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06/07/23

Autoridades e comunidade artística lamentam morte de Zé Celso


Após a notícia da morte do ator e dramaturgo José Celso Martinez Correa, o Zé Celso, de 87 anos, na manhã desta quinta-feira (6), o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, publicou uma mensagem em suas redes sociais lamentando a perda. Na postagem Lula diz que o Brasil se despede de um dos maiores nomes da história do teatro brasileiro, um dos seus mais criativos artistas e que Zé Celso foi por toda a sua vida um artista que buscou a inovação e a renovação do teatro.

“Corajoso, sempre defendeu a democracia e a criatividade, muitas vezes enfrentando a censura. Transformou o Teatro Oficina em São Paulo em um espaço vivo de formação de novos artistas. Deixa um imenso legado na dramaturgia brasileira e na cultura nacional. Meus sentimentos aos seus familiares, alunos e admiradores. A trajetória de José Celso Martinez marcou a história das artes no Brasil e não será esquecida”, afirmou.

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, disse que Zé Celso escreveu uma rica história pessoal e para o Brasil e que irreverente, provocativo e dono de uma enorme capacidade inventiva, tornou o Teatro Oficina um patrimônio da cultura brasileira e um celeiro de talentos para nossos palcos. “Que seu legado continue a inspirar as próximas gerações de homens e mulheres que se dedicam às artes cênicas em nosso país”, expressou Alckmin.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também deixou uma mensagem de conforto para a família e amigos, dizendo que com a morte de Zé Celso morre também uma parte do sentimento de ousadia e coragem do teatro brasileiro. O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Celso Pimenta, demonstrou tristeza ao receber a notícia e elogiou a genialidade de Zé Celso. “Quero externar toda a minha solidariedade aos familiares, amigos e a legião de fãs e admiradores de seu trabalho, que assim como eu, se enlutam com sua despedida. Zé Celso presente!”, escreveu.

Alexandre Padilha, ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais ressaltou que hoje o Brasil lamenta profundamente a perda de um dos seus mais brilhantes talentos e disse que o legado de Zé Celso está eternizado no Teatro Oficina, e que o ator foi um verdadeiro tesouro cultural de São Paulo, deixando sua marca nas gerações por meio de suas peças revolucionárias. “Neste momento de pesar, gostaria de expressar meus mais sinceros sentimentos aos familiares e amigos de Zé Celso. Sua partida deixa uma lacuna irreparável no cenário artístico brasileiro”.

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, afirmou que hoje é um dia triste para a cultura brasileira que perde um grande artista que revolucionou o teatro brasileiro. “Sempre criativo, irreverente e com postura crítica, inspirou palco e plateia por onde se apresentasse. Viva Zé Celso! Viva o @oficinauzynauzona !”, escreveu em uma rede social.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, destacou a inquietude a criatividade de Zé Celso, dizendo que ele era um produtor compulsivo e pensador das grandes questões nacionais e que deu sentido à arte teatral brasileira. “A cultura do Brasil perdeu hoje um de seus maiores expoentes, o criador da linguagem tropicalista no teatro. Deixo aqui meu profundo sentimento de pesar e minhas condolências à família, amigos e sua legião de admiradores”.

A apresentadora de televisão Ana Maria Braga, escreveu que os deuses do teatro estão em festa para te receber, Zé Celso, o ícone, o gênio, o artista. “Meus sentimentos a todos que amam esse grande mestre”. O cantor e ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, enfatizou que Zé Celso marcou a história do Brasil e seu legado será eterno. A cantora Marina Lima, disse em uma publicação “Viva o Zé Celso! E que todo o seu legado se espalhe por esse país afora”. O ator Renato Goes, disse que a obra de Zé Celso é pulsante e que a arte perde profundidade com a sua ida. Michel Melamed, também ator, afirmou que Zé Celso e o Teatro Oficina são mais que pilares da cultura brasileira “O próprio chão e céu, a certeza do país possível, em sua criatividade, singularidade, força, exuberância e excelência. Dos maiores criadores do mundo. Dos grandes brasileiros da história”.

O autor e diretor de teatro Gerald Thomas, disse estar aos prantos e que só o tempo dirá e só o tempo vai curar esse vazio. “Estou aos urros, estou com raiva. Você é eterno Zé! O Zé é o maior do mundo. Não somente do Brasil, mas do mundo. Não importa a peça. Não importa nada disso. Importa a ideia e importa o espetáculo que é a sua vida. E a sua vida é vivida com base no Deus do teatro. Sim, Dionísio e o ritual que isso tudo significa. Ou vamos dizer, os rituais. O Zé é, em parte esse Dionísio. Sim, olha só pra ele! Olha como ele se transforma. Efêmero e concreto, etéreo, o extasiante “Eleutério”, aquele zoneador duplamente nascido e aquele que “baixa” assim como quem voa! E quem está ao seu lado recebe as incríveis vibrações, as ondas, um entendimento toda a cultura”, escreveu.

Kleber Mendonça Filho, cineasta, enfatizou que apesar de não ser de teatro, todos os seus filmes foram impactados de alguma forma por Zé Celso. “Com a energia de atrizes e atores, da arte e pitacos amigos de roteiro, um senso de direção e visão sobre o Brasil. Esse é o significado de um real impacto na Cultura. Obrigado Zé Celso”.

01/06/23

Morre Mestre Zé Duda, o peito de aço da poesia e da cultura popular em Pernambuco

Velório e sepultamento do artista devem ser realizados nesta quinta-feira (1º) de junho. Foto: Tom Cabral Santo/ Secult-PE.

A cultura popular em Pernambuco está de luto. José Bernardo Pessoa, conhecido como Mestre Zé Duda, o peito de aço da poesia e da cultura popular, faleceu aos 84 anos. A morte foi confirmada na tarde desta quarta-feira, 31 de maio, pelo Hospital Regional Ermírio Coutinho, em Nazaré da Mata, localizado na Zona da Mata Norte do Estado, onde o artista estava internado. O velório e sepultamento do artista devem ser realizados nesta quinta-feira (1º) de junho, na cidade de Goiana. O local e horário ainda não foram confirmados pela família. Mestre Zé Duda era casado com a Mestra de Maracatu Gil, do Maracatu Feminino Coração Nazareno. Ele deixa esposa, três filhos, onze netos, doze bisnetos e um tataraneto. 

