Apesar dos questionamentos de eruditos modernos, a tradição judaico-cristã não coloca em dúvida a autoria do livro Cântico dos Cânticos (também chamado de ‘Cantares’). O entendimento é que o livro tenha sido escrito pelo Rei Salomão durante a sua juventude, por volta do ano 970 a.C., ainda no início do seu reinado.
O que chama a atenção no título é o caráter superlativo. A mesma língua hebraica que traz expressões como “Santo do Santos” ou “Rei dos Reis”, afirma que o livro em pauta é o Cântico dos Cânticos de Salomão. Isto significa que é o maior, melhor e mais divino dos cânticos – que foram mil e cinco (conforme I Reis 4:32).
Para alguns estudiosos, o livro é apenas a reunião de poemas eróticos, idílios de amor natural que em nada auxiliam para uma expansão de consciência espiritual. Outros, porém, afirmam que o caráter do livro é meramente espiritual, desconsiderando a história de amor entre Salomão e a Sulamita. Particularmente, compreendo que uma interpretação tipológica do livro é o caminho mais salutar, isto é, o entendimento de que a história abordada na obra tem um caráter natural, mas também possui explanações espirituais.
Um dos tópicos-chave para compreender o livro é perceber que o casamento é utilizado, tanto na Bíblia Hebraica quanto na Cristã, como uma analogia do relacionamento entre Deus e Israel e, respectivamente, entre Jesus Cristo e a Igreja. A presença implícita dessas personagens espirituais é um dos aspectos mais belos do livro.
Logo no início do livro, a amada pede ao amado: “Beije-me com os beijos da sua boca, pois os seus afagos são melhores do que o vinho” (cap. 1; verso 2). Em um primeiro momento, pode-se fazer uma conexão deste versículo com os longos beijos de filmes hollywoodianos ou de novelas globais, eivados de sensualismo e que servem apenas como preliminares de uma relação sexual. Contudo, uma interpretação correta exige que se compreenda o significado do beijo para a sociedade israelita daquela época, o qual era o simbolismo de pertencimento. No hebraico bíblico, a palavra traduzida por beijo é “neshîqâ”, que procede de uma raiz primitiva (nashaq), a qual traz a ideia de fixar, ou seja, de criar laços.
A mensagem central do Cântico dos Cânticos é o amor. Este amor simbolizado em um casal que dá início a uma família aponta para o amor do Senhor Jesus Cristo. É o ‘orgasmo’ cósmico advindo da união entre a divindade e a humanidade, a compreensão de que o ser humano só terá sua alma saciada através do amor de Cristo.
Para encerrar, cito as palavras do reverendo Samuel Rutherford, que foi um dos comissários escoceses da Assembleia de Westminster: “A cada dia vemos uma nova beleza em Cristo, Seu amor não tem cercas nem fundo. Se houvesse dez trilhões de mundos, e o mesmo número de céus cheios de homens e anjos, Cristo não teria dificuldade em suprir todas as nossas necessidades e encher-nos a todos. Esta nossa alma tem amor e não pode senão amar alguém formoso; e, quão belo, quão único, quão excelente, digno de amor, cheio de encanto é Jesus! Todos os que se aproximaram de Cristo têm boas palavras sobre Ele. Homens e anjos que o conhecem dirão mais do que eu agora, e pensarão mais nEle do que podem dizer. Quem me dera ter braços para abraçá-lo!”


Nenhum comentário:
Postar um comentário