08/08/18

Memorial à criança não nascida por Jénerson Alves*


Em 2010, Martin Hudáček era apenas um estudante de Arte quando teve a ideia de esculpir a estátua ‘Memorial à criança não nascida’ (Monument of Unborn Child, em inglês). A obra, que está na pequena cidade eslovaca de Bardejov, retrata uma mulher ajoelhada, aos prantos, em sinal de desespero e arrependimento por ter cometido um aborto. À sua frente, há a representação de uma criança, transparente, que, com ternura e compaixão, oferece perdão à mãe.

Com excelência técnica, o artista conseguiu mesclar os sentimentos de dor e amor. A desventura da mãe e o consolo da criança são apresentados com equilíbrio. A imagem da criança foi feita em vidro, evocando a ideia da pureza da alma infantil que, mesmo não nascida, ama e perdoa.
Desta forma, a escultura também tem levado esperança para mulheres que sofrem com a síndrome pós-aborto. De acordo com a Psicologia, quem padece desta síndrome apresenta sintomas físicos – como anorexia, bulimia, náuseas, vômitos, cefaleias, dores abdominais etc. – e psicológicos – a exemplo de culpa, tristeza, desespero, pesadelos, diminuição da libido, insônia, perda de concentração e motivação, entre outros.
Assim, mesmo representando o caráter catastrófico da experiência do aborto, a obra também retrata o poder terapêutico do perdão. O próprio autor já revelou à imprensa que a escultura "expressa a esperança de que é dada aos crentes por Aquele que morreu na cruz por nós, e mostrou o quanto Ele se importa com todos nós." Em 2015, o artista pessoalmente presenteou o Papa Francisco com uma réplica da estátua original.
Nos últimos dias, o infanticídio intrauterino tem sido estampado no debate público, devido à discussão sobre o tema no Supremo Tribunal Federal (STF), atendendo a uma ação apresentada pelo Psol, com assessoria técnica do Instituto de Bioética Anis, que pede que o assassinato de fetos no ventre materno não seja considerado crime quando feito até a décima segunda semana de gravidez. Atualmente, o aborto é crime, com pena de até três anos para a gestante que interromper a gravidez. Só é permitido fazer um aborto em caso de estupro, risco de vida para a mãe ou feto com anencefalia. O partido que provocou a discussão e setores da mídia seguem na contramão das manifestações populares contra o aborto, ‘surdos’ aos valores que norteiam a maioria da população. Neste cenário, a obra de arte de um jovem artista permanece de pé, como um grito silencioso pela justiça, pelo amor e pelo perdão.
*Jénerson Alves - é escritor, jornalista, poeta.

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