(Crédito da imagem: Chico Science em foto de divulgação) |
Maracatu, ciranda, embolada, rock, rap, psicodelia, signos da Cultura Pop, ficção científica, miragens do cotidiano da periferia recifense, entre outras coisas. É da relação antropofágica entre todos esses elementos, que surge o Manguebeat, movimento, ou para ser mais preciso, Cena Cultural, que se forma no Recife no início da década de noventa para, em pouquíssimo tempo se configurar como uma das maiores expressões da música brasileira, desde o Tropicalismo na década de setenta.
Tendo como imagem símbolo uma antena parabólica fincada na lama o Manguebeat teve como carro chefe a banda Chico Science e Nação Zumbi, ganhando ampla repercussão nacional e internacional, sobretudo a partir do lançamento do primeiro álbum da banda intitulado Da Lama ao Caos (1994). O disco é, de longe, o mais impactante da música brasileira nos anos noventa, seja pela originalidade das letras ou ainda pelo estilo sonoro singular e extremamente bem elaborado. É absolutamente impossível se falar em música brasileira da década de noventa sem citar, além de Da lama ao Caos, o segundo disco da banda, intitulado Afrociberdelia. São clássicos da música brasileira, sem dúvida alguma.
Quase todas as letras das músicas são de autoria de Chico Science, possuidor de uma sensibilidade sonora típica dos gênios. Chico era capaz de introduzir nas músicas aspectos sonoros que passariam desapercebidos por qualquer outra pessoa. Um exemplo disso é o trecho final da canção Cidadão do Mundo, onde se diz: “chila relê, domilindró”. Essa expressão foi apropriada por Chico Science, que ouvia com frequência ser proferida por um andarilho que perambulava pelas ruas do bairro onde morava o líder da Nação Zumbi.
Do ponto de vista do espaço que o Manguebeat ocupa no debate cultural pernambucano, fica nítido que a cena cultural articulada pelos mangueboys foi, de certa forma, uma reação ao formalismo cultural do Movimento Armorial, encabeçado por Ariano Suassuna. Para Suassuna, que possuía uma concepção bastante mumificada de cultura, os elementos formadores da cultura popular pernambucana deveriam ser preservados das influências externas. O manguebeat, partindo de concepções absolutamente distintas de cultura, enxergava no diálogo com as mais variadas formas de expressão cultural, uma possibilidade de pernabucanizar os rítimos internacionais, fazer uma World Music pernambucana.
Mesmo após a morte precoce de Chico Science em 1997, a Nação Zumbi prosseguiu produzindo música de altíssima qualidade, tendo Pernambuco debaixo dos pés e a mente na imensidão, como cantava Chico Science.
O artigo não expressa necessariamente a opinião deste Blog.
Nenhum comentário:
Postar um comentário