15/02/19

Luciana: Unidade da esquerda virá na resistência à agenda de Bolsonaro


Passada a eleição para o comando da Câmara, a vice-governadora de Pernambuco e presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, defendeu superar as divergências circunstanciais da esquerda e reforçar a unidade desse campo contra a plataforma de Jair Bolsonaro. “O que vai possibilitar a unidade da esquerda é o foco na agenda de resistência, de contestação à retirada de direitos e às privatizações. No Parlamento, nas ruas e nas redes sociais. Estamos com esse espírito”, disse, no programa Roda Viva Pernambuco, transmitido ao vivo pela TV Nova na noite desta terça (12).
Luciana destacou que, embora os partidos de esquerda não tenham marchado juntos na eleição para a Presidência da Câmara, devem atuar de forma coesa no combate à pauta regressiva do governo. “Sempre dissemos que a eleição da mesa é apenas um episódio, que não pode nos levar para uma agenda permanente de falta de unidade na ação política. Vamos nos pautar por restabelecer essa unidade, vamos virar essa página, e fazer valer o que nos uniu nas urnas e vai nos unir sempre, que é o conceito que a gente tem do papel do Estado”, afirmou.
Questionada sobre o apoio de seu partido à candidatura de Rodrigo Maia à Presidência da Câmara, a vice-governadora fez questão de esclarecer que, na eleição interna, nunca esteve em jogo um apoio programático, mas sim o funcionamento democrático do Legislativo.
Nesse sentido, ao invés de escolher marcar posição, se aliando a um candidato à esquerda sem chances reais de vitória, o PCdoB optou por apoiar alguém que, na sua avaliação, respeitaria a atuação da oposição e o regimento interno da Casa e garantiria espaços para o debate.
“Todos sabem que não temos afinidade programática ou ideológica com ele [Maia], especialmente do ponto de vista da agenda econômica - ele é um liberal convicto. Mas, na relação institucional, ele sempre cumpriu palavra, é uma pessoa democrática, que respeita a atuação da oposição, da minoria”, colocou.
Ela lembrou que a relação com Maia não é de hoje, vem desde a disputa anterior, na qual o deputado concorreu contra um candidato ligado a Eduardo Cunha. “Fomos para a redução de danos”, resumiu, lembrando que, naquele momento outros partidos de esquerda assumiram a mesma posição.
“Hoje vivemos uma situação mais adversa, depois da eleição da extrema-direita. No Parlamento, também somos minoria. O PCdoB achou que não valeria à pena marcar posição apenas. Ali não está em jogo a questão programática. Ali está em jogo a democracia”, justificou.
Luciana ressaltou ainda que, mesmo antes da disputa na Câmara, o PCdoB articulou a criação de um bloco, com PSB e PDT, de atuação perene, para se contrapor à agenda Bolsonaro no Legislativo. Mas a disputa na Casa findou por embolar os acertos.
Para a vice-governadora, é necessário unir mais que a esquerda, para enfrentar a plataforma do atual governo. “Temos que fazer uma frente ampla. Uma frente de esquerda só não resolve a pluralidade que há no Brasil, de pensamentos e opiniões acerca dos desafios brasileiros”, reiterou.
Ela comentou ainda a incorporação do PPL (antigo MR-8) ao PCdoB, que deverá fazer com que o partido supere a cláusula de barreira. “Tem sido um processo rico e mútuo, de convergências sobre muitas questões, especialmente no que diz respeito à soberania nacional e contra a agenda do governo”, declarou.
 Para Luciana, hoje, há forte disputa político-ideológica e de narrativa sobre os destinos do país. E o que está em jogo é o fortalecimento da economia e a defesa dos interesses nacionais.
 “Somos muito dependentes de commodities ainda. O que precisamos é nos inserir nas cadeias mais dinâmicas da economia, nas tecnologias portadoras do futuro. É um retrocesso abrir mão da Embraer, por exemplo. Não é uma empresa estatal, mas é inteligência brasileira. É correto o Estado, tendo a prerrogativa de ter uma golden share, vender 80% da Embraer à Boeing? E depois vender o restante, comprometendo o financiamento da Defesa?”, questionou.
Pernambuco
Sobre a reaproximação do PSB com o PT, selada em Pernambuco na disputa pela reeleição do governador Paulo Câmara, Luciana disse que se trata do resgate de uma experiência exitosa no Estado, que é o resgate da Frente Popular do Recife, com um núcleo mais à esquerda, ampliado com forças que não necessariamente pensam igual.
“Essa aliança do PCdoB, PSB, PT e PDT é histórica. Os principais feitos da viragem na economia que Pernambuco vivenciou foram no auge da aliança de Eduardo Campos com Lula. Agora é uma retomada”, apontou.
Na sua avaliação, o resgate da Frente deu ao governo do Estado maior nitidez política e ideológica. Segundo ela, Paulo Câmara está muito preparado para conduzir todo esse processo, com a experiência de quem fez Pernambuco atravessar bem a fase mais difícil da economia brasileira. Segundo ela, as costuras para a unidade da esquerda fortaleceram o governador.
“Muita gente o via mais como uma grande personalidade técnica e, nesse episódio agora, ele mostra grande capacidade política para resgatar essa composição (...) A Frente afirma a disposição de fazer valer o que nos uniu. Que é a ideia de que o Estado não pode ser máximo, nem mínimo, tem que ser do tamanho necessário para impulsionar economia e garantir inclusão social”, indicou.
Foto: Diego Galba/VG

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