Ao longo de 65 anos de carreira, Mestre Zé Duda dedicou-se à poesia de improviso, como Mestre de Maracatu Rural - manifestação centenária Patrimônio Cultural do Brasil, ocupando palcos dos festivais, carnavais, e turnês nacionais e internacionais, propagando a força da cultura popular. “ A morte de Zé Duda deixará uma lacuna profunda em nossas memórias. Ele foi um artista irretocável. Sua vida foi pautada pelo amor e arte de viver o maracatu” afirma José Lourenço, presidente do Maracatu Estrela de Ouro, da cidade de Aliança, o qual Mestre Zé Duda mestrou, durante 41 anos.  Vale destacar que, enquanto esteve como mestre do grupo,  o Mestre Zé Duda levou o Maracatu  Estrela de Ouro de Aliança seis vezes ao  pódio do concurso do carnaval do Recife; e outras seis na vaga de vice - campeão.

Em 2012, o cantor, compositor, violinista e escritor carioca, Jorge Mautner, fez uma parceria inédita com Mestre Zé Duda, que resultou em um projeto musical chamado  Maracatu Atômico Kaosnavial, que misturava tradições da cultura popular da zona canavieira, como Maracatu, Ciranda e Cavalo Marinho. Juntos, eles percorreram várias capitais do país levando toda a musicalidade pernambucana. A parceria, inclusive, também rendeu um documentário especial, com a participação dos dois. “ Mestre Zé Duda foi um amigo e um artista, que sempre admirei. Percorremos cada lugar desse país, fazendo música. E, disso, sem dúvidas é o que mais sentirei saudades. Apesar de sua morte física, ele permanecerá vivo em nossas memórias, pela sua obra e talento, que agora tornaram-se legada” afirmou, emocionado, Mautner. 

Para Afonso Oliveira, integrante do Movimento Canavial e consultor de projetos culturais e amigo pessoal do Mestre Zé Duda, a morte do artista deixará um legado para a história do país. “Pernambuco e o Brasil perdem seu mais ilustre mestre da cultura popular, o Mestre Zé Duda. Vivemos muitas histórias ao lado de Zé Duda, que tinha uma voz inigualável e um jeito genuíno de fazer suas poesias. O mundo sempre parou para lhe escutar. Um poeta dos mais extraordinários que eu vi e convivi. Que seu legado seja inspiração para os novos mestres, e que sua poesia seja eterna” cravou. 

Trajetória -  Mestre Zé Duda, que tinha por nome José Bernardo Pessoa, nasceu na cidade de Buenos Aires, na Zona da Mata Norte no ano de 1939. Sua vivência no maracatu rural em 1950, como mestre, sendo já respeitado como o peito de aço.  O seu primeiro trabalho como mestre de maracatu foi no Leão do Engenho Vasconcelos, de Buenos Aires; em seguida mestrou um boi amaracatuzado de Lau Marchante, também de Buenos Aires; depois no Engenho Jardim mestrou a Caravana composta de Maracatu e um bloco de Manuel Rafael. Ano mais tarde, tornou-se mestre no Engenho Bonito de Condado no Maracatu Cambinda Estrela de Luiz de Justo; depois foi para Engenho Retiro, também em Condado, onde foi mestre do Leão Coroado. Sua última participação foi no Maracatu Rural Estrela de Ouro, da Chã de Camará, em Aliança, na Zona da Mata Norte. Lá, esteve à frente do grupo por 41 anos. Em 2015, por questões de saúde, acabou se afastando das atividades. 

10/02/23

O céu de Anastácio - por Jénerson Alves

A manhã de 7 de fevereiro tornou-se nublada com a notícia da morte de Anastácio Rodrigues. Conhecido como ‘eterno prefeito’ de Caruaru, ele administrou o município de 31 de janeiro de 1969 a 31 de janeiro de 1973. Um dos principais legados de sua gestão foi a Casa de Cultura José Condé, a segunda do país, hoje, lamentavelmente, necessitando de reparos estruturais.

A partida do eterno prefeito foi noticiada pelos jornais. Afinal, o jornalismo faz o registro objetivo dos fatos. Já a literatura pede licença para imaginar a chegada de Anastácio Rodrigues aos páramos celestiais. A Bíblia nos revela algo sobre uma Jerusalém celestial, mas penso que o espírito de Anastácio tenha adentrado em uma Caruaru celestial. Afinal, o amor que ele nutria pela cidade era tal que nascera no dia 11 de maio de 1928, sete dias antes do aniversário da Princesa do Agreste. Não acho que isso tenha sido acaso ou coincidência, e sim a vida expondo símbolos – a linguagem suprema.

Acredito que a Caruaru celestial de Anastácio tenha muito da Caruaru terrestre. Talvez os bonecos dos artesãos do Alto do Moura de lá ganhem vida, movimentem-se, conversem e, sobretudo, cantem e dancem forró diuturnamente, ao lado dos anjos, serafins e querubins. Os versos de Olegário Fernandes, Amaro Matias, Cacilda Santos, e tantos outros, talvez sejam decantados em praças e esquinas. As crianças conheçam os ícones culturais, os livros de José Condé estejam nas mãos de jovens e adultos. A arquitetura não seja corroída pela poluição visual advinda do consumismo.

O céu de Anastácio é uma Caruaru com a qual todos deveríamos sonhar. O destino de uma terra está ligado ao cabedal intelectual de sua gente. Os conhecimentos fundantes da nossa história devem encontrar guarida em mentes e corações. Isso não se constrói ‘de cima para baixo’, mas ‘de dentro para fora’.

Anastácio, receba do Eterno o bálsamo que não finda. Cá embaixo, estamos nós, dando nossa contribuição para que a Caruaru que temos se transforme na Caruaru que queremos (e merecemos).



09/02/23

ANASTÁCIO... por Walmiré Dimeron

- Resista!!! 

Sempre sorrindo, era essa a palavra que Anastácio proferia diante de uma adversidade. 

Anastácio não resistiu a cobrança implacável do tempo, que minou lenta e implacavelmente a sua saúde, enquanto lutou bravamente pelos últimos lampejos de vida.

Hoje, no “Ceuzinho de Caruaru”, houve grandes festas: à porta, Comissão de Honra engalanada: Álvaro Lins; João, Elysio e José Condé; Nelson Barbalho; Vitalino; Cacho de coco; Austregésilo de Athayde; Cacilda Santos; Sinhazinha; Pe. Zacarias Tavares; José Rodrigues de Jesus; Elias de Oliveira Lima; Dom Paulo Hipólito; Celso Rodrigues; Dr. Vieira; Dr. Silva Filho, Major Sinval; Tabosa de Almeida; comendador Neco Afonso; Celso Galvão; Henrique Pinto e Pedro de Souza, dentre outros ilustres que se acotovelaram para saber quem era o novo morador recepcionado por três batalhões de bacamarteiros comandados pelo major Emídio do Ouro, o capitão Eliel Azevedo e o mestre Cassimiro Pedro ao som do pífano mágico de Sebastião Biano com sua roupa de algodão branco neve.

