06/02/19

Em Prosa e Verso - A eloquência sacra do padre Antônio Vieira – por Jénerson Alves

Antônio Vieira na redução das tribos em Marajó, de Theodoro Braga, 1657.
Dia 06 de fevereiro de 1608. Esta foi a data de nascimento de Antônio Vieira, em Lisboa. Sem dúvida, um dos maiores escritores do século XVII e a maior expressão da eloquência sacra lusitana. Alguns consideram-no o “Crisóstomo Português” – comparando-o com o monge do século IV chamado ‘homem da boca de ouro’.

Aos 07 anos de idade, veio ao Brasil e educou-se no Colégio dos Jesuítas da Bahia – ordem da qual, mais tarde, tornar-se-ia sacerdote. Destacou-se como pregador ainda muito jovem, apresentando sermões com um encadeamento lógico engenhoso.

Sua influência intelectual não se limitou ao âmbito religioso, mas adentrou nos espaços da oratória e da política. Na condição de missionário em terras brasileiras, combateu a exploração e a escravidão dos povos indígenas, aos quais evangelizava. Inclusive, os índios o chamavam de “Paiaçu”, expressão tupi que significa “grande pai”.

Também defendeu os judeus, posicionando-se contrariamente à distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, que sofriam perseguições) e cristãos-velhos (isto é, os católicos tradicionais). A própria Inquisição foi alvo de críticas do padre Antônio Vieira, bem como os sacerdotes da sua época. Para Vieira, era necessário pregar palavras e apresentar obras alinhadas à mensagem do Evangelho.

No aspecto literário, é a maior expressão da prosa no Barroco brasileiro, desenvolvendo o conceptismo, ou seja, as ideias, em contraposição ao cultismo, que privilegiava a forma verbal. O eminente escritor português, séculos mais tarde, chamou o Padre Antônio Vieira de “imperador da língua portuguesa”.

Em sua obra, há cerca de 200 sermões. Entre os mais famosos, estão o da “Sexagésima”, no qual condena pregadores que pregam de maneira vazia a palavra de Deus; o “Sermão de Santo Antônio aos Peixes”, em que apresenta o amor místico inerente à doutrina católica; e o “Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra a Holanda”, no qual exorta o povo baiano a reagir contra a ameaça protestante holandesa.

Morreu em 18 de julho de 1697, aos 89 anos, na cidade de Salvador. Além de um orador da mais elevada grandeza, um ‘profeta’ contra pecados, soberbas, ambições e cobiças. Suas obras permanecem atuais e provocam o leitor a refletir sobre o passado, o presente, o futuro e a eternidade.


Nenhum comentário: