02/03/19

Coisas da Vida - A VIDA É UM CARNAVAL por Agildo Galdino

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O título não é nada original mas tenham certeza que foi um pierrô com todos seus ais, que confessou-me que hoje acordara com saudades do carnaval que passou, lá pelos idos de 1995. Disse-me: “vou te contar tudo que sinto e como tenho vontade de chorar quando lembro daquele carnaval.” E, parafraseando a canção, completou: “mas não me leve a mal porque hoje é carnaval.”

Vejo como rápido passou o tempo e até colombina hoje finge não me conhecer. Esqueceu que brincamos no bloco do Eu e Tu. Parecia um bloco de sujo, sem fantasia, sem confetes, sem adereços, apenas o turbilhão da vida a nos empurrar para a folia querendo esconder de cada um, sua dor. Mas era carnaval e cantávamos assim: “Não se perca de mim/ Não se esqueça de mim/ Não desapareça”.

Aquela colombina não usava máscara para esconder o seu rosto e eu vestia pierrô. Sim, ela fazia questão de ter meu rosto junto ao dela e se aninhava em meus braços e os seus lábios impregnavam os meus como doce mel. Com um suspiro visceral, soltava, ao final, e bem baixinho, no meu ouvido: “foi bom demais, sonho meu.”


Eis que hoje voltou o carnaval, mas nada voltou ao normal. Não voltou a colombina, não voltou o arlequim. Ah, mera ilusão. Mesmo assim perguntei em pensamento se aquela colombina que comigo brincou aquele carnaval ainda me quer. Claro que não obtive resposta. Foi então lembrei do que diz a canção: “Que a flor também é uma mulher que nunca teve coração”.

Nesse instante olhei para os olhos do pierrô e os vi umedecerem-se e uma lágrima caindo, sinuosamente deslizar em sua face. Foi de fazer chorar. Vi também seu sonho se confundir com a realidade e como pano de fundo, no ar, uma triste sinfonia.

Tudo começa logo quando o pierrô desembarca naquela cidade do interior de São Paulo. Vinha ele de lá das bandas do frevo e ela, ali do Japão. Então veio a paixão, o entardecer veio, veio a noite e veio a manhã de cinzas. “– Oh, tu foste naquele carnaval minha colombina, pureza de menina com cheiro de mulher, doçura e fulgor que brotavam em cada gesto teu.” Era dele a colombina. “– Ah, pierrô, não sabes do que sou capaz. Vamos nos embriagar na magia desse carnaval. – Ah, aquele beijo, por certo audacioso, talvez banal e triste pela despedida. Ah, colombina, desvaneceste deixando sobre o chão da sala a fantasia marcando aquela madrugada de quarta-feira de cinzas.”

O sonho se perdeu no carnaval e somente ficou a ecoar a canção: Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim...

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