23/07/19

Atualidades - Paulo Freire e a atualidade por Aline Sales*


Em meio a um cenário político conturbado, onde acontece uma retomada de uma visão autoritária do mundo, o patrono da educação, Paulo Freire, que ao longo do tempo, sempre foi uma grande referência para a maioria dos educadores, volta a ser rechaçado. A disseminação de falsas notícias conduziu o país ao totalitarismo, e o único instrumento que pode ser usado para reverter esse quadro é a educação.

Ele, que foi um grande referencial, devido ao seu método revolucionário de alfabetização de adultos, foi para o exilio na época da ditadura militar, acusado de produzir sua obra de forma subversiva e perigosa demais para aquela época. Nesse período, Freire escreveu sua principal obra, Pedagogia do oprimido, dentro de uma visão libertadora, partindo de um assunto politico social e que foi transformado por ele em um assunto educacional.

Quando Freire traz essa ideia para dentro da educação, é resgatada a ideia de que nas tendências progressistas a educação não é apenas algo referente a escolarização, mas a escola também é uma instituição política. E nessa perspectiva o educando desvela o mundo opressor e se compromete com a prática de transformar essa realidade, então a pedagogia do oprimido passa a ser uma pedagogia dos homens, em permanente processo de libertação e em busca de justiça social.

Nesse atual momento político, Paulo Freire, que foi o precursor na filosofia, é tido como inimigo pelos mais conservadores, levando a não aceitação de seu pensamento, já que dialoga com a dimensão da opressão. Para o sociólogo espanhol, Manuel Castells, referencia no estudo das redes, nós brasileiros, estamos vivendo um novo tipo de ditadura:

“Não se pode mais fazer ditadura como antigamente, que se imponha com o exército, mas uma ditadura Orwelliana, de ocupar as mentes, isso se faz acusando de corrupção qualquer tipo de oposição”

“Esse tipo de ditadura só pode funcionar com um povo cada vez menos educado e mais submetido a manipulação ideológica”


A atividade de Paulo Freire apesar de ser realizada na educação, era eminentemente política, embora Freire nunca tenha sido um homem de partidos, ele era apenas um patriota que quis colaborar com a educação do povo. E por ter uma obra tão consistente e humanizada, é também conhecido como um “humanista cristão”.

“Quanto mais eu leio Marx, mas eu encontro uma certa fundamentação objetiva para ser camarada de Cristo”

“As leituras que eu fiz de Marx não me sugeriram jamais que eu deixasse de encontrar Cristo nas esquinas das próprias favelas... Eu fiquei com Marx na mundanidade a procura de Cristo na transcendentalidade”


Defendia uma formação de docentes que solucionasse os problemas éticos e políticos da educação, levando os educadores a desejarem uma sociedade menos elitista, menos injusta, mais democrática, mais popular. Desprezava a fragmentação do conhecimento, fugia das dicotomias, valorizava as contribuições de outros autores e outras correntes do pensamento.

Um de seus princípios era a conscientização. É preciso conscientizar para que se tenha uma educação transformadora através do diálogo e da amorosidade, através da dodiscência, pois a educação não deveria se centrada apenas no educador ou no educando, mas na relação, respeitando o educando em toda a sua natureza. E assim o caminho freireano ultrapassou as turmas de educação de jovens e adultos, chegando a universidade, no Brasil e em várias partes do mundo, libertando o educador, humanizando-o e devolvendo sua alma.

Em seu contato direto no processo de ensino e aprendizagem, Freire percebeu o quanto era necessário que o país enfrentasse a questão da alfabetização e tornou-se um educador progressista propondo que a educação fosse fundamentada na realidade dos estudantes. Tinha sua crença na educação como prática libertadora, obedecendo as normas metodológicas linguísticas, mas indo além, pois desafia o ser que foi alfabetizado a se politizar.

Paulo Freire foi e sempre será um cidadão do mundo, mas também nordestino orgulhoso de suas raízes, com extenso currículo dedicado a liberdade e justiça social, deixando para o mundo um sonho de liberdade e um legado de ideias e das relações humanizadas.

“Eu quero ser lembrado como um sujeito que amou profundamente o mundo, as pessoas, os bichos, as águas e a vida.”

Aline Sales é Professora, Pesquisadora nas áreas de Educação e Saúde. Cursou nutrição na FAVIP e licenciatura em letras na Fafica.


2 comentários:

JAD Ramos disse...

Amo o método de ensino de Paulo Freire

JAD Ramos disse...

Paulo Freire maravilhoso