22/06/18

A BOLSINHA COR DE ROSA



Quão prazeroso é estarmos diante de uma obra de arte ou assistirmos a um belo espetáculo teatral tal qual “A última vértebra” da Cia Amok Teatro do Rio de Janeiro, exibida no Festival de Teatro do Agreste (FETEAG 2017) em Caruaru. Tanto é estarmos em contato com o imaginário de uma criança, que em um piscar de olhos transforma seus desejos num mundo belo e fecundo, verdadeira magia.
Minha filha Lúcia Vitória, de apenas seis aninhos de vida, dia desses, quando de volta do colégio, deixou-me em situação difícil. – Papai, diga para mamãe, assim: Aline hoje eu vou ao teatro e vou levar minha filha, vamos chegar tarde. – Não estou entendendo, filha! – Não, pai! É mentira, uma mentirinha! Nós vamos para o shopping, é segredo. Tá, pai?
Ah! Essas mentirinhas de ontem, de hoje ou de qualquer tempo faz parte do desenvolvimento psíquico da criança, que as usam como uma varinha de condão. Criam situações ou até mesmo distorcem fatos para colorir suas fantasias. É... Nessa idade em que elas estão efervescentes em seu mundo mágico, ao ponto de jurarem por coisas imaginariamente impossíveis de acontecerem.
Verdade! As crianças pensam diferentes, não mentem da forma como nós os adultos, todavia fiquemos atentos quando passa a mentira fazer parte rotineiramente da vida da criança. Aí, a mentira muda de figura e então é necessário mergulhar um pouco mais fundo naquele mundo da criança que cresce.
Ah, confesso que tive que deixar baixar a poeira para conversar com a Vitoria sem contudo querer decepcioná-la em seu pedido de “segredo”. Então de imediato me veio o que disse o próprio Cristo: “Eu sou o caminho, e a verdade...”, (João 14:1-14). Pena, a mentira nos dias de hoje é intensamente recorrente em nossa sociedade, haja vista as mais diversas camuflagens desde os falsos elogios às mentiras mais astuciosas, cujas nuances evidenciam que mentir não é uma questão banal, principalmente aquelas atribuídas a políticos acuados por denúncias de ilícitos.
Ah, mentimos por uma série de motivos mas ninguém admite e, com suas pernas curtas, a mentira vai longe, uma mentira aqui, outra, acolá, e cada uma a chamar uma próxima mentira. Assim vai por aí, fazendo vítimas e até heróis. Mas seja por qual motivo for, mentir resume-se em querer enganar. Para mantermos uma relação de confiabilidade, deve-se falar a verdade. Não vale a pena mentir pois elas vêm sorrateiramente tal qual a diabetes invisível, quando damos por conta “Inês é morta”.
Segundo Agostinho – um dos mais importantes teólogos e filósofos da humanidade – verdade e mentira não podem coexistir, devendo ser a mentira afastada, posto que leva à quebra de confiança, pois quem garante que o outro não vai mentir para você se você mesmo mente. Agostinho mesmo orava assim a Deus: “Purificai os meus lábios e o meu coração de toda temeridade e mentira”.
E afinal como me saí da sinuca de bico que a Vitória me colocou? Ah, para quê tanta preocupação, por que sofrer por antecipação? À noite, quando me preparava para conversarmos, sem nem imaginar, ela foi até à mãe e disse: –Mãe, amanhã quero ir ao Shopping, eu e meu pai, você fica com o Pedro, meu irmãozinho.
Vitória bolou essa história por quê? Queria uma bolsa que viu no Shopping outro dia quando lá esteve com sua mãe. Ah, mas a mamãe não comprou e o pai, que
nada sabia sobre a bolsinha cor de rosa, a comprou. Mas valeu a pena, seus olhinhos brilhando de tanta emoção.


Agildo Galdino Ferreira

Um comentário:

Unknown disse...

Lindo!Gosto muito de ler o que escreves amigo....E te digo...tudo verdade verdadeira....saudade da infância dos meus filhos....e de reviver essa história!!! Abração!