- Abram alas pra Anastácio, o “Eterno Prefeito” !, gritou Chico Porto, emendando logo um longo discurso, gastando todos os adjetivos possíveis e imagináveis para o ilustre caruaruense. 

Findo o discurso, Anastácio desfilou com os olhos marejados em passarela vermelha, ao longo da qual estavam enfileiradas e tremulantes, várias bandeiras de Caruaru que o prof. Matias tratou de hastear na véspera. A Nova Euterpe e a Commercial, fundidas numa só, regidas pelo prof. Machadinho, tocaram juntas, o “Hino Oficial do Município de Caruaru”. 

Antonio Miranda e José Carlos Florêncio anotaram tudo, olhando por cima do ombro de Pissica, fotógrafo oficial do evento. 

O dia foi longo. 

Essa imaginária cena, bem que poderia ser real, como foi o cuidado, a atenção e o respeito que Anastácio dispensou a essas personalidades.

Walmiré e Anastácio

Como eternizaremos o seu legado? 

Lembrando, contando e recontando que ele continuará sendo uma das grandes referências em administração pública, com sua hombridade, espírito de governança e zelo com a coisa pública.

Que dificilmente será ultrapassado como o prefeito que mais construiu escolas e o que mais respeitou a cultura da "Terra" e do "País" de Caruaru. 

Que chamava as professoras de "professorinhas" e a elas dedicava atenção especial.

Que, aos sábados, abria o seu gabinete na Prefeitura para receber feirantes, sem a menor cerimônia ou burocracia.

Que construiu a Casa da Cultura José Condé, a 2ª projetada no Brasil especificamente para esse fim, defendendo a sua construção com a frase: - A Casa da Cultura será o cérebro de Caruaru!

Que conquistou para Caruaru a área do Parque 18 de Maio e sonhou ali instalar um moderno “Centro cívico”, espécie de cidade administrativa. 

Que transformou a casa do Mestre Vitalino em Casa-Museu. 

Que afirmava sempre e sempre: - O Alto do Moura é um relicário sagrado da arte.

Que incentivou e apoiou o teatro caruaruense. 

Que instituiu oficialmente a bandeira e o hino de Caruaru. 

Que afirmava que os engraxates da Rua da Matriz eram “Patrimônio social de Caruaru”.

O hasteamento primeiro da Bandeira Oficial de Caruaru, no Giradouro major Clementino - 18.05.1972.

Que já oitentão, idealizou o Instituto Histórico de Caruaru, sendo o seu primeiro presidente. 

Que exercitou o amor telúrico à exaustão, repetindo o nome CARUARU aos quatro ventos.

Que contribuiu como pesquisador para a elucidação de fatos relevantes como a chegada do trem à Caruaru (lembro dele vibrando ao telefone: - Walmiré, descobri hoje o nome do maquinista da locomotiva “Baronesa”, que inaugurou a nossa linha férrea. E, mais adiante, emocionado, descrevendo a beleza que deve ter sido quando o trem foi saudado por simples operários às margens dos trilhos, gritando e saudando o progresso com pás e picaretas acima das cabeças...

Que conservou amigos fiéis pela vida inteira.

Que, ao reclamar do esquecimento de algum benemérito caruaruense, repetia: -Esquecer a obra de um homem, é sepultá-lo duas vezes.

Que construiu moradas fúnebres a Vitalino, Ludugrero e Pe. Zacarias Tavares. 

Que foi um homem de fé inabalável, servindo incondicionalmente à Igreja.

Que fez muito mais, e que esses feitos não cabem aqui.

Que Caruaru não se amesquinhe e possa lhe ser grata ainda por muitos e longos anos.

Resista, memória de Anastácio, resista!!!

07/02/23

CARUARU E CULTURA DE LUTO: Morre Anastácio Rodrigues

Anastácio Rodrigues o "Prefeito da Cultura". Foto: BPN

Falesceu na manhã de hoje, (7), o ex-prefeito de Caruaru, Anastácio Rodrigues, com 94 anos. Ele estava internado em um hospital particular da cidade desde o dia 18 de dezembro. A causa da morte não foi divulgada.

Enquanto prefeito, foi considerado o político que mais apoiou a cultura e os artistas da cidade. Uma das principais obras dele é a Casa de Cultura José Condé, a segunda erguida no Brasil, inaugurada no ano de 1973.

Anastácio também foi o fundador do Instituto Histórico de Caruaru e ficou conhecido como o prefeito da cultura, quando trouxe uma caravana de intelectuais no centenário de Caruaru.

O corpo será velado a partir das 15h desta terça-feira no Cemitério Parque dos Arcos. O sepultamento será realizado às 10h da quarta-feira (8).

Dr. Anastácio Rodrigues, o "Eterno Prefeito de Caruaru" foi idealizador e fundador do IHC. Foto: Prof. Sergio Alves

Caruaruense nascido em 11 de maio de 1928, nas terras de Taquara (Alto do Moura). Ao longo da vida, fixou com determinação o crescimento intelectual, profissional e político. Filho de feirantes, quando jovem, trabalhou como tipógrafo. Foi bancário, presidente de Diretórios Acadêmicos, tornou-se ainda diretor de Educação e Cultura do município de Caruaru. Em 1963, Anastácio foi eleito vereador, tornando-se líder da oposição ao governo Drayton Nejaim. Ao final do mandato, elegeu-se prefeito pelo MDB, no auge da ditadura militar. A ética e o zelo com os recursos públicos pautaram a sua atuação.

Livro biográfico do ex-prefeito de Caruaru, Anastácio Rodrigues, autoria do jornalista Fernandino Neto.

Publicamos à seguir, entrevista é uma reprodução do Portal Asces, que foi feita em 2018, mas seu pensamento e obra é atemporal.

Qual foi o seu principal ideal de vida? 

Anastácio Rodrigues - Sempre foi querer o bem de todos e a felicidade do homem.

Ter nascido no interior de Pernambuco fez alguma diferença em sua vida? 

Anastácio Rodrigues - Sinto-me feliz por ter nascido em Caruaru. Mesmo sendo uma cidade do interior de Pernambuco, a Princesa do Agreste sempre foi destaque nacional graças aos seus filhos. Nomes ilustres como Austregésilo de Athayde, Álvaro Lins e os irmãos Condé devem sempre ser lembrados. Há ainda Limeira Tejo, e muitos outros. E, por que não falar também de Tabosa de Almeida? Ele que, brilhantemente, trouxe a educação superior para o interior de Pernambuco, fazendo a grande diferença no desenvolvimento dessa região.  

Caruaru se destaca, principalmente, em qual aspecto? 

Anastácio Rodrigues - Esse dinamismo da população local foi responsável pelas conquistas obtidas. A cidade nunca esperou pelo poder público. O primeiro fato que lembro foi quando o Império cedeu dinheiro para os ingleses construírem a estrada de ferro de Recife a São Caetano, e os valores dos fretes aumentaram de forma absurda. Nesse momento, surgiram vozes para que fosse construída a estrada daqui ao Recife. Isso repercutiu nas cidades de Bezerros e Gravatá. Caruaru continuava se destacando como sendo a cidade mais influente do interior do Estado. Isso porque as pessoas de nossa cidade não esperam. Buscam.  

Lançamento do livro-biografia Anastácio o eterno prefeito, autoria de Fernandino Neto. Foto Rafael Lima
Tendo participado das comemorações do centenário da princesa do Agreste. Como o senhor imagina a cidade de Caruaru comemorando seu bicentenário? 

Anastácio Rodrigues - Sei que não estarei mais nessa terra para participar das comemorações. No entanto, tenho certeza que nossa Caruaru estará muito mais desenvolvida do que é hoje. Colheremos os frutos do desenvolvimento dessa terra, que se intensificou com a instalação das primeiras Faculdades trazidas por Tabosa de Almeida. 

Como foi entrar para a política? 

Anastácio Rodrigues - Nunca me ofereci para ser nada. Sempre fui convidado. Meu otimismo me guiou por toda a vida. E, assim, continuarei até o fim. Lembro-me com muito orgulho dos tempos em que eu cruzava os portões da Faculdade. Sentado naquelas bancas, apreciava o conhecimento diante dos sábios mestres. Aprendi a ser melhor para os outros. Foi muito bom!

02/01/23

Fundação de Cultura emite nota de pesar pela morte do Sanfoneiro do Trio tabajara

NOTA DE PESAR: 

É com muita tristeza, que a Fundação de Cultura de Caruaru, recebeu, a notícia do falecimento do sanfoneiro, Vicente Cândido da Silva (Vicentão do Trio Tabajara). Ele foi um dos primeiros artistas a participar do São João de Caruaru, bem como, foi um grande puxador de drilhas na cidade. A Fundação de Cultura deixa sua solidariedade a todos os familiares e amigos. Que Deus conforte o coração de todos nesse momento de dor. 

Fundação de Cultura de Caruaru

15/12/22

Luto na Cultura Pernambucana, morre Cacique do Frevo!


A cultura Pesqueirense, nordestina e Brasileira está de luto, 
inclusive nosso frevo. Faleceu o músico Sérgio Amaral, ícone do Bloco Lira da Tarde e intérprete de vários sucessos. Personalidade muito querida do segmento artístico e social, na região e principalmente em Pesqueira (PE) onde chegou a assumir a diretoria de Cultura.

Sérgio vinha realizando um tratamento de fígado no Hospital Oswaldo Cruz (Recife), e estava na fila de transplante. Posteriormente ele positivou para o COVID-19, onde veio a ter complicações respiratórias. Permanecia internado mas não resistiu e nos deixou na manhã de hoje. 

O cantor e compositor Pernambucano era conhecido como o Cacique do frevo. São mais de 40 anos dedicados a cultura popular pesqueirense, cantando frevo nas ladeiras de Pesqueira durante o Carnaval, puxando o maior e mais tradicional bloco de rua do Agreste: o Lira da Tarde!

Era conhecido e muito querido na região, inclusive em Caruaru. Possuia a cultura em seu sangue, filho do saudoso Chiquinho Amaral fundador do Lira, sobrinho do grande seresteiro Zé Amaral, e do sambista de partido alto Zezinho Amaral. Neto também do fundador das Cambidas Velhas: Aprígio Amaral, o grande Aprigissímo, da boneca de pano, seu moço! 

O Cacique do Frevo, como era conhecido no meio cultural, deixará saudades a todos os que acompanharam a sua linda trajetória. 


PREFEITURA DE PESQUEIRA PUBLICOU NOTA DE PESAR

A prefeitura Municipal de Pesqueira, lamenta profundamente o falecimento do grande artista e filho da terra Sérgio Amaral.
Prestamos toda nossa solidariedade à família e amigos e manifestamos nosso profundo pesar.
Sérgio prestou  grandes contribuições para a nossa cultura, e para sempre será nosso Cacique do Frevo.
Que Deus conforte o coração de todos nós. 

DESPEDIDA:

Cortejo do corpo com carros, hoje (15/12) a partir das 16:30. Saindo da entrada de Pesqueira.
Velório: Antiga Ford, às 17h.
Sepultamento: amanhã, 16/12, saindo da Ford, passando pela baixa, pça D. José Lopes até o cemitério.

NOSSO BLOG SE SOLIDARIZA COM A DOR DE AMIGOS E FAMILIARES. 


13/06/22

Cultura de Luto: Maria Alice Biano

Maria Alice Biano

Faleceu as 14 horas de hoje, Maria Alice Biano, que completaria 103 anos dia 15 de agosto. Ela residia no Sítio Xambá na cidade de Riacho das Almas. O enterro será no Cemitério São Roque, nessa terça, 14, no início da tarde.

Ela era esposa do músico e fundador da Banda de Pífanos de Caruaru, Benedito Biano (foto), com quem teve como filhos Gilberto Biano (já falecido) e João Biano, além das filhas Maria do Carmo Biano e Maria das Graças Biano.

João Biano é sobrinho de Sebastião Biano e atualmente é também responsável pelas apresentações da Banda de Pífanos de Caruaru, que permanece em São Paulo. João esteve em março, em Caruaru, divulgando o novo trabalho da banda e visitando seus familiares, incluindo sua mãe, Maria Alice. Também concedeu entrevista à imprensa e foi recebido na Câmara Municipal de Caruaru, no gabinete do vereador Leonardo Chaves, na presidência e em seguida usou a tribuna no início da reunião ordinária.

Nesta foto, em sequencia de cima, os tres filhos: Gilberto Biano (in memorian), João Biano e Maria das Graças Biano, Azulinho, Anderson do Pife.
Em baixo: Maria Alice Biano, 
Zé Gago (Banda Zé do Estado) e Azulão. Foto: Arquivo Casa do Pife.

O corpo está sendo velado na sede do vereador Bruno Lambreta, em frente ao busto, e o enterro marcado para as 16 horas, no Cemitério São Roque de caruaru.

SHOW NO SÃO JOÃO DO REENCONTRO ESTÁ MANTIDO

A Banda de Pífanos de Caruaru tem 98 anos de estrada e no dia 18 faz show em Carapicuíba (SP) e outras cidades pelo Brasil. Vem lançar seu novo trabalho no palco do Polo Camarão (também Polo das Drilhas), no dia 23 de junho. Os "Beatles de Caruaru" confirmaram o show e estarão lançando um disco histórico, em vinil "Samba Matuto".

Nossas condolências à toda família Biano.



30/05/22

Morre o ator e diretor Milton Gonçalves, aos 88 anos, no Rio

Milton Gonçalves: ator faleceu nesta manhã de segunda-feira, 30 (Divulgação/TV Globo)

Do G1

O ator e diretor Milton Gonçalves, ícone da TV brasileira, morreu no Rio nesta segunda-feira (30), aos 88 anos.

Conhecido por trabalhos marcantes em novelas como "O bem-amado" (1973), "Pecado capital" (1975) e "Sinhá Moça" (1986), ele morreu em casa por volta de 12h30, segundo a família, por consequências de problemas de saúde decorrentes de um AVC sofrido em 2020.

Na ocasião, o ator ficou três meses internado e precisou de aparelhos para respirar.

O velório acontecerá nesta terça-feira (31) no Theatro Municipal, no Centro da cidade. O horário ainda não foi divulgado.

O ator também venceu preconceitos e lutou pelo reconhecimento do trabalho dos negros, como lembrou o filho e também ator Mauricio Gonçalves

Nascido em 9 de dezembro de 1933, na pequena cidade de Monte Santo, em Minas Gerais, Milton Gonçalves fez mais de 40 novelas só na Globo, onde também atuou em programas humorísticos e minisséries de sucesso, como as primeiras versões de "Irmãos Coragem" (1970); "A Grande Família" (1972); e "Escrava Isaura" (1976).

Outros trabalhos de destaque do ator foram as séries "Carga Pesada" (1979) e "Caso Verdade" (1982-1986).

Sua atuação como Pai José na segunda versão da novela "Sinhá Moça" (2006) lhe valeu a indicação para o prêmio de Melhor Ator no Emmy Internacional. Na cerimônia, apresentou o prêmio de Melhor Programa Infanto-juvenil ao lado da atriz americana Susan Sarandon. Milton foi o primeiro brasileiro a apresentar o evento.

A última novela que o ator Milton Gonçalves participou na TV Globo foi "O Tempo Não Para" (2018), quando interpretou o catador de materiais recicláveis Eliseu.

Ainda criança, Milton se mudou com a família para São Paulo, onde foi aprendiz de sapateiro, de alfaiate e de gráfico. Ele fez teatro infantil e amador. Sua estreia profissional acorreu em 1957, no Arena, na peça "Ratos e Homens", de John Steinbeck.

Junto com Célia Biar e Milton Carneiro, Gonçalves formou o primeiro elenco de atores da Globo. Ele chegou à emissora a convite do ator e diretor Otávio Graça Mello, de quem fora companheiro de set no filme "Grande Sertão" (1965), dos irmãos Geraldo e Renato Santos Pereira.

"Não tinha inaugurado nada ainda. Os três estúdios, aquele auditório, pareciam para mim os estúdios da Universal. O primeiro salário foi 500 cruzeiros. E eu fiquei feliz", recordou Milton em um depoimento para a TV Globo.

'O Bem-Amado': Ruth de Souza e Milton Gonçalves — Foto: Divulgação/Globo

Ator lutou por bons papéis para negros

O filho de Milton Gonçalves, o também ator Maurício Gonçalves, lembrou que o pai venceu preconceitos e lutou pelo reconhecimento do trabalho dos negros.

"Esse Milton que as pessoas não conhecem, batalhador. Nunca deixou cair a peteca no que tange aos filhos. O maior ensinamento meu pai me passou: ser guerreiro, nunca abaixar a cabeça a não ser para os sábios, mas lutar o tempo todo".

Maurício disse que sempre teve o pai como herói. Quando criança, quando viu a personagem Zelão das Asas voando na novela ficou ainda mais impressionado.

"Ele sempre voou e gerou esses frutos. A gente tenta fazer o melhor possível, a gente tenta honrar essa memória do meu pai. A gente tenta fazer o melhor, mas é lutar para tentar chegar perto", disse Maurício.

Outras personagens como Rainha Diaba também foram muito marcantes. Era a época da ditadura, e Maurício diz que não deve ter sido fácil fazer um fora da lei, negro e homossexual, num tempo difícil, cheio de preconceitos.


21/08/20

A cultura perde Zé Lopes, mestre de mamulengo


Pernambuco se despede de mais um mestre de nossa cultura popular, foi encontrado sem vida em sua casa, em Glória do Coitá, interior de Pernambuco, no final dessa tarde, o mamulengueiro Zé Lopes, que estaria completando 70 anos agora em outubro.

Zé Lopes era considerado um dos nomes mais representativos da tradição do mamulengo e um dos mais antigos em atuação. Era Patrimônio Vivo desde 2017. Era sócio-fundador da Associação de Mamulengueiros de Glória do Goitá, cidade onde nasceu e onde residia. Sua arte, na tradição do mamulengo, é uma das formas abrasileirada do teatro popular. Zé Lopes deixou esposa, filhos e netos. A filha, Cida Lopes, é herdeira do talento do pai. A família ainda não divulgou informações sobre o velório.

"Evidentemente nos fará falta. Muita falta." Sebá

Mestre Sebá com Ventania e Mestre Zé Lopes com Zé do bode

Sebastião Alves (mestre Sebá) registrou para o blog a importância do Zé Lopes e sua dor com essa partida inesperada:

"É lamentável. Essas notícias que estamos sempre a receber... É com muita tristeza que eu tive a notícia por Paulo Nailson, que sabe de nosso convívio de cultura e de defesa pelo que fazemos, veio a me comunicar que o Zé Lopes nos deixou. Evidentemente nos fará falta. Muita falta. Eu o conheci dentro de programações culturais "Encontro dos Bonecos do Mundo" e diversos outros encontros do norte e nordeste. Também na Associação de Mamulengueiros de Glória do Coitá. Houve um momento que o mestre Zé Gomes disse "olha, vamos ter hoje uma grande surpresa que Zé Lopes está vindo aqui para São Joaquim e eu separei uma matéria prima (mulungú) para ele. E ele ficou muito feliz porque essa matéria prima dava para ele passar até um ano trabalhando... A arte sempre nos deixou muito ligados um ao outro, o Mamusebá e o mestre Zé Gomes e sempre estamos nos encontrando. Na FENEARTE, nas oficinas de confeção e manipulação de bonecos e seus personagens. Com muita tristeza vai aqui os meus sentimentos a toda família, aos mamulengueiros da associação, o Zé Divina que também contamos com ele... Somos hoje e não somos amanhã... A Deus pertence a nossa história. É lamentável a perda desse criador e guerreiro pela cultura popular. Que Deus o tenha. Em nome de todos os que fazem o Mamulengo Sebá e todos os artistas que tiveram aproximação com o Zé Lopes e que o conheceram aqui em Caruaru, eu sei que é uma grande perda. Uma perda trágica, mas vamos dar continuidade a essa arte. Vamos ser grato à Deus por tudo. Mesmo com esse sofrimento do universo com a pandemia, mas acreditando e na esperança que tudo vai passar."


Biografia

O pai, tratorista, acalentou o sonho de ver o filho engenheiro formado, mas a vida e a paixão levaram José Lopes da Silva Filho, o mestre Zé Lopes, ao mundo dos brincantes, do teatro de mamulengos, onde é referência, símbolo de resistência e um dos mais antigos ainda em atividade - o que lhe assegurou o reconhecimento pelo Governo do Estado como Patrimônio Vivo de Pernambuco, em 2016.

Mestre Zé Lopes nasceu no dia 21 de outubro de 1950, no Sítio Cortesia, em Glória do Goitá, município da Zona da Mata Norte pernambucana. Sua história com os bonecos teve início na infância quando acompanhava a mãe, Severina Pereira, em suas vendas de bolo nas apresentações de mamulengo e cavalo marinho que aconteciam na cidade. A primeira vez que o menino de comportamento retraído viu os tais bonecos, acreditou serem pessoas pequenas. Puro encantamento diante de um mundo de brinquedos/atores manipulados que dançavam, cantavam e arrancavam risadas do público.


Aos 12 anos de idade, Zé Lopes já andava às voltas com madeiras para criar os próprios mamulengos. O primeiro, o Caroquinha (Mateus), seguido do policial, Simão e sua mãe, o coronel, Quitéria….Confeccionou 12 ao todo com roupas garantidas pelo tecido comprado por dona Severina, que também rejeitava a ideia de ver o filho mamulengueiro. “Lembro que se aproximava do final de ano e ela perguntou se eu queria tecido para uma roupa nova ou para vestir os bonecos e, claro, que não pensei duas vezes”, recorda.

Ainda em 1962, ao lado do mamulengueiro Zé di Vina e dos tios Zé e Chico de Teca, José Lopes começou a se apresentar com o Mamulengo São José, o mundo encantado dos bonecos. Aos 18 anos, por pressão da mãe, seguiu para Recife, onde trabalhou em uma serraria, deixando o teatro de bonecos apenas para os fins de semana. Em 1971 partiu rumo a São Paulo em busca de trabalho. Lá foi vigia, metalúrgico, entre outras ocupações, mas nunca deixou para trás a grande paixão. “Cheguei a fazer cinco bonecos para brincar porque o mamulengo vivia dentro de mim”, assegura Zé Lopes, que ao longo de sua vida conviveu com outros grandes mestres, como João Nazário, Zé Grande, Severino da Cocada, Zé de Vina, Solon, entre outros. 

Em 1982, o artesão toma a decisão de fazer o caminho de volta. Vendeu propriedade e tudo o que conquistou em São Paulo para retornar à Glória do Goitá. “Voltei para salvar o mamulengo do esquecimento. As apresentações estavam proibidas por causa brigas políticas e a falta de apoio fez com que os mamulengueiros deixassem de brincar. Chegando aqui, a primeira coisa que fiz depois de deixar as malas no chão foi correr para a mata em busca de madeira”, relembra. Em missão de convencimento, Zé Lopes procurou o prefeito da época e buscou antigos mamulengueiros. No dia 02 de dezembro daquele ano, durante as festividades em homenagem à Nossa Senhora da Conceição no município, ele apresentou o seu Mamulengo Teatro do Riso ao lado de outros mestres.


Desde então, o artesão vem levando o teatro de bonecos em apresentações e oficinas pelo Brasil e exterior. Através do Sesi Bonecos do Mundo, já esteve em nove estados e países como França, Itália, Espanha. Repassa também o conhecimento adquirido pelo amor aos brincantes para as crianças atendidas pelo Programa de Erradicação Infantil (Peti), porque acredita que, antes de tudo, o mamulengo é um poderoso instrumento de transformação social . “Meu sonho é escrever um livro ou produzir um filme registrando a minha história e a do mamulengo para aplicar nas visitas às escolas”, revela o mestre com mais de meio século de contribuições para a cultura popular.


Atualmente o Teatro do Riso é mantido por Zé Lopes, sua mulher Neide, as filhas Cirleide Lopes (Cida Lopes), Larissa Nascimento e a netinha Julia, que aos 8 anos de idade já começa a dar os primeiros passos na arte mamulengueira. Em sua casa em Glória do Goitá, ele recorre a utensílios simples, como facas e chaves de fendas, na confecção dos bonecos em um trabalho que requer tempo, paciência e zelo. “É uma sensação única pegar a matéria bruta e transformá-la em um boneco, um filho, que nas mãos ganha vida ao incorporar um personagem”, assegura o mestre que influenciou e ajudou na formação de inúmeros artistas populares.

Mestre Zé Lopes participa da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte) desde a sua primeira edição. Em 2016, por suas inúmeras contribuições para a cultura foi também agraciado com o Prêmio Teatro de Bonecos Popular do Nordeste - Mamulengo, Cassimiro Coco, Babau e João Redondo (Iphan) e com o Prêmio Ariano Suassuna de Cultura Popular e Dramaturgia (Secretaria de Cultura de Pernambuco). 

27/07/20

Morre Mestre Aprígio, Patrimônio Vivo de Pernambuco, aos 79 anos


Faleceu nesta segunda-feira (27) o artesão Mestre Aprígio, aos 79, em Ouricuri, no Sertão do Araripe. Desde o ano passado, Aprígio era reconhecido como Patrimônio Vivo de Pernambuco por seu longevo trabalho com peças de couro que ganharam o país. Aprígio estava internado há uma semana no Hospital Fernando Bezerra e a causa da morte não foi divulgada. As peças do mestre vestiram nomes como Dominguinhos, Alcymar Monteiro e Luiz Gonzaga, em uma parceria que fincaria de vez seu trabalho no imaginário nordestino. 

José Aprígio Lopes nasceu em Exu no dia 25 de maio de 1941. Ainda jovem, se encantou pelo couro ao conviver com vaqueiros ao lado do pai. Na adolescência, começou a trabalhar com a faca, o esmeril e o compasso. Aprígio chegou a passar um período trabalhando na oficina do Mestre Juarez, no Crato, Ceará, após a morte do pai. Mestre Aprígio se mantinha ativo no ateliê, trabalhando agora ao lado de filhos e netos, que teve na figura de Aprígio um exigente professor. 

