Do Jornal Vanguarda
O espetáculo ‘É aquilo que nunca deixou de ser' está em cartaz na zona rural e na área urbana de Caruaru, livremente inspirado na obra do poeta, ceramista e violeiro, Mestre Galdino. A peça está sendo encenada dentro do projeto ‘Teatro nas Comunidades', executado pelo Teatro Experimental de Arte (TEA). Neste sábado (23), a apresentação acontece no Clube da Associação dos Moradores do Alto do Moura e, no domingo (24,) no Teatro Rui Limeira Rosal, no Sesc, sempre às 19h.
Nesta edição, o projeto já passou pela Ceagepe, Pau Santo, Riacho Doce, Taquara, Malhada de Pedra e Murici, levando a cultura da arte cênica para populações que enfrentam dificuldades para irem ao teatro. ‘É aquilo que nunca deixou de ser' busca a composição de um território de resistência, existência e reinvenção de si, através de metáforas construídas a partir do universo imaginário do artista. "Galdino acreditava que a imitação da realidade não era considerada arte, mas, através da arte e da expressão do universo imaginário, se podia encontrar o ponto de transformação pessoal e estabelecer uma rede com seu meio social", disse Fábio Pascoal, que assina o texto da peça.
O espetáculo busca a construção de um universo lúdico, onde bonecos e objetos de uma série de observações, transformação e reconfigurações do ser, ganham vida, à medida que o ator narra seus conflitos enquanto ser repleto de subjetividades e ser social que se transforma. "A participação é tão total que mergulhar a mão na matéria certa é mergulhar nela todo o ser".
A encenação parte da frase de Bachelard, para construir uma narrativa que traz à tona os conflitos do ser humano enquanto ser político, social, subjetivo, através da metáfora da construção da obra de arte em cerâmica, onde a escolha da matéria, no caso o barro, desenrola uma série de observações, transformação e reconfigurações do ser.
Pascoal lembra que o espetáculo foi criado durante uma oficina de iniciação ao Teatro de Objetos, ministrada pela atriz Agnéz Limbos (Bélgica), dentro da programação do Festival Internacional de Teatro de Objetos (Fito), realizado em 2013, no Recife. "Foi exatamente naquele momento que aconteceu meu primeiro contato com esse gênero do teatro de formas animadas e com a caixeira baiana Marie Assumpção, resultado do projeto ‘Como um Gaudi Nordestino', incentivado pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura)", disse.
Essa experiência foi transformadora e fundamental para desperta-lhe o interesse em atuar, talvez movido pelos reflexos de memória e pela liberdade imaginativa que essa técnica lhe suscitava.
Em 2015, ainda sob o efeito da experiência vivenciada na oficina do Fito, foi trazido o tema "O Teatro de Formas Animadas e a construçãoo do imaginário" para a 25ª edição do Feteag (Festival de Teatro do Agreste). Essa proposição buscava ampliar a formação e possibilitar que os artistas locais mergulhassem em outros gêneros do teatro de formas animadas, transcendendo o tradicional mamulengo e indo ao encontro de novas possibilidades de criação.
O projeto Teatro na Comunidade foi criado em 1982, pelo TEA, e tem como objetivo ampliar as ações de sensibilização para o teatro, transpondo os limites físicos de sua sede, o Teatro Licio Neves, transbordando-as para as comunidades em forma de apresentações artísticas, debates e palestras, alcançando importantes resultados. Além disso, outro foco é despertar nos jovens e adultos o interesse pelas artes e, principalmente, pelo teatro, transformando-se numa importante ferramenta para a discussão de cidadania e de direitos humanos.
Pascoal lembrou que durante o processo curatorial houve o contato com diversos grupos e espetáculos e, entre os selecionados, estava o ‘Semente', uma criação coletiva coordenada por Marie Assumpção, que buscou remeter a uma experiência sensorial e transformadora, levando o público presente a um deslocamento, doloroso talvez, da condição de passivo, "embrutecido" a "emancipado", como propõe Ranciére.
Além do espetáculo, o Feteag foi contemplado com uma oficina de Teatro Lambe-Lambe, ministrada pela própria Marie Assumpção, e realizada com a participação dos alunos da Escola Municipal Mestre Vitalino, no Alto do Moura, o que se revelou uma outra experiência marcante para todos os envolvidos, professores, alunos, familiares e equipe de produção.
"Foi durante essas experiências que o projeto ‘Como um Gaudi Nordestino' foi sendo gestado, para se apresentar, não apenas como uma montagem de espetáculo, que por si só acreditamos que já seja uma importante iniciativa, mas, principalmente, promover o encontro entre os criadores e estreitar os laços afetivos e profissionais entre todos os envolvidos", comentou Fábio Pascoal.
A finalização desta circulação marcará um momento de suma importância, uma vez que será feito o caminho inverso, agora trazendo moradores das comunidades visitadas para acompanhar essa última apresentação ao Teatro Rui Limeira Rosal. "Acreditamos que esta é uma ação importantíssima de valorização das comunidades, de inclusão cultural e formação de público e plateia, despertando e disseminando o desejo de apropriação de capital cultural, fundamental para mantermos a atividade teatral viva e fortalecida", finalizou Pascoal.



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