18/02/19

Pequena Gráfica no interior de Pernambuco teria recebido gastos milionários


Ao todo, sete candidatos declararam ter gasto R$ 1,23 milhão dos fundos eleitoral e partidário na gráfica Vidal, que nunca participou antes de uma eleição e funciona em uma pequena sala na cidade de Amaraji, interior de Pernambuco. A gráfica Vidal é de pequeno porte, pertence a um membro do diretório estadual do PSL —legenda do presidente Jair Bolsonaro— vindo a ser a que mais recebeu verba pública do partido em Pernambuco nas eleições do ano passado.

A Folha de São Paulo identificou que pelo menos 88% deste valor, a quase totalidade dos repasses de fundo partidário e fundo eleitoral, foram de responsabilidade oficial do presidente nacional do PSL à época, Gustavo Bebianno, então coordenador de campanha de Bolsonaro, até hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência.

Quando o jornal foi conhecer na semana passada a empresa, na sala, havia duas máquinas e uma recepcionista. Um ambiente simples que não bate com o grande volume de material que teria sido impresso no local. A recepcionista da Vidal informou que só ela e outro funcionário trabalham no local.

Érika Siqueira, ex-assessora de Bebianno no PSL, declarou ter gasto R$ 233 mil na Vidal, de um total de R$ 250 mil repassados. Ela foi postulante a deputada estadual e teve apenas 1.315 votos. O restante da verba, que totaliza R$ 56,5 mil, ela declarou ter gasto em uma outra gráfica, a Itapissu, sem sinais de funcionamento efetivo nos endereços que constam na Receita Federal e nas notas fiscais.

Os outros candidatos que declaram gasto na firma são Major Pedro Mendes (R$ 54,9 mil), Thiago Paes (R$ 40,5 mil), Silvio Nascimento (R$ 25 mil), Frederico França (R$ 13,9 mil) e Fred Teixeira (R$ 13,7 mil). Nenhum foi eleito.

SILVIO NASCIMENTO EMITE NOTA

O suplente de deputado estadual Silvio Nascimento (PSL), publicou uma nota sobre ter sido citado na reportagem do Jornal Estado de São Paulo. 

Confira:

Nota de esclarecimento

Olá, amigos!

Fui surpreendido ao ver meu nome citado em reportagem do Jornal Folha de São Paulo.

Alguns jornalistas tentam a todo custo desestabilizar o governo Bolsonaro, e para isso, atacam seus aliados, para que assim, possam macular a imagem do nosso presidente.

Durante minha campanha comprei sim materiais de propaganda política na Gráfica Vidal, por ela fui atendido, os materiais foram entregues com suas respectivas notas fiscais e distribuídos logo em seguida por nossa militância. A referida Gráfica é estabelecida em endereço certo e com a minha candidatura procedeu de forma correta, vendendo e entregando o produto. Adianto que tomarei as devidas providências jurídicas, inclusive movendo ação de reparação de danos morais contra qualquer jornalista ou empresa de comunicação que atente contra minha honra.

Tive quase quinze mil votos e minha prestação de contar foi aprovada pelo TRE.

Não pratiquei nenhum ato ilícito e estou à disposição das autoridades e com muita tranquilidade para conversar sobre o assunto.

O que é profundamente lamentável é que essa oposição doentia, que se autodenomina de resistência, tenta a todo custo, e da forma mais suja possível, comprometer cidadãos que pela primeira vez candidatam-se a um cargo eletivo.

Tenho comigo homens e mulheres de bem. Tenho a consciência tranquila e a fé em Deus que vamos continuar em pé, firmes e fortes, nessa luta pra acabar com essa forma suja de fazer política.

Repito: estou à disposição das autoridades e, principalmente, de toda sociedade para falar sobre o assunto e mostrar que viemos pra ser diferentes.

Um grande abraço e que Deus abençoe a todos!


Saiba um pouco mais:

A Folha de São Paulo vem publicando desde 4 de fevereiro uma série de reportagens investigativas sobre o caso.

As primeiras denúncias ocorreram em Minas Gerais e envolvem Marcelo Álvaro Antônio, atual ministro do Turismo. Na época, ele era presidente do PSL no estado e tinha o poder de decisão sobre quais candidaturas seriam lançadas.

De acordo com as denúncias do jornal paulistano, Álvaro Antônio está envolvido em um esquema que implica quatro candidaturas laranjas em Minas Gerais.

As candidatas receberam R$ 279 mil da verba pública que deveria ser utilizada na campanha da legenda. Cerca de R$ 85 mil foram destinados a quatro empresas que são de assessores, parentes ou sócios de assessores do hoje Ministro do Turismo.

Ainda segundo o jornal, não há indícios da realização de campanha efetiva das candidatas durante a eleição, que, juntas, alcançaram cerca de dois mil votos, apesar de estarem entre as 20 candidatas que mais receberam dinheiro do partido no país inteiro.

Em depoimento prestado ao Ministério Público, em 18 de dezembro, a candidata a deputada estadual pelo PSL em Minas Gerais, Cleuzenir Barbosa, disse que foi coagida por dois assessores de Marcelo Álvaro Antônio a devolver R$ 50 mil dos R$ 60 mil que havia recebido da legenda.

Frente à denúncia, Álvaro Antônio disse que as as acusações foram feitas “com base em premissas falsas de que houve simulação de campanha com laranjas no partido”.

Uma segunda denúncia foi feita pela Folha, no dia 10 de fevereiro. Luciano Bivar, recém-eleito segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, teria criado uma candidata laranja em Pernambuco. De acordo com o jornal, o partido de Bolsonaro repassou R$ 400 mil do fundo partidário no dia 3 de outubro, a apenas quatro dias antes da eleição.

Maria de Lourdes Paixão foi a terceira candidata que mais recebeu dinheiro do partido no país e se candidatou de última hora para preencher a vaga remanescente de cota feminina.

De acordo com a candidata, 95% do dinheiro foi gasto em uma única gráfica, destinado à impressão de 9 milhões de santinhos e 1,7 milhão de adesivos. Cada um dos 4 panfleteiros, que ela diz ter contratado, deveria ter distribuído cerca de 750 mil santinhos por dia.

O também presidente do PSL, Luciano Bivar, nega que a candidata tenha sido laranja. Ele argumenta que a decisão de repassar R$ 400 mil foi da direção nacional do partido, na época presidida por Gustavo Bebianno, hoje secretário-geral da Presidência da República. Seguindo no jogo de “empurra”, Bebiano, por sua vez, alegou que as decisões dos repasses são das direções estaduais.

À época, Bebianno era o presidente nacional do PSL e coordenou a campanha de Jair Bolsonaro. Ele era responsável formal por autorizar repasses dos fundos partidários e eleitoral a candidatos da legenda.

Segundo apuração da Folha, ele liberou R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada. Bebianno nega ter envolvimento com candidaturas laranjas do PSL.

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