06/03/19

As cinzas de Eclesiastes – por Jénerson Alves


“O Sábio, Filho de Davi, Rei de Israel”. É assim que o autor do livro de Eclesiastes se apresenta. Logicamente, esta ‘assinatura’ remete a Salomão, cuja autoria é praticamente ponto pacífico entre estudiosos judeus e cristãos. O entendimento geral é que Salomão teria escrito Eclesiastes em um estágio mais avançado de sua vida, enquanto Provérbios foi escrito na maturidade e Cântico dos Cânticos na juventude. Assim, é possível admitir que Eclesiastes tenha sido escrito por volta do ano 930 antes de Cristo.
Segundo o professor de Inglês Leland Ryken (phD pela Universidade do Oregon), Eclesiastes é “o livro menos compreendido da Bíblia”. Ainda de acordo com Ryken, o livro é estruturado em dois padrões unificadores. O primeiro é a busca. Vale ressaltar que Eugene Peterson, em sua paráfrase da Bíblia, A Mensagem, apresenta o termo ‘Eclesiastes’ como “aquele que está em busca”. Quem faz a leitura da obra percorre os becos da existência ao lado do Pregador, refletindo sobre temas como poder político, ética, riqueza, intelectualidade e sucesso.
O segundo padrão unificador do livro de Eclesiastes, de acordo com Leland Ryken, é um dialético sistema de opostos alternado entre as passagens negativas – “debaixo do sol” – e as passagens positivas – “acima do sol”. “Quando o escritor descreve a futilidade da vida ‘debaixo do sol’ (ou seja, a vida de acordo com os padrões puramente humanos e terrenos), ele não está dando o veredito sobre a vida. Em estilo literário, ele está compartilhando suas observações sobre como a vida não deve ser vivida. Equilibrando suas passagens negativas estão as positivas em que o escritor retrata uma alternativa centrada em Deus para a vida debaixo do sol”, diferencia Ryken, no livro ‘Para ler a Bíblia como literatura’ (Cultura Cristã, 2017).
Durante o livro, o Pregador apresenta cinco “trabalhos”, isto é, cinco filosofias de vida, a saber: a busca pela sabedoria (filosofia); pelo prazer (hedonismo); pelo poder (materialismo); pelo altruísmo (ética); pela piedade (religiosidade). Porém, ele percebe que tudo isso é “ilusão” (חבל, hebel, no hebraico) e “perseguir o vento” (Ec 2:17). Este vento que perseguimos espalha as cinzas da nossa essência. É como diz a conhecida canção ‘A banca do distinto’, composta por Billy Blanco: “Todo mundo é igual quando a vida termina: / Com terra em cima e na horizontal”.
A lembrança que tudo é passageiro – e se torna cinzas – faz o Eclesiastes apontar para a urgência máxima da vida: “Tema a Deus e faça tudo o que Ele mandar. É isso. No devido tempo, Deus deixará às claras tudo o que fazemos e fará o julgamento. E Ele conhece até mesmo as nossas intenções mais secretas, sejam elas boas ou más” (Ec. 12:13-14).

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