúlio Vargas em 1950.
Antes de continuar falando sobre Jayme Caetano Braun, convém esclarecer que chama-se ‘pajador’ o repentista que canta versos de improviso com o acompanhamento de milonga, normalmente em Décima Espinela (com o esquema de rimas ABBAACCDDC, também presente nas cantorias de viola nordestinas e nos folhetos de cordel). No sul do Brasil, este canto é feito no estilo recitado, mas nos países do Prata é feito decantado melodicamente.
Pois bem; Jayme Caetano Braun encarna esta tradição representando a cultura e a história do Sul, dialogando com outras vertentes regionalistas e metaforizando o interior do Brasil. Vale rememorar que o Sul, assim como o Nordeste e o Centro-Oeste, havia recebido especial atenção dos escritores românticos do século XIX, expressando a necessidade de reconhecimento dos espaços nacionais. Este mesmo sentimento transparece na segunda geração modernista, situada por volta dos anos 30 do século XX. Então, é possível afirmar que Braun deve ter recebido influências tanto daquele primeiro momento quanto do segundo, do qual foi contemporâneo.
Na poética do gaúcho, percebe-se que as palavras adquirem um tom de objetividade muito semelhante ao dos poetas populares do Nordeste. A subjetividade aparece nas estrofes não como um elemento de multiplicidade interpretativa, mas como a tradução da sensibilidade ímpar do autor. Outra característica que se percebe na obra de Braun é a exaltação heroica da vida campeira. Em um artigo, a professora Rosinéia Izac Zorzo aponta que, de certa forma, é possível comparar seus poemas com as Canções de Gesta francesas – as quais, entre os séculos XI e XIII, enalteciam grandes feitos dos nobres. Contudo, o pajador exalta a essência do homem simples, colocando-o como um herói, como pode ser percebido na seguinte estrofe do poema ‘Sem Diploma’:
“Como é lindo colar grau
num salão de faculdade,
embora essa qualidade
não transforme o bom em mau.
O Jayme Caetano Braun
dessa linha não se afasta,
a inspiração não se gasta
nem me torna mais cruel,
eu conquistei um anel,
o de gaúcho – e me basta!”
Entre seus poemas, há o célebre ‘O Brasil doente’, que retrata a pátria dos idos de 1970 e 1980, mas apresenta pérolas que suscitam reflexões ainda hoje, como as seguintes:
“Companheiro permanente
Igual a mim, um teatino
Meu parceiro examino
O quadro do Brasil doente
Preocupado com o paciente
Entregue pr’o estrangeiro
Um caso brabo, traiçoeiro
De virose de alpinista
Tendo tanto especialista
Tratado por curandeiro.
Minada em toda estrutura
Desde a mente até ossamenta
O pobre doente apresenta
Febre, fome e amargura
Com princípio de loucura
E completo esgotamento
Sem nenhum medicamento
O preço é proibitivo
Na verdade, um morto-vivo
Pela falta de alimento.”
Jayme Caetano Braun morreu em 08 de julho de 1999, na cidade de Porto Alegre-RS. Ainda pouco conhecido em outras regiões do Brasil, ele é referenciado entre os pajadores brasileiros e estrangeiros, como da Argentina, do Uruguai e do Paraguai.

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