21/07/18

Sobre os devaneios esquizofrênicos das noites Olindenses.

Esses dias em uma mesa de bar, com a proposta de tomar duas cervejas e ir pra casa, me deparo com um senhor, já de certa idade, com camisa de trapo, suja e rasgada, varrendo a calçada. Falando sobre livros e personagens da dramaturgia de algumas décadas atrás enveredou o assunto pro The Who, Queen, Led Zeppelin, Black Sabbath, The Doors, Peter Frampton e inclusive Mozart, Vivaldi e Chopin.
Eu me tornei um cruzamento entre Renato Russo e Frank Zappa, e Luciano Queiroga em Clint Eastwood. “Hey Clint, você é bom hein, dava pra roadie” ele disse, tocando air guitar com a vassoura e com direito a uma banda inteira imaginária.
Jeremias sugeria músicas e conhecia todas as pedidas. Falou em inglês com o brother Raoni: “Mr. Raoni, where are you man? Your fucking friends are here, come on”. Depois pegou sua vassoura e continuou o seu show na calçada, dessa vez com “Mr Tamborine Man” do Bob Dylan que era uma de suas favoritas.

Já conheci muitos personagens habitantes da noite, mas não é todo mundo que senta numa mesa de bar pra conversar com você o que Jeremias falou. Com toda sua imaginação (que certamente ele chamaria de convicção), ele acabou me ensinando muito. Aprendi por exemplo que “Pére La-Chaise” é o nome do cemitério que Jim Morrison está enterrado em Paris. Jeremias me lembrou um pouco os Lanternistas Viajantes que eram figuras que viajavam o mundo por volta de 1730, com uma lanterna mágica e um instrumento musical, pra tocar e contar histórias.
Tão rápido quanto apareceu, sumiu, se dissolveu pela noite, mergulhado na sua realidade paralela desplugada do mundo real. Deve ter ido contar histórias por aí e varrer outras calçadas.
*Texto originalmente escrito em 15/03/2017

Nenhum comentário: