Quem gosta de literatura, sabe que a epopeia consiste em um
extenso poema narrativo que faz referências a temas lendários, mitológicos ou
históricos. Na Literatura Universal, textos como ‘Ilíada’ e ‘Odisseia’ do poeta
grego Homero são os maiores representantes deste estilo. Em língua portuguesa,
citamos ‘Os Lusíadas’ do poeta português classicista Luís Vaz de Camões. A
historiografia literária brasileira registra ‘Caramuru’, de Frei Santa Rita
Durão, e ‘O Uraguai’, de Basílio da Gama, como representantes deste estilo.
Distante do cânon literário brasileiro, há um poeta de verve
espetacular, mas infelizmente pouco conhecido. Trata-se de Antônio José dos
Santos Neves. Nascido em 1827 no Rio de Janeiro, ele teve uma grande atuação no
ambiente literário do nosso país durante o século XIX.
Na sua obra literária, consta ter publicado a obra épica
‘Louros e Espinhos’, pela Livraria Popular de Azevedo Leite, no Rio de Janeiro,
no ano de 1867, quando da guerra do Brasil contra o Paraguai.
Três anos depois, contudo, publicou o livro ‘Homenagem aos
Heróis Brasileiros na Guerra do Paraguai’, pela Tipografia Universal de E.
& H. Laemmert. A obra corrigia alguns erros tipográficos do trabalho
anterior e expandia o estro acerca da peleja empenhada pelo Brasil contra o
ditador de Assunção. O livro, de mais de 250 páginas, foi dividido em oito
partes, tendo ainda um adendo com oito sonetos com a mesma temática.
Tanto no modo de narrar quanto na linguagem dos versos,
Santos Neves apresenta um trato único com o idioma, de forma culta, mas sem uma
falsa erudição. Isto pode ser verificado nas primeiras estrofes do Canto I,
reproduzidas abaixo:
“Surgi, voluntários, dos ângulos da terra
Que tem por monarca D. Pedro Segundo!
Lá ‘stão vossos louros nos campos da guerra
Cingi-os, soldados, à face do mundo!
Que tem por monarca D. Pedro Segundo!
Lá ‘stão vossos louros nos campos da guerra
Cingi-os, soldados, à face do mundo!
Cingi-os, soldados, que o vosso monarca,
Abrindo os seus braços também vos cingiu:
E o título d’honra, que os braços vos marca,
Brilhante horizonte além vos abriu!”
Abrindo os seus braços também vos cingiu:
E o título d’honra, que os braços vos marca,
Brilhante horizonte além vos abriu!”
Além do lado patriota, ele era evangélico – na verdade, o
primeiro poeta brasileiro pertencente a este segmento religioso que se tem
notícia. Presbiteriano, contribuiu para a hinodia brasileira e foi um dos
fundadores do jornal Imprensa Evangélica, em 1865. Entre os hinos compostos por
ele, vale citar ‘Deslumbrante’, do qual reproduzimos a primeira estrofe:
“Se nos cega o sol ardente,
Quando visto em seu fulgor.
Quem contemplará Aquele
Que do sol é criador?
Patriarcas, nem profetas
O chegaram a avistar,
Nem Adão chegou a vê-lo,
Antes mesmo de pecar”.
Quando visto em seu fulgor.
Quem contemplará Aquele
Que do sol é criador?
Patriarcas, nem profetas
O chegaram a avistar,
Nem Adão chegou a vê-lo,
Antes mesmo de pecar”.
Apesar de sua importância, poucos dados biográficos temos do
poeta Antônio José dos Santos Neves. Sabemos, porém, que ele morreu no Rio de
Janeiro, em 1874.
Nosso desejo é que pesquisadores, literatos, historiadores,
professores e estudantes possam se debruçar mais sobre o legado de homens feito
Santos Neves, e tantos outros, que contribuíram para a nossa literatura, mas
ainda são carentes dos devidos préstimos.
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