Foi nos anos 1970 quando Luiz Gonzaga conheceu seu trabalho e passou a encomendar suas obras, como chapéus, gibões e outros acessórios. Foi por sugestão de Gonzagão que montou seu ateliê em Ouricuri.Na visita do Papa João Paulo II ao Ceará em 1980, Gonzaga trajava peças de Aprígio. Foram mais de 50 peças desenvolvidas na parceria entre os dois artistas de Exu. 

Notas de pesar 

Em nota, a Secretaria de Cultura do Estado e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) lametaram a perda. "A Secult/Fundarpe lamenta a perda do Patrimônio Vivo de Pernambuco e sertanejo ilustre José Aprígio Feitosa, conhecido como Mestre Aprígio, anunciada nesta segunda-feira à noite (...) Escolhido em 2019 pelo Governo de Pernambuco como Patrimônio Vivo do Estado, Mestre Aprígio possuía um ateliê em Ouricuri, no Sertão do Araripe, terra que escolheu para desenvolver seu trabalho (...) Aos familiares, amigos e admiradores, deixamos a nossas condolências e deixamos os nossos mais sinceros pêsames", diz o comunicado.

Paulo Câmara, governador de Pernambuco 

"O convívio com os vaqueiros desde a infância, no Sertão pernambucano, e seu grande talento para o artesanato, fizeram do Mestre Aprígio um dos maiores artistas brasileiros no trabalho com o couro. Autor de lindas peças, seus chapéus, gibões e sandálias vestiram nomes como Luiz Gonzaga, Gonzaguinha e Dominguinhos, entre tantos outros. Eleito Patrimônio Vivo de Pernambuco em 2019, seu legado permanecerá como uma referência indelével no cenário artístico e cultural do nosso Estado. Quero me solidarizar com seus familiares e amigos neste momento de dor." 

Assembleia Legislativa de Pernambuco

"Pernambuco perde, hoje, uma referência para uma arte que define bem a nossa cultura popular. Nascido no Exu, Sertão do Araripe, o artesão Mestre Aprígio costurou durante toda a vida peças em couro, usando seu dom para vestir nossos vaqueiros, desde os mais humildes até os reis, como Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Nosso Estado teve a grandeza de reconhecer seu trabalho, concedendo-lhe o título de Patrimônio Vivo. Que Deus lhe receba em seus braços e que console seus familiares e amigos", diz a nota assinada pelo deputado Eriberto Medeiros, presidente da Alepe. 

Fonte JC online

26/07/20

Artista plástica Tereza Costa Rêgo morre, aos 91 anos, no Recife


Morreu, aos 91 anos, a artista plástica Tereza Costa Rêgo. O falecimento ocorreu na manhã deste domingo (26), na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Joana, no bairro das Graças.

Por meio de nota, a família informou a morte de Tereza e agradeceu as "condolências de mensagens recebidas". No texto, os parentes destacam a relação da artista com o público.

"Elas só mostraram o quão querida ela era por todos. Devemos sempre lembrá-la com amor, gratidão, alegria e saudade por tudo o que Tereza nos proporcionou em vida. Neste momento de dor e profunda tristeza, a família pede aos amigos e amigas, sensíveis compreensões para que ela possa, nos seu convívio, superar a imensurável perda", afirma a nota.

Um dos maiores nomes da arte modernista em Pernambuco, a pintora estava em casa quando, durante a madrugada de sábado (24), sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame cerebral.

Ela foi socorrida ainda em casa por uma equipe médica e levada para a unidade de saúde. No caminho, a artista plástica sofreu uma parada cardíaca e foi reanimada pelos paramédicos. O estado de saúde de Tereza era gravíssimo quando ela deu entrada no hospital.

Tereza Costa Rêgo faleceu após um Acidente Vascular Cerebral — Foto: Roberta Rêgo / G1

Tereza Costa Rêgo faleceu após um Acidente Vascular Cerebral — Foto: Roberta Rêgo / G1

O velório da artista, segundo a família, ocorre às 10h de segunda-feira (27), no Cemitério de Santo Amaro, no Centro do Recife. Meia-hora depois, está marcada uma bênção com frei Rinaldo, amigo de Tereza, e pároco da Igreja da Madre de Deus.

O sepultamento está agendado para as 11h, também em Santo Amaro. A família informou que a cerimônia será restrita em virtude dos protocolos de segurança impostos por causa da pandemia do novo coronavírus.

História

Tereza Costa Rêgo tinha duas filhas, três netos e uma bisneta. Filha de uma família tradicional da aristocracia rural pernambucana, Tereza começou a pintar ainda criança. Aos 15 anos ingressou na Escola de Belas Artes, no Recife. Foi casada durante 14 anos.

Dedicada quase que exclusivamente à pintura, foi contemplada com três prêmios do Museu do Estado e outro da Sociedade de Arte Moderna. Em 1962, realizou a primeira grande exposição, na Editora Nacional.

No mesmo ano, envolveu-se com o dirigente do Partido Comunista Diógenes Arruda e deixou o Recife. Em São Paulo, por motivos políticos, viveu na clandestinidade até 1969, quando seu companheiro foi preso. Aproveitou o tempo fora para se dedicar à arte e aos estudos, formando-se em história na Universidade de São Paulo (USP).

Casa de Tereza Costa Rêgo — Foto: Roberta Rêgo/G1

Casa de Tereza Costa Rêgo — Foto: Roberta Rêgo/G1

Ela passou a dar aulas de História para vestibulandos e a trabalhar como paisagista em um escritório de planejamento. Em 1972, quando Diógenes foi libertado, o casal seguiu exilado para o Chile, mas com o golpe militar naquele país fez com que eles voltassem a se mudar.

Tereza e seu companheiro passaram seis anos em Paris, na França. Em nenhum momento ela parou de pintar. Expôs seus quadros, assinando com o nome de Joanna. Fez doutorado em História, na Escola de Altos Estudos da Sorbone, também na França.

De volta ao Brasil, em 1979, Diógenes não resistiu e morreu de ataque cardíaco. Tereza firmou-se como artista plástica de destaque em Pernambuco. Comprou uma casa em Olinda, onde morava e pintava.

Fez mestrado em História na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e trabalhou na Prefeitura de Olinda. Foi diretora do Museu Regional e, por 12 anos, do Museu do Estado de Pernambuco. São Paulo, Rio de Janeiro, Lisboa, Paris e Cuba, entre outros lugares, foram cenário para as exposições da artista.

Frases de Tereza

A artista gostava de pintar animais. Em suas entrevistas, costumava explicar essa paixão. “Sempre que eu trabalho eu boto os bichos porque eu tenho uma relação muito forte com os animais. Eu acho que eu sou mais bicho do que gente".

