Era tarde de qualquer dia, tardinha pra ser mais preciso.
O sol lindamente se pondo e eu fitando-o encantado, no alpendre de um chalé, deitado numa rede. Fui parar ali não por escolha e sim por impulso do devaneio, ou seja, estava em estado de espírito de quem se deixa levar por lembranças, sonhos e imagens.
Tentava terminar um conto, poesia, ensaio e a mente travou.
Perturbações outras me vieram à memória e me roubaram a inspiração.
A tarde estava se indo e cortejando a noite. Eis que chega uma amiga cortejando meus pensamentos! Fiquei sem saber se era ou não era.
Já teria dormido e era sonho?
Nada, era real mesmo. Uma amiga uns quarenta anos mais nova, bem podia ser minha neta, neta atenciosa embalando a rede do vô desvaneado.
Tinha chegado de surpresa?
Tinha chegado por acaso?
Para mim não interessava, saltitei da rede e a abracei afetuosamente.
Preparei um lanche, conversamos e lhe mostrei os textos inacabados. Pronto, era do que precisava. Parceria perfeita. Ela foi falando...
Falando e eu anotando... anotando. Enfim, texto pronto.
E saímos a relaxar passeando e curtindo a paisagem serrana da noitinha.
Contemplando a fauna e suas espécies. Nas árvores os pássaros se aninhando.
Céu limpo e bem estrelado. Qual mente não agradece um momento de descanso desses? Os órgãos dos sentidos ficam arejados.
O pensar, a atenção, o raciocínio, a memória, o juízo, a imaginação, o pensamento, o discurso, a percepção visual e audível, a aprendizagem, a consciência, as emoções...
Sim, já era uma emoção estar com ela naquelas circunstâncias. Em filosofia estuda-se a mente e o pensamento tendo por ponto de partida a cognição.
E acreditem, nossos neurônios estavam revigorados, as sinapses pipocando ideias.
Olhamos um para o outro e sem precisar dizermos nada, corremos para o chalé.
Pela noite e madrugada escrevendo e escrevendo e escrevendo.
A sabedoria não se transmite, é preciso que a gente mesma a descubra depois de uma caminhada que ninguém pode fazer em nosso lugar, e que ninguém nos pode evitar, porque a sabedoria é uma maneira de ver as coisas.
(Marcel Proust)
2 comentários:
Fantástico
Perfeito!
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