19/01/19

SUFRÁGIO E AMIZADE por Agildo Galdino


Vieram-me à mente diversas frases para iniciar este texto. Rabisquei, escrevi, apaguei. Acabei por optar por essa sentença: Posso não concordar com nenhuma das palavras que disseres, mas defenderei sempre o teu direito de dizê-las.

Alguns pessoas acham que devemos ter exatamente a mesma perspectiva de mundo, a mesma predileção para tudo, inclusive na concordância do ponto de vista político. É aí que mora a insensatez, nesse ponto: não poderei ser amigo de alguém que não gosta disso ou daquilo. Não, isso não. Temos que ponderar, medir, avaliar a maior ou menor gravidade das diferenças, das polêmicas, das controvérsias. Na história da humanidade temos exemplos memoráveis em que a amizade transpôs grandes diferenças entre pessoas.

O sufrágio do ano passado ainda tem dado o que falar. Mas agora como diz o dito: é bola para frente. Vou me restringir unicamente a tratar das relações de amizades entre as pessoas. Muitas pessoas esqueceram que as relações de amizades são verdadeiros tesouros na vida e tal qual a família são pedras preciosas para serem arranhadas e até desfeitas por razões político-partidárias. 

Não nos enganemos que se tivermos a amizade, o sentimento de pertencimento, como critério, acredito que a sustentabilidade das organizações estará sempre sujeita a rupturas. Seja em qual época for, a civilidade não deve ser afastada de nosso convívio.

Definir o que é amizade não tentarei. Isso é tarefa complexa nessa época em que se diz: Confiar nos outros é atributo de ingenuidade. Mas arriscarei em dizer a princípio que amizade é uma relação afetiva entre pessoas que se conhecem e se efetiva por laços emocionais e pela lealdade recíproca.

Pessoalmente, não misturo minhas amizades e meu bem querer com ideologias. Entendo que nas relações pessoais devemos ouvir o que tem os outros a nos dizer e mesmo que não concordemos, ainda assim é imperioso respeitar o entendimento do outro, eticamente, sem outras pretensões.

Nesse contexto, ouvi inúmeras queixas de pessoas amigas que estiveram nos meses finais de campanha, sujeitas a trocas de insultos, violência verbal através de acusações “ad hominem” esquecendo-se completamente de anos de amizade entre elas. Qualquer tolice jogada no ar ou nas redes sociais transformava-se em provocação por posição político-partidária contrária. Outras produziam comentários ácidos e queimação da imagem do outro de maneira tão desnecessária e antiética como se sua verdade fosse única e seus parâmetros de compreensão política, regra geral.

As provocações não ficaram apenas por conta da internet e das redes sociais. Literalmente foram discussões acirradas e se encontrava por toda parte, em todos os níveis sociais, bastando para tal que as pessoas se declarassem estar de um lado ou do outro ou mesmo de posição neutra na disputa eleitoral. Em meu entendimento, vivemos meses de um radicalismo sem precedentes desde a redemocratização do país.

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