Tereza também falava sobre a arte figurativa, que era expressiva na sua obra. "A minha pintura é uma pintura figurativa, mas não é acadêmica e nem é panfletária. Eu tenho trabalho sobre Guararapes, sobre Zumbi, sobre Canudos. Como sou historiadora, eu sempre que posso misturo a história com o meu trabalho.”

Sobre o seu perfil, ela dizia: “Eu sou muito realista. Eu sonho muito, mas meu pé não sai do chão. Eu sou de Touro, que é um signo muito da terra.”

Repercussão

Por meio de nota, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), afirmou que o "cenário artístico e cultural de Pernambuco ficou menor com a morte de Tereza Costa Rêgo". Segundo ele, "é impossível dimensionar, em palavras, a importância da sua obra para o nosso estado e para o Brasil".

O gestor destacou os atributos da artista e o seu currículo: "paisagista, doutora em história, militante de esquerda, Tereza era, acima de tudo, uma artista plástica de corpo e alma, que traduzia com beleza e perfeição seus sentimentos nas telas, retratando ali o imaginário popular, nossas lutas libertárias, a força da mulher, paisagens de Olinda e Recife e tantas outras figuras da nossa cultura".

O Bar Savoy, acrílico sobre madeira de Tereza Costa Rêgo — Foto: Reprodução/Tereza Costa Rêgo

O Bar Savoy, acrílico sobre madeira de Tereza Costa Rêgo — Foto: Reprodução/Tereza Costa Rêgo

Câmara disse, ainda, que "sua partida fará uma imensa falta à arte brasileira" e prestou solidariedade aos seus familiares, amigos e admiradores, "neste momento de profundo pesar".

O prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), disse, por meio de nota, que é "irrecuperável a perda de Tereza Costa Rêgo, que nos deixou hoje". O gestor classificou a artista como como "um símbolo de resistência e liberdade e um grande exemplo da força da mulher recifense".

Geraldo lembrou que, em 2019, ela foi homenageada na edição da agenda da Secretaria da Mulher, que a cada ano "celebra uma grande mulher".

"Feliz de poder ter deixado essa pequena homenagem ainda em vida à artista cuja força da obra não deixará morrer o legado. Quero mandar meus mais sinceros sentimentos à família e amigos., disse o texto.

O prefeito de Olinda, Professor Lupércio (SD), também falou sobre a morte de Tereza Costa Rêgo, por meio de nota. O gestor disse que "o talento como artista e paisagista tão bem engrandeceu a cultura de Olinda, onde manteve seu famoso ateliê".

Neta de Tereza, a jornalista Joana Rozowik disse que a artista "era um acontecimento, uma força da natureza. Uma pessoa muito cheia de vida, uma cabeça muito jovem e inquieta". Segundo uma das netas da pintora, fica a saudade do convívio e "dessa voz coerente que ela sempre foi".

Para Joana, a pintora Tereza Costa Rêgo "não acaba, continua". "A grandeza de sua obra, sua contribuição para a arte, a cultura e os costumes de nosso país ficam para o mundo. Agora devemos trabalhar para que seu acervo seja preservado e que mais e mais pessoas tenham acesso a ele", afirmou, por meio de nota.

A morte de Tereza foi lamentada pelo presidente da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), Ricardo Leitão. Por meio de nota, o jornalista disse que “Tereza Costa Rêgo foi uma mulher e uma artista que marcou a sua geração pela liberdade com que ela viveu e a criatividade com que exerceu a sua pintura”.

O presidente da Fundação de Cultura de Pernambuco (Fundarpe), Marcelo Canuto, destacou que "Tereza vai viver eternamente na memória de todos que a conheceram. Não só pelo conjunto de sua obra, política por essência, mas também pelo exemplo de mulher que foi: bem posicionada em relação ao seu tempo, generosa, militante, apaixonada, intensa".

Canuto disse que, antes da pandemia do novo coronavírus, a Fundarpe planejava uma exposição de Tereza para o primeiro semestre deste ano.

"Na época, a visitamos, e depois conversamos em várias oportunidades. Pudemos aproveitar de sua vivacidade e amor pela vida. Pernambuco e o mundo perdem uma das maiores pintoras do século 20. Ficamos com seu exemplo e sua obra, que eternizam o nome de Tereza por esta e pelas próximas gerações", ressaltou.

A secretária de Cultura do Recife, Leda Alves, e o presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Diego Rocha, lamentam o falecimento da artista plástica Tereza Costa Rêgo, “uma das mais ativas e altivas defensoras da arte modernista de Pernambuco e do mundo inteiro”.

“Perdemos hoje uma das maiores artistas do nosso tempo, do século passado e de todos que ainda estão por vir. A força e a importância histórica do seu trabalho legam eternidade à arte pernambucana, nordestina e brasileira”, afirmou o presidente Fundação de Cultura do Recife, Diego Rocha, por meio de nota.

Tereza Costa Rêgo era conhecida pela intensidade nas suas pinturas — Foto: Roberta Rêgo/G1

Tereza Costa Rêgo era conhecida pela intensidade nas suas pinturas — Foto: Roberta Rêgo/G1

Leda Alves, secretária de Cultura do Recife, comentou a morte da artista e a lacuna enorme deixada pela amiga pessoal e de longas datas:

“Tereza deixa um vasto e raro conjunto de pinturas políticas, religiosas e profanas, fêmeas, eróticas e belas, com extraordinárias figuras de mulheres, que sempre contarão a nossa história. Sua morte silencia o vermelho, mas sua obra aguda, que falava de amor e de luta, de liberdade e de revolução, seguirá a denunciar a eternidade do que só Tereza viu, viveu e foi até o derradeiro dia de sua vida”, disse a secretária, também por nota.

"Uma das maiores pintoras desse Brasil, uma mulher apaixonada pela vida. Teve coragem de romper com tantas estruturas, reinventar tantas outras. Apaixonada pelos amigos, pelo amor, pela família. Me acolheu como amigo, como uma pessoa para quem ela teve a confiança de contar sua vida para que eu pudesse escrever a biografia dela", disse o biógrafo Bruno Albertim.

"Uma artista imensa, intensa. Uma arte muito forte. Uma artista do vermelho, muito visceral. Era tudo muito carne e alma", relatou a artista plástica Dani Acioli.

A diretora do Museu do Estado, Margot Monteiro, também homenageou Tereza. "Uma grande artista, grande mulher, grande lutadora que marcou, com sua presença, não só com seu trabalho de arte, mas com suas ideias sociais, politicas, com a força de uma mulher pernambucana", disse.

"Tereza Costa Rêgo é e sempre será a voz maior da beleza e da sensibilidade feminina da arte de Pernambuco e do Brasil", afirmou o curador Marcus Lontra.

Fonte: G1